Divaldo Pereira Franco é um dos médiuns e oradores espíritas mais conhecido do Brasil, por suas palestras e obras que difundem o espiritismo. No entanto, suas falas sobre temas políticos e históricos nem sempre se sustentam em fatos. Um exemplo disso é um discurso atribuído a ele em que critica o socialismo e Karl Marx de maneira equivocada.
Vejamos:
“Estávamos acostumados a um cristianismo de natureza débil, pois que na
primeira oportunidade rebelaram-se as pessoas denominadas de esquerda que
adotaram o comportamento socialistas, comunistas com a destruição do conceito
de fé e particularmente de cristianismo; seja de cristianismo, seja de
judaísmo.
Na obra de Marx, apresentada como solução para os problemas do século XIX, ele
tem a oportunidade de apresentar logo depois no século XX o seu "Capital". A doutrina do capital e está doutrina
estendeu-se de Moscou e de Londres para o mundo, apresentando várias visões da
filosofia socialista em regime político de devastação.
Um dos primeiros itens de Marx é exatamente destruir a família, desintegrar a
harmonia da criatura humana. Porque uma sociedade não familiar é uma sociedade
insegura que qualquer direção lhe basta, principalmente se for uma direção
ditatorial, esmagadora em que o direito de propriedade e individualidade
desaparece para o controle do Estado."
Neste
artigo, analisaremos os erros presentes nessa argumentação e como tais
equívocos comprometem a credibilidade de sua fala.
A Suposta "Fraqueza" do Cristianismo e a
Rebelião da Esquerda
Divaldo
Franco argumenta que a esquerda teria se rebelado contra um cristianismo
"débil", associando ideologias socialistas e comunistas à destruição
da fé cristã e judaica. Essa visão simplifica a complexa relação entre
cristianismo e política. O cristianismo, ao longo da história, inspirou tanto
movimentos conservadores quanto progressistas. Diversas figuras cristãs, como
Dom Hélder Câmara, Martin Luther King Jr., e Leon Denis defenderam ideias sociais sem que
isso significasse uma negação da fé.
Erro Sobre "O Capital" e Sua Difusão
Outro
equívoco de Divaldo Franco é a afirmação de que Karl Marx teria apresentado O
Capital no século XX, quando, na verdade, a obra foi publicada em 1867, no
século XIX. Além disso, sua difusão não ocorreu apenas por Moscou e Londres,
mas por diversas regiões do mundo, influenciada por diferentes contextos
históricos e sociais.
Marx e a "Destruição da Família"
Outro
erro do médium é afirmar que Marx tinha como objetivo destruir a família. No Manifesto
Comunista, Marx e Engels criticam a estrutura da família burguesa da época,
que, segundo eles, refletia as relações de exploração do capitalismo. No
entanto, essa crítica não significa a defesa da destruição da família em si,
mas sim da transformação das relações sociais para que não estejam baseadas em
exploração e opressão.
Ditadura, Propriedade e Controle Estatal
Divaldo
Franco também comete um erro ao afirmar que o socialismo visa eliminar a
propriedade privada e a individualidade em favor do controle do Estado. O
marxismo propõe a abolição da propriedade privada dos meios de produção
(fábricas, grandes empresas, terras improdutivas), mas isso não significa tirar
das pessoas suas casas, bens pessoais ou sua individualidade. Além disso,
associar socialismo diretamente a regimes ditatoriais ignora a existência de
correntes socialistas democráticas, que buscam equilibrar justiça social e
liberdade individual.
Contudo, Divaldo
Franco é uma figura importante no espiritismo, mas suas falas sobre história e
política precisam ser analisadas criticamente. Seus equívocos sobre Marx,
socialismo e a relação entre cristianismo e esquerda demonstram uma
interpretação distorcida da realidade.
Não é de
hoje que Divaldo atribui a Karl Marx situações e ideias que o filósofo alemão
nunca defendeu. Um exemplo claro desse erro ocorreu no 34º Congresso Espírita
de Goiás, em fevereiro de 2018, quando foi questionado sobre a ideologia de
gênero. Em vez de esclarecer que o termo "ideologia de gênero"
é usado, principalmente, por grupos contrários às discussões sobre identidade
de gênero e diversidade, mas não corresponde a uma teoria acadêmica
reconhecida., o
médium preferiu responsabilizar Marx, cometendo mais um equívoco e demonstrando
sua péssima influência política.
Transcrevemos
aqui parte de sua fala:
"A
tese é profundamente comunista e ela foi lançada por Marx, sobre outras
condições, que a melhor maneira de submeter um povo não era escravizá-lo
economicamente, era escravizá-lo moralmente. Como nós vemos através de vários
recursos que têm sido aplicados no Brasil, nos últimos nove anos, dez, em que o
Poder Central tem feito todo o esforço para tornar-se o patrão de uma sociedade
em plena miséria econômica e moral."
Não há
qualquer menção a "ideologia de gênero" nas obras de Marx. A
associação entre marxismo e destruição moral da sociedade é uma falácia
construída por setores políticos conservadores para demonizar tanto as ideias
socialistas quanto os avanços nos direitos sociais.
Quando
Divaldo Franco emite opiniões políticas sem embasamento, não apenas desinforma,
mas compromete sua credibilidade como espírita. O espiritismo deve ser um
espaço de esclarecimento e elevação moral, e não de distorção histórica e
manipulação ideológica.
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