Ambos os personagens históricos usaram o raciocínio em suas áreas.
Albert
Einstein nasceu em Ulm, pequena cidade ao sul da Alemanha, em 14 de
março de 1879, dez anos após o desencarne de Allan Kardec.
Desencarnou em 18 de abril de 1955, no dia em que comemoramos 98 anos do lançamento de O Livro dos Espíritos.
Segundo
os historiadores, quando criança sofreu muito com as constantes
mudanças de cidade e com as falências das empresas do seu pai. Enfrentou
o autoritarismo da escola alemã e os preconceitos raciais tão intensos
naquela época. Para a Matemática e as Ciências Naturais, ele era mais do
que bem-dotado, possuidor de grande intuição e habilidade lógica;
porém, para as disciplinas que exigiam capacidade de memória era um
fracasso! Seus familiares acreditavam até que ele possuía algum tipo de
dislexia.
Provavelmente,
essa dislexia foi providencial, pois se um espírito dotado da evolução
espiritual de Albert Einstein dispusesse de um cérebro sem nenhum
impedimento, poderia resgatar lembranças de sua vida passada, as quais
provavelmente atrapalhariam a sua missão no campo da Ciência, pois
reacenderia de uma forma muito mais intensa a sua paixão pelo
transcendente, com o qual, certamente, esteve envolvido toda uma vida no
passado. Essa deficiência na capacidade de memorização foi superada
pela intuição, a qual possuía bastante desenvolvida.
Um
espírito dessa envergadura geralmente renasce em lugares cuja cultura e
costumes contribuam para que não haja uma associação com a cultura e
com os cenários da vida pregressa, ficando assim livre de influências
que acentuariam suas tendências, as quais poderiam levá-lo a se envolver
com as mesmas questões a que se dedicou no passado.
Prêmio
Nobel de Física em 1921, fugindo da Alemanha nazista, chega aos EUA em
17 de outubro de 1933, época em que se interessa por três temas: teoria
da relatividade geral, teoria do campo unificado e fundamentos da
mecânica quântica.
Alan
Whyte e Peter Daniels, autores do livro O FBI e Albert Einstein,
publicado em 2002, baseado em um dossiê secreto do FBI, revelam uma
campanha de 22 anos de espionagem e calúnias do FBI contra Albert
Einstein.
Segundo
esse dossiê, sua vida esteve constantemente sob a vigilância do FBI,
que não queria que o mesmo viesse conquistar popularidade entre os
norte-americanos, pois suas idéias pacifistas, anti-raciais e humanistas
não se enquadravam à política adotada pelo governo americano.
O
esforço para denegrir a imagem do sábio cientista foi muito acirrado; o
fracasso do seu primeiro casamento contribuiu para que lhe atribuíssem
atos e afirmações que não condiziam com a sua conduta e com o seu
caráter.
Temos
de considerar que na história dos grandes homens sempre surgiram boatos
construídos nos celeiros da inveja e da vaidade humana, prática comum
aos adversários do sucesso alheio. Também é muito comum a construção do
mito por parte dos apaixonados.
Todavia,
biógrafos como Abraham Pais (que privou da sua amizade), Gerald Holton,
Jürgen Renn, Robert Schulmann e Phillip Frank constituem fontes
fidedignas, a partir das quais podemos repor a verdade histórica.
Seu
suposto envolvimento com a bomba nuclear foi uma das maiores
controvérsias geradas pela imprensa para denegrir a imagem desse
maravilhoso homem de ciência.
Sua
participação na construção da bomba nuclear se iguala à dos filósofos
da antigüidade que falavam da existência do átomo e também se iguala à
dos cientistas do início do século XIX, que estabeleceram as leis do
eletromagnetismo, fundamentais para o estudo das interações nucleares.
Poucos
se ocuparam de estudar Einstein o Homem, cujo exemplo traz à baila um
trabalho, talvez mais importante do que o de Einstein o Cientista. Sua
fé raciocinada revelou durante toda a sua vida uma religiosidade genuína
e uma integração cósmica com a realidade que transcende a diminuta
realidade em que vivemos, por isso afirmou:
“Existe
uma coisa que a longa existência me ensinou: toda a nossa ciência,
comparada à realidade, é primitiva e inocente; e, portanto, é o que
temos de mais valioso.”
Embora
sua origem, não se prendeu à ortodoxia judaica. Sua visão de realidade
ampliada lhe permitiu enxergar e reconhecer os valores filosóficos e
científicos contidos nos conceitos cristãos, levando-o a afirmar:
“Os
mais elevados princípios para nossas aspirações e juízos nos são dados
pela tradição religiosa judaico-cristã. Trata-se de uma meta muito
elevada que, com nossos parcos poderes, só podemos atingir de maneira
muito insatisfatória, mas que dá um sólido fundamento às nossas
aspirações e avaliações. Se quiséssemos tirar essa meta de sua forma
religiosa e considerar apenas seu aspecto puramente humano, talvez
pudéssemos formulá-la assim: desenvolvimento livre e responsável do
indivíduo, de modo que ele possa por suas capacidades, com liberdade e
alegria, se colocar a serviço de toda a humanidade.”
