24 de abril de 2025

A DOR DA IGNORÂNCIA E A VOZ DA CONSCIÊNCIA

 



É com o coração apertado que observo, como tantos irmãos de caminhada, a morte ser tratada como um troféu ideológico — e não como o rito sagrado de transição que é. Dói ver líderes — invariavelmente alinhados a extremos que sufocam a empatia — celebrarem a partida de um espírito como se fosse uma “limpeza espiritual”. Não é a opinião que fere, mas o aplauso que ela encontra. O eco entre tantos corações sedentos de ódio, disfarçado de verdade, é o que mais entristece.

A morte do Papa Francisco, figura de fé e compaixão para milhões, não trouxe união. Pelo contrário: serviu de combustível para uma polarização já acentuada, transformando o que deveria ser lamento coletivo em palco de julgamento.

Desde o início do século XXI, o nosso planeta — e sim, ele é redondo — tem passado por um processo claro de transição espiritual. Estamos a caminhar para um mundo de regeneração, onde a justiça, o amor e a verdade ocuparão o lugar do orgulho, da intolerância e da vaidade. Há, sim, uma limpeza espiritual em curso. 
Mas acreditar que ela se manifestaria na partida de Francisco é não compreender os critérios do Alto. A sua conduta — marcada pela humildade, empatia e defesa dos mais vulneráveis — está longe de representar o que precisa ser expurgado do nosso mundo.

E aqui, infelizmente, vemos um fenomeno cada vez mais comum: aqueles que não fazem o menor esforço para vivenciar os valores de Francisco são os primeiros a acusá-lo de comunista. Tudo o que escapa ao padrão mesquinho dessa gente, que endeusa o ego e demoniza a compaixão, é rotulado de comunismo — mesmo sem saberem o que a palavra significa. Repetem chavões como mantras vazios, presos a uma visão de mundo que só reconhece como certo aquilo que espelha seus próprios medos e preconceitos. Não por acaso — porque no universo nada é por acaso — muitos desses espíritos, endurecidos pela arrogância, serão convidados a recomeçar em mundos como Quíron, onde a dor ensinará o que o amor ainda não conseguiu alcançar.

Lembro-me das palavras lúcidas de Umberto Eco, mais atuais do que nunca: “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis…”. Não se trata de calar vozes — mas de despertar consciências. Porque nem todo som é música, nem toda opinião é luz.

É nos tempos de trevas morais que somos chamados à luz firme da vigilância interior. Que não respondamos com raiva, mas com a serenidade de quem compreende que a ignorância ainda é uma forma de sofrimento. Que sejamos faróis silenciosos em meio à tempestade — acolhendo, instruindo, perdoando.

A morte, por mais que doa, é sempre sagrada. Ainda mais quando se trata de alguém que entregou sua vida ao serviço espiritual. O julgamento definitivo não cabe a nós, mas a Deus — e Ele, sabemos bem, julga com amor, nunca com desprezo.

Que a nossa luta, então, não seja contra pessoas, mas contra as sombras que ainda habitam em nós.

Regih Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário