18 de dezembro de 2011

Simeão e o Menino


Dizem que Simão, o velho Simeão, homem justo e temente a Deus, mencionado no Evangelho de Lucas, após saldar Jesus criança, no templo de Jerusalém, conservou-o nos braços acolhedores de velho, a distância de José e Maria, e dirigiu-lhe a palavra, co discreta emoção:
- Celeste menino – perguntou o patriarca –, por que preferiste a palha humilde da manjedoura? Já que vem representar os interesses do Eterno Senhor da Terra, como não vestiste a púrpura imperial? Como não nascestes ao lado de Augustus, o divino, para defender o flagelado povo de Israel? Longe dos senhores romanos, como advogarás a causa dos humildes e dos justos? Por que não viestes ao pé daqueles que vestem a toga dos magistrados? Então poderias ombrear com os patrícios ilustres, movimentar-se-ias entre legionários e tribuno, gladiadores e pretoriano, atendendo-nos à libertação... Por que não chagaste, como Moisés, valendo-se do prestígio do faraó? Quem te preparará, Embaixador Eterno, para o ministério santo? Que era de ti, sem lugar no Sinédrio? Samuel mobilizou a força contra os filisteus, preservando-nos a superioridade; Saul guerreou até a morte, por manter-nos a dominação; David estimava o fausto do poder; Salomão, prestigiado por casamento de significação política, viveu para administrar os bens enormes que lhe cabiam no mundo... Mas... tu? Não te ligaste aos príncipes, nem aos juízes, nem aos sacerdotes... Não encontrarás outro lugar, além do estábulo singelo?!
Jesus menino escutou-o, mostrou-lhe sublime sorriso, mas o ancião, tomado de angústia, contemplou-o, mais detidamente, e continuou:
- Onde representarás os interesses do Supremo Senhor? Escreverás novos livros da sabedoria? Improvisarás discursos que obscureçam os grandes oradores de Atenas e Roma? Amontoarás dinheiro suficiente para redimir os que sofrem? Erguerás novo templo de pedra, onde o rico e o pobre aprendam a ser filhos de Deus? Ordenarás a execução da lei, decretando medidas que obriguem a transformação imediata de Israel?
Depois de longo intervalo, indagou em lágrimas:
- Dize-me, ó Divina Criança, onde representarás os interesses de nosso Supremo Pai?
O menino tenro ergueu, então, a pequenina destra e bateu, muitas vezes, naquele peito envelhecido que se inclinava para o sepulcro...
Nesse instante, aproximou-se Maria e o recolheu nos braços maternos. Somente após a morte do corpo, Simeão veio a saber que o Menino Celeste não o deixara sem resposta.
O Infante Sublime, o gesto silencioso, quisera dizer que não vinha representar os interesses do Céu nas organizações respeitáveis mas efêmeras da Terra. Vinha da Casa do Pai justamente para representá-lo no coração dos homens.


Pelo Espírito de Emmanuel – Antologia Mediúnica do Natal

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