13 de agosto de 2012

Entrevista do Mês com André Ariovaldo:

 O Conexão Espírita deste mês tem a satisfação de entrevistar  André Ariovaldo.
O nosso entrevistado assumiu os primeiros compromissos na Doutrina aos 10 anos em atividades artísticas (Teatro). Aos 18 anos, tornou-se dirigente da mocidade do Centro Espírita Fé em Deus, na cidade de Sorocaba/SP, função que assumiu durante quatro anos. Neste período, desenvolveu técnicas novas na aplicação dos estudos, como dinâmicas de grupo (algumas de autoria própria), encontros de mocidades espíritas, eventos, passeios e visitas, cujo foco era gerar interação entre os jovens, enriquecer vínculos de amizade e fortalecimento da união do grupo. Iniciou suas palestras com 20 anos,é médium, orador, escritor, artista e líder, desenvolve atualmente diversas atividades no movimento espírita entre elas o tão conhecido“Dinâmica Espírita”. Nessa entrevista,o nosso amigo responde e tira nossas dúvidas em relação alguns temas pertinentes a nossa doutrina. Confiram agora na integra toda a entrevista:






CE-Você nasceu em um lar espírita, e desde os 10 anos tem sido um bom servidor em pró da nossa doutrina. Desta maneira lhe pergunto é mais fácil ser espírita tendo pais espíritas?

AA-Meu bisavô era espírita e desde essa época o Espiritismo já faz parte de nossa família. Mas dizer-se espírita não é o mesmo que praticar o Espiritismo. Sem dúvidas há favorecimento quando encarnamos em um meio espírita, pois desde pequeno ouvimos comentários, opiniões e ações em torno da Doutrina, mas isso não nos impede de cometermos deslizes. Embora eu sempre tenha sido espírita, trabalhado com o Espiritismo desde os meus 7 anos de idade, mais ou menos, em atividades artísticas (teatro, coral, etc.), saí por muito tempo da minha rota, desvirtuando-me radicalmente. No entanto, graças ao Espiritismo, por mais fora do caminho correto que estivesse jamais deixei de acreditar na bondade dos bons Espíritos e com o apoio da família e da minha fé espírita, fui capaz de dar a volta por cima e aqui estou hoje, firme novamente. Sim, há favorecimento quando se nasce em lar espírita, mas não basta levantar a bandeira exterior, é necessário ser espírita de coração. Existem aqueles que não nasceram em lares espíritas, mas que se tornam muito melhores do que nós, que já o somos desde gerações passadas.

CE-Fale um pouco do seu programa Dinâmica Espírita?

AA-O dinâmica é um programa que surgiu sem nenhum planejamento. Começamos despretensiosamente a realizar algumas exposições pela internet e a ideia foi bem aceita e acabou por fixar-se, chamando a atenção da TVCEI (TV do Conselho
Internacional de Espiritismo) transmitido em mais de 32 países. Os temas abordados no dinâmica espírita são exclusivamente espíritas (pois há muitos programas espíritas que não falam de espiritismo, mas de espiritualismo) e por ser ao vivo, abre espaço à participação das pessoas que enviam perguntas para o nosso e-mail.

CE-Qual deve ser o principal papel de uma Casa Espírita?

AA-Esclarecer o Espiritismo tal qual foi apresentado por Allan Kardec, mas sabendo respeitar o nível intelectual e moral das pessoas. Existem atualmente dois extremos que tem gerado resultados um tanto insatisfatórios em torno do Espiritismo: o primeiro é aquele que despreza Kardec, o que chamamos de Espiritismo Místico ou à Moda da Casa, o segundo é aquele que radicaliza a Codificação, aplicando Kardec, mas sem caridade, ou seja, “enfiando Kardec goela abaixo”. O primeiro mistifica o Espiritismo; o segundo congela o Espiritismo. É imprescindível adotar Allan Kardec e ensinar Espiritismo de acordo com Kardec, mas para que o efeito proposto pela Codificação que é o de esclarecer e consolar, seja atingido, devemos aprender a agir com flexibilidade e indulgência, sabendo ouvir as necessidades das pessoas que se aproximam da casa espírita e procurar meios bondosos de atender a tais necessidades ou então apresentar alternativas que possam ser seguidas.

CE-Todas as Casas Espíritas têm de fato proteção contra os espíritos inferiores?