Percebe-se
na vida desse extraordinário cientista uma preocupação com os valores
do espírito, levando-o a um esforço muito grande para aproximar a
Ciência da Religião:
“Ora,
ainda que os âmbitos da Religião e da Ciência sejam em si claramente
separados um do outro, existem entre os dois fortes relações recíprocas e
dependências.
“Embora
possa ser ela o que determina a meta, a Religião aprendeu com a
Ciência, no sentido mais amplo, que meios poderão contribuir para que se
alcancem as metas que ela estabeleceu. A Ciência, porém, só pode ser
criada por quem esteja plenamente imbuído da aspiração da verdade e do
entendimento. A fonte desse sentimento, no entanto, brota na esfera da
Religião. A esta se liga também a fé na possibilidade de que as
regulações válidas para o mundo da existência sejam racionais, isto é,
compreensíveis à razão. Não posso conceber um autêntico cientista sem
essa fé profunda. A situação pode ser expressa por uma imagem: a ciência
sem religião é aleijada, a religião sem ciência é cega.”
“Um
conflito surge, por exemplo, quando uma comunidade religiosa insiste na
absoluta veracidade de todos os relatos registrados na Bíblia. Isso
significa uma intervenção da religião na esfera da ciência; é aí que se
insere a luta da Igreja contra as doutrinas de Galileu e Darwin. Por
outro lado, representantes da Ciência têm constantemente tentado chegar a
juízos fundamentais com respeito a valores e fins com base no método
científico, pondo-se assim em oposição à Religião. Todos esses conflitos
nasceram de erros fatais.
“Se
um dos objetivos da Religião é libertar a humanidade, tanto quanto
possível, da servidão dos anseios, desejos e temores egocêntricos, o
raciocínio científico pode ajudar a Religião em mais de um sentido.”
Percebe-se
claramente em seus conceitos uma profunda preocupação em dilatar as
fronteiras da Fé e da Ciência, procurando despertar em ambas uma visão
em torno do que transcende às acanhadas fronteiras estabelecidas pela vã
cultura humana.
Sua
transcendência lhe permitia uma integração prática com a realidade
cósmica, demonstrando um grau bastante elevado de espiritualidade; isso
fica patente quando afirma:
“Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade se me revela.”
Essa característica se consolida quando se refere aos companheiros que se aventuraram a transpor essas limitadas fronteiras:
“É
nessa busca da unificação racional do múltiplo (aqui se refere ao
transcendente) que a Ciência logra seus maiores êxitos, embora seja
precisamente essa tentativa que a faz correr os maiores riscos de se
tornar uma presa das ilusões. Mas todo aquele que experimentou
intensamente os avanços bem-sucedidos feitos nesse domínio é movido por
uma profunda reverência pela racionalidade que se manifesta na
existência. Através da compreensão, ele conquista uma emancipação de
amplas conseqüências dos grilhões das esperanças e desejos pessoais,
atingindo, assim, uma atitude mental de humildade perante a grandeza da
razão que se encarna na existência e que, em seus recônditos mais
profundos, é inacessível ao homem. Essa atitude, contudo, parece-me ser
religiosa, no mais elevado sentido da palavra. A meu ver, portanto, a
Ciência não só purifica o impulso religioso do entulho de seu
antropomorfismo, como contribui para uma espiritualização religiosa de
nossa compreensão da vida.”
O
interessante é que nas observações e conceitos desse gênio da ciência
surge uma incrível semelhança com os conceitos espíritas. Dá-nos a
impressão de que ele os conhecia, ao menos de forma intuitiva. Suas
afirmações e a sua visão de mundo são muito parecidas até mesmo na forma
com que desenvolve os seus pensamentos.
Vejamos alguns dos pensamentos de Einstein e de Kardec sobre a fé:
Kardec: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.”
Einstein:
“Pois uma doutrina que não é capaz de se sustentar à “plena luz”, mas
apenas na escuridão, está fadada a perder sua influência sobre a
humanidade, com incalculável prejuízo para o progresso humano.”
A
linha de raciocínio seguida pelo pensamento de ambos é algo realmente
surpreendente, principalmente pelo fato de exercerem atividades em
campos diferentes.
