Chegou ao nosso conhecimento uma pregação de um famoso frei, atualmente queridinho dos extremistas, em que ele afirmava que a reencarnação não está na Bíblia. Certamente, ele deve ter procurado a palavra "reencarnação" e, como era de se esperar, não a encontrou. De fato, o termo foi cunhado por Allan Kardec no século XIX. Mas será que a ausência da palavra implica na inexistência do conceito?
Se assim fosse, deveríamos negar também a palavra "Trindade", que igualmente não aparece na Bíblia e, no entanto, é amplamente aceita no Cristianismo. A verdade é que o sentido da reencarnação está presente nas Escrituras, mas muitos teólogos, padres, freis e pastores que estudaram os textos originais em hebraico e grego parecem ocultar ou negar essa realidade.
O Sentido Reencarnacionista nas Escrituras
Vejamos algumas passagens que trazem claramente a ideia da reencarnação:
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João Batista e Elias - Em Mateus 11:14, Jesus diz: "E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir". Aqui, Cristo está afirmando que João Batista é a reencarnação de Elias. O mesmo é reforçado em Mateus 17:12-13: "Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram". Os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista.
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A pergunta dos discípulos sobre o cego de nascença - Em João 9:2, os discípulos perguntam: "Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?" Se o homem nasceu cego, como poderia ter pecado antes de seu nascimento? A única explicação lógica é que os discípulos acreditavam na reencarnação, pois pensavam que ele poderia estar colhendo consequências de vidas anteriores.
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Jesus e Nicodemos - No diálogo com Nicodemos, registrado em João 3:3-7, Jesus declara: "Em verdade, em verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus". Nicodemos questiona: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre de sua mãe e nascer?" Jesus responde: "Em verdade, em verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo".
No Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 4, Allan Kardec esclarece que a expressão "nascer de novo" não se refere ao batismo, mas à reencarnação. Se fosse apenas um renascimento espiritual por meio da fé, Nicodemos não teria feito uma pergunta tão literal sobre voltar ao ventre materno. O próprio Jesus reforça a necessidade do renascimento, deixando claro que se trata de um novo retorno à vida terrena.
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A Restauração de Todas as Coisas - Em Atos 3:21, lemos que "Convém que o céu o contenha até os tempos da restauração de tudo". O conceito de restauração remete à ideia de evolução espiritual por meio de sucessivas experiências terrenas, o que é perfeitamente compatível com a reencarnação.
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O Conceito das Gerações no Antigo Testamento - Em diversas passagens do Antigo Testamento, encontramos referências ao retorno das almas em diferentes gerações. Por exemplo, em Êxodo 20:5, Deus afirma: "visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem". Essa afirmação pode ser interpretada como um reflexo da lei de causa e efeito ao longo das reencarnações, pois seria injusto Deus punir inocentes pelos pecados de seus ancestrais sem considerar a reencarnação.
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Jó e o Retorno à Vida - No livro de Jó 14:14, ele questiona: "Morrendo o homem, tornará a viver? Todos os dias do meu combate esperarei, até que venha a minha mudança". Esse "esperar pela mudança" pode ser entendido como a preparação para uma nova existência.
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Eclesiastes e o Retorno do Espírito - Em Eclesiastes 1:4, lemos: "Geração vai, e geração vem; mas a terra para sempre permanece". A repetição das gerações sugere que os espíritos retornam à matéria em diferentes ciclos de aprendizado.
O Salmo 23 e seu Verdadeiro Sentido
O Salmo 23 é um dos mais conhecidos da Bíblia, mas muitos o interpretam de forma equivocada. Em sua tradução original, encontramos um versículo que reforça a ideia reencarnacionista:
"Adonai é o meu pastor, não me faltará.
Em verdes pastagens me fará descansar.
Para a tranquilidade das águas me conduzirá.
Fará meu espírito voltar/retornar, e me guiará por caminhos justos, por causa do Seu Nome.
Ainda que eu caminhe pelo vale da morte, não temerei nenhum mal, pois Tu estarás comigo.
Teu bastão e teu cajado me confortarão.
Diante de mim prepararás uma mesa, na presença dos meus provocadores.
Tu ungirás minha cabeça com óleo; minha taça transbordará.
Certamente, bondade e benevolência me seguirão, todos os dias das minhas vidas.
E voltarei na casa de Adonai por longos anos."
Portanto, não nos deixemos enganar por argumentos simplistas. A ausência da palavra não anula a realidade do conceito. Quem busca com sinceridade encontrará na Bíblia, e principalmente nos ensinamentos do Cristo, a confirmação de que a reencarnação é uma lei divina a serviço do progresso da humanidade.
Eu, que um dia fui católico, me encontrei no espiritismo, pois ele me mostrou ser Deus de todo perfeito, lhes faço a seguinte pergunta:
Seja honesto, caro leitor(a): sem o sentido da reencarnação, como podemos considerar Deus perfeito e justo diante das aparentes desigualdades da vida? Por que alguns nascem saudáveis, enquanto outros já chegam ao mundo marcados por enfermidades graves? Por que há aqueles que vêm ao mundo com todos os seus membros perfeitos, enquanto outros nascem com deficiências?
E mais: por que algumas pessoas nascem em berços de ouro, enquanto outras enfrentam desde cedo a miséria extrema? Por que uns têm acesso à educação e oportunidades, enquanto outros lutam para sobreviver? Por que alguns vivem uma vida longa e tranquila, enquanto outros partem cedo, vítimas de tragédias inexplicáveis?
Se tivermos apenas uma existência, como explicar esses contrastes sem ferir a noção de um Deus infinitamente bom e justo? Somente a reencarnação nos permite compreender que cada alma traz consigo um passado, e que as experiências da vida atual são frutos de suas escolhas e aprendizados em existências anteriores. Dessa forma, não há privilégios ou castigos arbitrários, mas sim uma lei divina de justiça e amor que nos permite evoluir, reparar erros e progredir espiritualmente.
Regih Silva
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