AA-Os Espíritos se atraem ou se repelem de acordo com nosso caráter e não pelo local onde nos encontramos. Se o caráter das pessoas que frequentam a instituição for bom, então os bons Espíritos estarão presentes; se for mal, então a assistência dos bons será repelida pela própria condição emocional e mental daqueles que frequentam a casa. Se assim não o fosse, não haveria razão para Allan Kardec sugerir constantemente a análise das comunicações que recebemos nas casas espíritas, a fim de evitar sermos enganados pelos maus Espíritos. Se bastasse estar dentro de um centro espírita para que os maus espíritos fossem afastados, então essa análise seria algo simplesmente dispensável e sem necessidade. O centro espírita é feito de tijolos. A presença dos bons Espíritos não se dá pela placa que indica uma instituição espírita, mas pelas intenções daqueles que dirigem e frequentam esta instituição.
  
CE-O que acontece com uma Casa Espírita tendo como dirigentes pessoas prepotentes e orgulhosas?

AA-São assistidos por Espíritos afins, orgulhosos e prepotentes como elas. Infelizmente são mais comuns do que se pensa. Ver O Livro dos Espíritos, pergunta 459.
  
CE-Por que o tema “Invocações” se tornou quase assunto proibido nas Casas Espíritas, mesmo tendo o aval de Kardec nos Livros dos Médiuns?

AA-Porque a ignorância em torno do assunto hoje fala mais alto e também porque grande parte do movimento espírita não tem mais Allan Kardec como referência em Espiritismo. Os “líderes” do Espiritismo hoje são outros, ou seja, o movimento espírita atual acredita mais neste ou naquele autor espiritual, do que na Codificação, e com isso, assuntos como Evocação de Espíritos acabam por se tornar algo assustador, perigoso, mal aceito. Por isso a importância do estudo da Codificação. Podemos e devemos ler de tudo, mas em se tratando de Espiritismo, não se deve reinventar a roda. Temos uma base e deveríamos segui-la.

CE-Temos visto muitos espíritas recomendar abrir O Evangelho Segundo o Espiritismo, para tudo. Por exemplo: Tá com dor de cabeça?Não se sente bem? Sente-se aflito? Tá com um problema sério?Leia o ESE! Isso realmente tem ou faz sentido? Não seria isso um tipo de ritual?

AA-Para algumas pode funcionar, mas não quer dizer que funcione para todas. Da mesma forma que se diz que tudo é obsessão ou mediunidade, quando não se tem resposta para um problema, também usam deste método de aplicar o evangelho para qualquer situação que não saibam auxiliar na resolução. É ainda uma tentativa de moralizar, como se o outro estivesse desmoralizado e por isso estivesse sofrendo. Em alguns casos, a leitura do Evangelho é um bálsamo que alivia as angústias e dificuldades, mas em outros, simplesmente não se enquadra, pois não é de Evangelho que a pessoa precisa. As vezes ela precisa de um remédio ou de alguém que a ouça para desabafar, etc. Para isso, é preciso ter o mínimo de tino psicológico para saber ajudar. Não basta a boa vontade, é preciso saber fazer.

CE-Um passe aplicado por uma pessoa, orgulhosa, egoísta, maldizente, intrigante e arrogante tem alguma eficaz no seu receptor?

AA-Sim, desde que o receptor deseje sinceramente melhorar, mas aí nem sempre terá sido o magnetismo do aplicador, mas o dos Espíritos que estejam assistindo à aplicação magnética. Todos nós temos um pouco (ou muito) destas emoções em nós e se formos esperar removê-las por completo, antes de fazermos alguma coisa, talvez nunca façamos nada. Mas se a pessoa que aplica o passe não se esforça para melhorar e se alimenta destas emoções negativas, então os Espíritos podem isolar as suas energias a fim de que não sejam absorvidas pelo receptor, ou então “dar um jeitinho” de afastar essa pessoa, como uma laranja estragada é retirada de um saco a fim de não danificar as demais.

CE-Deve-se aplicar passes mediunizado?

AA-Allan Kardec, na Gênese, cap. 14 (dos fluidos), fala sobre as curas. Neste ponto ele afirma que existem 3 formas de magnetismo:
1. Espiritual
2. Misto
3. Animal
· O magnetismo espiritual é aquele aplicado diretamente pelo espírito, sem intermediário, ou seja, sem um passista/magnetizador.
· O misto, é aquele onde a energia magnética do médium é intensificada pela do Espírito.
· O animal ou humano é aquele onde não há a interferência de um Espírito, mas somente do magnetizador que tira de si as energias que deverão processar a cura.
· Em relação ao magnetismo misto, é uma espécie de ação mediúnica, pois o encarnado faz uma ponte entre o Espírito e o receptor. Assim, tudo depende do que esteja acontecendo e qual seja o objetivo.

