29 de janeiro de 2013

Jóias devolvidas


Narra antiga lenda árabe, que um rabi, religioso dedicado, vivia muito feliz com sua família. Esposa admirável e dois filhos queridos.
 
Certa vez, por imperativos da religião, o rabi empreendeu longa viagem ausentando-se do lar por vários dias.
 
No período em que estava ausente, um grave acidente provocou a morte dos dois filhos amados.
 
A mãezinha sentiu o coração dilacerado de dor. No entanto, por ser uma mulher forte, sustentada pela fé e pela confiança em Deus, suportou o choque com bravura.
 
Todavia, uma preocupação lhe vinha à mente: como dar ao esposo a triste notícia?
 
Sabendo-o portador de insuficiência cardíaca, temia que não suportasse tamanha comoção.
 
Lembrou-se de fazer uma prece. Rogou a Deus auxílio para resolver a difícil questão.
 
Alguns dias depois, num final de tarde, o rabi retornou ao lar.
 
Abraçou longamente a esposa e perguntou pelos filhos...
 
Ela pediu para que não se preocupasse. Que tomasse o seu banho, e logo depois ela lhe falaria dos moços.
 
Alguns minutos depois estavam ambos sentados à mesa. A esposa lhe perguntou sobre a viagem, e logo ele perguntou novamente pelos filhos.
 
Ela, numa atitude um tanto embaraçada, respondeu ao marido:  
Deixe os filhos. Primeiro quero que me ajude a resolver um problema que considero grave.
 
O marido, já um pouco preocupado perguntou:  

O que aconteceu? Notei você abatida! Fale! Resolveremos juntos, com a ajuda de Deus.
 
Enquanto você esteve ausente, um amigo nosso visitou-me e deixou duas joias de valor incalculável, para que as guardasse. 

São joias muito preciosas! Jamais vi algo tão belo!
 
O problema é esse! Ele vem buscá-las e eu não estou disposta a devolvê-las, pois já me afeiçoei a elas. O que você me diz?
 
Ora, mulher! Não estou entendendo o seu comportamento! Você nunca cultivou vaidades!... Por que isso agora?
 
É que nunca havia visto joias assim! São maravilhosas!
 
Podem até ser, mas não lhe pertencem! Terá que devolvê-las.
 
Mas eu não consigo aceitar a ideia de perdê-las!
 
E o rabi respondeu com firmeza: Ninguém perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo!
 
Vamos devolvê-las, eu a ajudarei. Iremos juntos devolvê-las, hoje mesmo.
 
Pois bem, meu querido, seja feita a sua vontade. O tesouro será devolvido. Na verdade isso já foi feito. As joias preciosas eram nossos filhos.
 
Deus os confiou à nossa guarda, e durante a sua viagem veio buscá-los. Eles se foram.
 
O rabi compreendeu a mensagem. Abraçou a esposa, e juntos derramaram grossas lágrimas. Sem revolta nem desespero.


*   *   *

Os filhos são quais jóias preciosas que o Criador nos confia a fim de que os ajudemos a burilar-se.
 
Não percamos a oportunidade de auxiliá-los no cultivo das mais nobres virtudes. Assim, quando tivermos que devolvê-los a Deus, que possam estar ainda mais belos e mais valiosos.



Redação do Momento Espírita, com base no cap. Joias devolvidas, do
livro
Quem tem medo da morte?,
de Richard Simonetti.

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