A quem mais foi dado, muito será cobrado!
Num bate-papo informal entre confrades, falava-se das vantagens do conhecimento espírita em relação à morte.
Sucediam-se comentários animados:
— Será tranqüilo o nosso retomo...
— Sem dúvida! Afinal, sabemos o que nos espera...
— Não teremos nenhum problema de adaptação, o que não acontece com nossos irmãos de outras crenças...
— Coitados! Imaginam que vão dormir até o juízo final!...
— Manifestam-se perturbados, sem conhecimento de sua condição...
O pessoal estava animado com essa perspectiva, quando Chico jogou água fria na fervura:
— Jamais vi, em meus contatos com o Mundo Espiritual, um espírita que
me dissesse estar contente com sua situação. Todos lamentam, e muito,
não terem feito o que podiam, enquanto encarnados.
Que o Espiritismo é bênção de Deus, mostrando- nos as realidades além-túmulo, não padece dúvida.
Os aprendizes espíritas não experimentarão grandes dificuldades ao desencarnar.
Temos nas obras doutrinárias um bê-á-bá da vida espiritual.
No entanto, é bom lembrar uma observação de Jesus (Lucas, 12-48):
"Muito será pedido àquele a quem muito se ofereceu".
Conhecimento é sinônimo de responsabilidade.
E mais: O conhecimento da verdade implica compromisso com ela.
E qual seria o nosso grande compromisso, diante dessa maravilhosa
visão das realidades espirituais que a Doutrina Espírita nos oferece?
Kardec responde:
"Reconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que realize em favor de sua renovação".
Somos chamados à decantada reforma íntima, abrangendo como pensamos, o que fazemos.
A Doutrina nos informa que:
- Não transitamos pela Terra em jornada de férias.
- Somos seres imortais que já vivíamos antes do berço e continuaremos a viver depois do túmulo.
- Aqui estamos com o objetivo primordial de evoluir, superando limitações e mazelas.
- É preciso vencer o egoísmo, o elemento gerador de todos os males humanos.
- Devemos nos harmonizar com as pessoas de nossa convivência, superando desentendimentos do passado ou do presente.
- A vivência das virtudes evangélicas constitui um exercício diário indispensável.
Dá para perceber que o Espiritismo não é mero passaporte para as bem-aventuranças, além-túmulo.
Situa-se muito mais como um roteiro.
Roteiro maravilhoso, diga-se de passagem, o mapa da mina celestial,
mas com uma particularidade ponderável: tomar conhecimento dele é,
implicitamente, assinar um termo de compromisso, mais ou menos assim:
"Eu, fulano de tal, estou perfeitamente consciente das responsabilidades inerentes ao conhecimento espírita.
Assumo o compromisso de combater, com perseverança e tenacidade, as
minhas mazelas e imperfeições, a pensar no Bem e praticar o Bem em todos
os dias de minha vida, tendo por roteiro as lições de Jesus".
É bom tomar cuidado, portanto, evitando surpresas desagradáveis nos tribunais do Além.
Lembro pitoresca alegoria de Espíritos entrevistados pelo demônio, às portas do inferno.
O tinhoso, como um gourmet preparando assados, determinava as
ardências a que se submeteriam, de conformidade com sua crença, na
existência humana.
- Ateu: Não sabia nada. Rápida escaldada.
- Católico: Miopia espiritual. Chamuscada breve.
- Evangélico: Fé cega. Tostadinha, de leve.
- Espírita: Sabia tudo. Fritura. Bem passada!
Do Livro "Rindo e Refletindo com Chico Xavier" - Richard Simonetti
Capítulo: " BEM PASSADA! "
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