CE-Qual deve ser o procedimento de um dirigente com médiuns e passistas que dizem não precisa fazer novos cursos para se atualizarem, pois já sabem de tudo?

AA-Afastá-los das tarefas.

CE-É certo entregar sopas e cestas básicas para nossos irmãos carentes e exigir deles que para recebe devem assistir as reuniões publicas?

AA- Se não exigirmos deles algo em troca, que valor eles darão ao que estão recebendo? Estaremos fazendo assistencialismo somente, mas não estaremos gerando resultados. Mas não quer dizer que devemos obrigar a isso ou a aquilo. Devemos oferecer algumas alternativas, por exemplo: eles podem escolher se querem participar de palestras espíritas, ou então de um curso de bordado, ou então ajudar na própria entrega, limpar alguma coisa, levar os filhos em reuniões de moralização (não necessariamente espírita, mas social e cívica), etc. Deve ser uma troca. Isso fará com que aquele que recebe dê também algo de si e isso ajudará a valorizar o que está recebendo, além de ser menos humilhante, pois estão fazendo por merecer. Mas impor isso ou aquilo é agredir a consciência de uns ou outros, principalmente se não são espíritas.

CE-O que dizer de uma Reunião de Desobsessão, onde não existe comunicação com o mentor espiritual?

AA-Tudo depende da intenção em torno da atividade. Se uma atividade mediúnica somente trata com Espíritos infelizes e nunca há a comunicação dos bons Espíritos a fim de transmitirem instruções sobre esse ou aquele ponto, então há sim algo de errado, mas não quer dizer que seja uma obrigação receber comunicação dos bons espíritos em todas as reuniões.
  
CE-Qual a diferença de uma Reunião de Desobsessão de uma de Desenvolvimento Mediúnico?

AA-Desobsessão visa auxiliar o Espírito desencarnado a reconhecer a necessidade de mudança e ao encarnado a libertar-se da má influência. Desenvolvimento mediúnico é para sempre, pois a mediunidade está em constante aprimoramento. Aquele que acha que já chegou deixa de avançar. Mas vulgarmente se diz “Desenvolvimento Mediúnico” a um grupo cuja intenção seja obter comunicações e formar novos médiuns.

CE-É coerente ter na Casa Espírita as duas reuniões?

AA-Sim, desde que sejam bem orientadas e baseadas em Allan Kardec, a fim de se evitar o misticismo em torno da mediunidade.

CE-Qual a diferença da mediunidade missionária da natural?

AA-Comprometimento com o próximo, mais que consigo mesmo.

CE-Todos aqueles que sofrem mais ou menos uma espécie de obsessão pode ser considerado médium?

AA-Mediunidade só ocorre quando há comunicação de qualquer espécie entre um plano e outro. A obsessão está presente em médiuns ostensivos, assim como naqueles cuja mediunidade não se manifesta. Não é por ser médium que será mais obsedado, mas pelo caráter pessoal que atrai esse ou aquele gênero de Espírito e que permite a sua influenciação.

CE-Uma pessoa que nunca sentiu uma influencia ou algo “sobrenatural” pode desenvolver a mediunidade?

AA-Sim, naturalmente.

CE-Por que algumas Casas Espíritas dão tanto valor para os estudos e palestras sobre a mediunidade e esquecem os outros temas, Por exemplo: Evangelização Infantil?

AA-Não existe assunto mais importante do que outro. Uma casa que se dedica ao estudo da mediunidade mais do que outros temas, pode ser muito útil neste setor. Outra pode se dedicar ao estudo do Evangelho, outra à Evangelização Infantil. O movimento espírita só tem a se favorecer quando as casas espíritas se dedicam ao estudo do Espiritismo, seja neste ou naquele assunto, ou seja em todos, pois não é uma ou outra casa que formam o movimento, mas a união das casas e das pessoas. Assim, se uma estuda a mediunidade e outra se aplica à Evangelização Infantil, na união de ambas, possuímos um movimento que se completa. É essa união que deve ser nossa maior aplicação.
  
CE-Pessoas que estão a mais de 20 anos na casa espírita, participam de estudos, mas não podem ouvir a palavra espíritos que morrem de medos. O que pensar e dizer de pessoas assim?