Vejamos o pensamento desenvolvido por ambos sobre como reconhecer um criador:
Kardec:
“Lançando o olhar em torno de si, sobre as obras da Natureza, notando a
providência, a sabedoria, a harmonia que presidem a essas obras,
reconhece o observador não haver nenhuma que não ultrapasse os limites
da mais portentosa inteligência humana. Ora, desde que o homem não as
pode produzir, é que elas são produto de uma inteligência superior à
Humanidade, a menos se sustente que há efeitos sem causa.”
Einstein:
“A religiosidade de um sábio consiste em espantar-se e extasiar-se
diante da harmonia das leis da natureza, revelando uma inteligência tão
superior que, todos os pensamentos humanos e todo seu talento, não podem
desvendar. Esse sentimento desenvolve a regra dominante da sua vida, de
sua coragem, na medida em que supera a escravidão dos desejos
egoístas.”
Kardec revela a lei de causa e efeito atuando sobre a vida humana.
Einstein a define de forma muito peculiar aos sábios:
“A
vida é como jogar uma bola na parede: se jogar uma bola azul, ela
voltará azul; se jogar uma bola verde, ela voltará verde; se jogar a
bola fraca, ela voltará fraca; se jogar a bola com força, ela voltará
com força. Por isso, nunca “jogue uma bola na vida” de forma que você
não esteja pronto a recebê-la. A vida não dá, nem empresta; não se
comove, nem se apieda. Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir
aquilo que nós lhe oferecemos”.
Vimos
também como ele elegeu a tradição cristã como meta a ser alcançada pela
humanidade. Vejamos como se manifestou o Espírito de Verdade no livro
Obras Póstumas a respeito de como Kardec deveria proclamar a Doutrina
Espírita:
“Eis
que a hora se aproxima em que será preciso declarar abertamente o
Espiritismo por aquilo que ele é, e mostrar a todos onde se encontra a
verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo; a hora se aproxima em que,
diante do céu e da Terra, deverás proclamar o Espiritismo como a única
tradição realmente cristã, a única instituição verdadeiramente divina e
humana.”
Com
certeza, a prática cristã raciocinada e liberta dos conceitos
equivocados, e tão sonhada por Einstein e Kardec, tende a se consolidar
na prática do Espiritismo-Cristão.
Diante
dessas comparações, faço uma pergunta: será que ele teve contato com o
conhecimento espírita? Isso não posso afirmar, mas, uma coisa é certa:
se não teve enquanto encarnado nesta sua última existência, deve ter
tido em outra, onde se preparou para realizar tão importante obra. No
meu ver, com o trabalho desenvolvido em torno da Energia, ele
estabeleceu no cenário científico a incontestável hipótese de que existe
uma força intangível atuando sobre a Energia, imprimindo nela a
condensação que estabelece a ponderabilidade das formas.
Ainda uma outra coisa se torna patente: ambos trabalharam na mesma obra:
Albert
Eisntein atuou na ciência sem se descuidar da importância do
transcendente; Allan Kardec trabalhou o transcendente sem se descuidar
da importância da ciência. Com isso, construíram um caminho para o
encontro da Ciência com a Fé.
Allan Kardec foi o cientista da alma, Albert Einstein deu alma à ciência!
Essas
duas admiráveis personalidades trabalharam animadas pelo mesmo espírito
de compreensão, almejando o mesmo objetivo: contribuir para desenvolver
nos corações humanos uma religiosidade genuína, fundamentada no
conhecimento mais amplo e mais profundo da natureza humana.
É
inegável que marchamos para o desenvolvimento de uma religiosidade
cósmica resultante do encontro da ciência com a fé, o qual trará à lume a
natureza espiritual do ser humano e o reconhecimento do Grande Autor
das maravilhas do Universo.
O
conhecimento espiritual de que dispomos, nós espíritas, reveste-nos da
intransferível responsabilidade de estruturarmos nossos celeiros da fé
raciocinada despidos do ranço remanescente das religiões dogmáticas e
mesmo do ranço acadêmico, entendendo que, enquanto a Ciência prepara as
inteligências para esse inevitável encontro, a nós, espíritas, compete
prepararmos os corações para essa nova era que se aproxima.
Por: Nelson Moraes*
Bibliografia:
- “Ciência e Religião” (1939-1941) - Págs. 25 a 34. Einstein, Albert, 1870-1955 Título original: “Out of my later years.”
- Escritos da Maturidade: artigos sobre ciência, educação, relações sociais, racismo, ciências sociais e religião. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges - RJ: Editora Nova Fronteira, 1994.
- “Einstein & Kardec” – A Conexão Entre a Ciência e a Fé – Nelson Moraes – Editora Aulus Ltda. – SP - SP.
*O autor é escritor e conferencista espírita
Fonte: Revista Internacional de Espiritismo – Maio/2005
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