15 de maio de 2012

Parábola do amigo importuno




 “Qualquer de vós que tenha um amigo e vá procurá-lo à meia noite e lhe diga: empresta-me três pães, porque um amigo meu acaba de chegar a minha casa de uma viagem e nada tenho para lhe oferecer; se do interior o outro lhe responder: não me  incomodes,  a  porta  já  está  fechada,  eu  e  meus  filhos estamos deitados, não posso levantar-me para tos dar; se perseverar em bater, embora  ele  não  se  levante  para  lhes  dar  por  ser  seu  amigo,  ao  menos  por causa da importunação se levantará e lhe dará quantos pães precisar.

Portanto eu vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á.  Pois todo o que pede, recebe; o  que  busca,  acha;  e  ao  que  bate, abrir-se-lhe-á.

Qual de vós  é  o  pai,  que,  se  o  filho  pedir  um  peixe,  lhe  dará  em  vez  de peixe uma serpente? Ou se pedir um ovo, lhe dará um escorpião?

Ora, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celestial dará um bom espírito aos que lho pedirem?”(Lucas, 11:5-13)

Confortadora parábola!  O caráter amoroso  e  paternal  de  Deus  é  aí  retratado por Jesus, de forma eloqüente, num contraste gritante com as concepções de até então, em que a divindade mais se parecia. a um déspota cruel, irritadiço, sempre disposto a castigar e a destruir.

Principia  fazendo-nos  compreender  que,  aqui  mesmo  na  Terra,  se recorrermos  a  um  amigo  quando  tenhamos  necessidade  de  um  favor, haveremos de o conseguir.

Pode esse amigo não nos valer imediatamente, de boa vontade,  pode  até  relutar  em  atender  à  nossa  solicitação,  mas,  se instarmos  com  ele,  ainda  que  seja  para  ver-se  livre  de  nossa  importunação, acabará  cedendo.  Pois se desconhecidos, ou  mesmo  adversários,  quando pedem com tato e insistência, muitas e muitas vezes são atendidos, como não o seriam aqueles que gozam da simpatia. e amizade do solicitado?

Se em vez de apelarmos  para  um  amigo,  o  fizermos  para  o  nosso  pai, maior ainda será a certeza do atendimento. Sim, ainda que seja um filho mau e ingrato, cometa. Erros sobre erros, envergonhe a família com seus desvarios, ou  abandone  a  casa  para  entregar-se  mais  livremente  às  suas  perversões, nem  por  isso  o  pai  deixará  de  correr  ao  seu  encontro,  tão  logo  o  saiba arrependido  e  em  sofrimento,  para  lhe  dar  tudo  o  de  que  necessite,  antes mesmo que ele lhe exponha sua miséria.

Ora, segundo o  ensino  claro  e  insofismável  da  parábola,  Deus  é infinitamente  mais  solícito  para  com  Suas  criaturas  do  que  o  melhor  dos amigos e o mais afeiçoado dos progenitores; assim, pois, qualquer que seja o grau  de  nossa  imperfeição,  de  nossa  indigência  moral,  se  Lhe  dirigirmos  o nosso  apelo,  em  prece  sincera  e  quente,  quando  precisados  de  Seu  auxílio, podemos estar certíssimos de que o socorro da Providência não nos faltará.

Não se suponha, entretanto, que basta pedir seja o que for, para que Deus aceda prontamente. Não. Ele sabe, melhor do que nós, aquilo que nos convém, o  que  é  necessário  ao  nosso  progresso  espiritual,  e  é  em  função  desse interesse mais alto que atende ou deixa de atender às nossas súplicas.

Tal qual um pai sensato que recusa ao filho o que possa prejudicá-lo, ou um cirurgião que deixa o doente sofrer as dores de uma operação que lhe trará a cura, assim Deus nos deixará sofrer, sempre que o  sofrimento  seja  de proveito  para  a  nossa  felicidade  futura.  O que Ele nunca deixa de conceder, quando lhe pedimos, é a coragem,  a  paciência  e  a  resignação  para  bem suportarmos os transes mais difíceis da existência, o que já não é pouco, pois nossas dores, então, doerão menos; é o amparo e a proteção dos nossos anjos de guarda a fim de sustentar-nos as boas resoluções e preservar-nos de novas quedas, se de fato estivermos desejosos de volver ao caminho reto.

Essa parábola encerra,  ainda,  um  solene  desmentido  aos  que  doutrinam que  somente  os  demônios,  ou  espíritos  imundos,  é  que  podem  manifestar-se aos homens,  no Espiritismo ou fora dele, com poderes de simular o bem para melhor seduzi-los, pervertê-los e levá-los à perdição.

Em contraposição aos que afirmam tal heresia, admitindo que  Deus  só permita intervenções demoníacas, vedando ao mesmo tempo toda e qualquer manifestação  de  entidades  bondosas,  numa  clamorosa  parcialidade  em  proveito do mal, aí estão as palavras do Mestre, a esclarecer-nos que se um pai é incapaz de dar uma serpente ao filho que lhe peça um peixe, Deus, nosso Pai celestial,  não  poderia  trair  nossa  fé  e  confiança  n’Ele,  dando-nos  um espírito maligno quando lhe pedimos a assistência de um espírito bom.

Fonte: Livro Parábolas Evangélicas/Rodolfo Calligaris

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