AA-Jesus ensina: “Ouvireis com os ouvidos e não entendereis”. Muitas vezes isso se dá por falhas de comunicação. Da parte dos instrutores que não estudam corretamente e dão opiniões particulares e as vezes equivocadas sobre esse ou aquele assunto e também da parte dos receptores que não prestam atenção nas explicações que estão recebendo, pois acham que já sabem e não tem mais o que aprender. Aí é natural que o aprendizado sofra essas consequências.
  
CE-O que é Transição Planetária? Podemos dizer que estamos passando por ela neste momento?

AA-Transição Planetária, segundo consta, é o período de modificação social que o planeta está passando.

CE-Hoje percebemos que a sexualidade, erotismo e a violência tomam conta das crianças e adolescentes com muita facilidade. Isso seria devido à falência do lar, ou são consequências da transição que estamos passando?

AA-Isto sempre existiu, mas como atualmente as informações chegam com muita facilidade, temos essa percepção de extravagância em torno destes assuntos. Mas isso sempre esteve no coração das pessoas, é que hoje o acesso a isso, sendo mais fácil, é natural que vejamos mais pessoas, incluindo crianças, envolvidas com esses materiais.

CE-As obras de Francisco Candido Xavier é uma espécie de continuidade da Codificação Kardequiana?

AA-O Espiritismo não acabou em Allan Kardec, é uma doutrina progressista, conforme o afirmava o próprio Codificador. No entanto, o que devemos considerar é que não é porque um Espírito disse isso ou aquilo, que devemos encarar isso como verdade. É esse o engano que cometemos, quando admitimos verdades absolutas em torno do pensamento de Espíritos respeitáveis, mas sujeitos a análise, como André Luiz e Emmanuel. São obras positivas, importantes e envolventes, mas sujeitas a análise, assim como tudo o que vem dos Espíritos.

CE-Qual a sua opinião a respeito de ter sido Chico Xavier em uma de suas existências, o Codificador Allan Kardec?

AA-Allan Kardec comenta várias vezes, na Revista Espírita, informação contida também em Obras Póstumas, sobre nova reencarnação, depois daquela, que segundo ele se daria no início do século passado. Se isso aconteceu, conforme o Espírito de Verdade afirmou que aconteceria a Kardec, então não vejo outra pessoa senão Chico Xavier. Como Kardec, atuou sobre a razão da Humanidade; como Chico Xavier, atuou sobre a emoção. Comento isso, partindo da premissa de que Allan Kardec reencarnou, segundo as afirmações dos Espíritos e dele mesmo, à sua época.

CE-Qual a importância de ambos no movimento espírita?

AA-Allan Kardec demonstrou a ciência Espírita, Chico Xavier, sua aplicação moral. Ambos, a meu ver, embora em papeis diferentes, são fundamentais à visão do Espiritismo sobre o mundo.

CE-De que forma você gostaria de vivenciar e encontrar o movimento espírita daqui a 50 anos?

AA-Mais centralizado na Codificação, mais unido e principalmente, mais caridoso.


Planeta Terra: Escola
Centro Espírita: Local para espiritualizar e espiritizar nossa consciência
Mediunidade: Compromisso com o próximo
Família:Onde caem as nossas máscaras
Felicidade: Consequência de nossos atos
Coerência Doutrinária: Flexibilidade, respeito ao próximo e estudo de Kardec
Futuro: Não existe
Um Escritor:Richard Bach
Um Livro: Ilusões (As aventuras de um messias indeciso) e O Livro dos Espíritos
Uma Canção: Loteria de Babilônia (Raul Seixas)
Uma Frase: Só vejo em você o que tenho em meu coração
Um autor Espírita:Kardec
André Ariovaldo por André Ariovaldo: 
Audacioso, fiel ao Espiritismo e orelhudo
Suas considerações finais: O Espiritismo é hoje uma das Doutrinas que mais crescem em nossa Sociedade. A responsabilidade que temos perante a Doutrina é a de esclarecer corretamente aqueles que estão chegando ao Espiritismo, vindos de outras religiões, a fim de apresentar-hes não uma doutrina mística, mas uma doutrina coerente, lógica e eficaz. O Estudo do Espiritismo e sua justa interpretação são ferramentas indispensáveis que devemos utilizar em benefício das pessoas e em nosso próprio benefício.

CE-Desde já lhe agradeço pela entrevista e colaboração com a nossa coluna.
Muito Obrigado! Que Deus te ilumine as idéias sempre!

AA-Valeu!


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Entrevista realizada no mês de Julho.
Por:Regih Silva.
Colaboração:Paula Souza.
Imagens: Google.
Montagens de imagens:Regih Silva.
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