7 de setembro de 2013

A quem mais foi dado, muito será cobrado!


Num bate-papo informal entre confrades, falava-se das vantagens do conhecimento espírita em relação à morte.

Sucediam-se comentários animados:

— Será tranqüilo o nosso retomo...

— Sem dúvida! Afinal, sabemos o que nos espera...

— Não teremos nenhum problema de adaptação, o que não acontece com nossos irmãos de outras crenças...

— Coitados! Imaginam que vão dormir até o juízo final!...

— Manifestam-se perturbados, sem conhecimento de sua condição...

O pessoal estava animado com essa perspectiva, quando Chico jogou água fria na fervura:

— Jamais vi, em meus contatos com o Mundo Espiritual, um espírita que me dissesse estar contente com sua situação. Todos lamentam, e muito, não terem feito o que podiam, enquanto encarnados.


Que o Espiritismo é bênção de Deus, mostrando- nos as realidades além-túmulo, não padece dúvida.

Os aprendizes espíritas não experimentarão grandes dificuldades ao desencarnar.

Temos nas obras doutrinárias um bê-á-bá da vida espiritual.

No entanto, é bom lembrar uma observação de Jesus (Lucas, 12-48):

"Muito será pedido àquele a quem muito se ofereceu".

Conhecimento é sinônimo de responsabilidade.

E mais: O conhecimento da verdade implica compromisso com ela.

E qual seria o nosso grande compromisso, diante dessa maravilhosa visão das realidades espirituais que a Doutrina Espírita nos oferece?

Kardec responde:

"Reconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que realize em favor de sua renovação".

Somos chamados à decantada reforma íntima, abrangendo como pensamos, o que fazemos.

A Doutrina nos informa que:

- Não transitamos pela Terra em jornada de férias.

- Somos seres imortais que já vivíamos antes do berço e continuaremos a viver depois do túmulo.

- Aqui estamos com o objetivo primordial de evoluir, superando limitações e mazelas.

- É preciso vencer o egoísmo, o elemento gerador de todos os males humanos.

- Devemos nos harmonizar com as pessoas de nossa convivência, superando desentendimentos do passado ou do presente.

- A vivência das virtudes evangélicas constitui um exercício diário indispensável.

Dá para perceber que o Espiritismo não é mero passaporte para as bem-aventuranças, além-túmulo.

Situa-se muito mais como um roteiro.

Roteiro maravilhoso, diga-se de passagem, o mapa da mina celestial, mas com uma particularidade ponderável: tomar conhecimento dele é, implicitamente, assinar um termo de compromisso, mais ou menos assim:

"Eu, fulano de tal, estou perfeitamente consciente das responsabilidades inerentes ao conhecimento espírita.

Assumo o compromisso de combater, com perseverança e tenacidade, as minhas mazelas e imperfeições, a pensar no Bem e praticar o Bem em todos os dias de minha vida, tendo por roteiro as lições de Jesus".

É bom tomar cuidado, portanto, evitando surpresas desagradáveis nos tribunais do Além.

Lembro pitoresca alegoria de Espíritos entrevistados pelo demônio, às portas do inferno.

O tinhoso, como um gourmet preparando assados, determinava as ardências a que se submeteriam, de conformidade com sua crença, na existência humana.

- Ateu: Não sabia nada. Rápida escaldada.

- Católico: Miopia espiritual. Chamuscada breve.

- Evangélico: Fé cega. Tostadinha, de leve.

- Espírita: Sabia tudo. Fritura. Bem passada!



 
Do Livro "Rindo e Refletindo com Chico Xavier" - Richard Simonetti
Capítulo: " BEM PASSADA! "

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