27 de fevereiro de 2012

O servidor negligente





       À porta de grande carpintaria, chegou um rapaz, de caixa às costas, à procura de emprego.
       Parecia humilde e educado.
       O diretor da instituição compareceu, aten­cioso, para atendê-lo.
       — Tem serviço com que me possa favore­cer? — indagou o jovem, respeitoso, depois das saudações habituais.
       — As tarefas são muitas — elucidou o chefe.
       — Oh! por favor! — tornou o interessa­do — meus velhos pais necessitam de amparo. Tenho batido, em vão, à porta de várias oficinas. Ninguém me socorre. Contentar-me-ei com sa­lário reduzido e aceitarei o horário que desejar.
O  diretor, muito calmo, acentuou:
— Trabalho não falta...
E, enquanto o candidato mostrava um sor­riso de esperança, acrescentou:
— Traz suas ferramentas em ordem?
— Perfeitamente — respondeu o interpe­lado.
— Vejamo-las.
O moço abriu a caixa que trazia. Metia pena reparar-lhe os instrumentos.
A enxó se achava deformada pela ferrugem grossa.
O  serrote mostrava vários dentes quebrados.
O  martelo tinha cabo incompleto.
O  alicate estava francamente desconjuntado.
Diversos formões não atenderiam a qualquer apelo de serviço, tal a imperfeição que apresentavam seus gumes.
Poeira espessa recobria todos os objetos.
O  dirigente da oficina observou... obser­vou... e disse, desencantado:
— Para o senhor, não temos qualquer tra­balho.
— Oh! porquê? — interrogou o rapaz, em tom de súplica.
O  diretor esclareceu, sem azedume:
— Se o senhor não tem cuidado com as fer­ramentas que lhe pertencem, como preservará nossas máquinas? se é indiferente naquilo em que deve sentir-se honrado, chegará a ser útil aos interesses alheios? quem não zela atentamente no “pouco” de que dispõe, não é digno de receber o “muito”. Aprenda a cuidar das coisas aparentemente sem importância. Pelas amostras, grandes negócios se realizam neste mundo e o menosprezo para consigo é indese­jável mostruário de sua indiferença perniciosa. Aproveite a experiência e volte mais tarde.
Não valeram petitórios do moço necessitado. Foi compelido a retirar-se, em grande abatimento, guardando a dura lição.
Assim também acontece no caminho comum.
Quem deseja o corpo iluminado e glorioso na espiritualidade, além da morte, cuide respeitosamente do corpo físico.
Quem aspira à companhia dos anjos, mostre boas maneiras, boas palavras e boas ações aos vizinhos.
Quem espera a colheita de alegrias no fu­turo, aproveite a hora presente, na sementeira do bem.
E quantos sonharem com o Céu tratem de fazer um caminho de elevação na Terra mesma.

Livro: Alvorada Cristã-Neio Lucio-Chico Xavier.

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