15 de maio de 2025

LIVRE-ARBÍTRIO: A VERDADE ESTÁ ALÉM DA MATÉRIA

 


Vivemos em uma época em que a ciência, especialmente a neurociência, busca compreender o comportamento humano a partir de uma perspectiva biológica. Nomes como Robert Sapolsky, renomado neurocientista da Universidade de Stanford, vêm ganhando destaque com teses que negam a existência do livre-arbítrio. Em seu livro “Determined – The Science of Life Without Free Will”, Sapolsky afirma que todas as nossas decisões são determinadas por condicionamentos genéticos, traumas infantis, hormônios, estados neurológicos e fatores ambientais. Segundo ele, nossas escolhas são apenas a consequência inevitável de uma combinação de fatores que estão além do nosso controle consciente.

Essa abordagem materialista vê o ser humano como um organismo condicionado, e sua liberdade como uma ilusão. Porém, quando olhamos com os olhos do Espírito, percebemos que essa não é toda a verdade.

A ciência vê o corpo. O Espiritismo vê a alma.

 No livro “Missionários da Luz”, psicografado por Chico Xavier, o Espírito André Luiz nos oferece uma visão extraordinária sobre o processo reencarnatório. Nos capítulos XII ("Preparação de experiências") e XIII (" Reencarnação"), ele descreve detalhadamente a preparação do Espírito Segismundo, que se prepara para reencarnar com a assistência dos benfeitores espirituais.

Ficamos sabendo que:

  • A reencarnação é planejada com antecedência.
  • A genética do futuro corpo físico é ajustada de acordo com as necessidades do Espírito.
  • O perispírito, molde do corpo carnal, atua sobre as células em formação para modelar o novo organismo.
  • O Espírito aceita as limitações físicas e os desafios morais que terá de enfrentar na nova jornada.

Portanto, o corpo não é um acidente biológico, mas sim um instrumento cuidadosamente escolhido para oferecer ao Espírito as provas e lições que ele precisa viver.

Na questão 202 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta:

“Quando somos Espíritos, preferimos encarnar num corpo de homem ou de mulher?”

E os Espíritos respondem:

“Isso pouco importa ao Espírito; depende das provas que ele tiver de sofrer.”

Kardec comenta:

“Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhes provas e deveres especiais e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens.”

Isso deixa evidente que a escolha do sexo biológico também está subordinada ao planejamento espiritual, e está ligada ao tipo de experiência, aprendizado e reajuste que o Espírito necessita. Ser homem ou mulher, assim como nascer em determinada classe social, país ou cultura, faz parte do cenário necessário à evolução de cada alma.

Mas então, com tanta influência da genética, da biologia e das circunstâncias exteriores... existe mesmo livre-arbítrio?

A resposta nos foi dada com clareza pelo Espírito Aldo Oliver:

“O verdadeiro livre-arbítrio se dá na espiritualidade, para os Espíritos que têm condições de escolha, através da programação reencarnatória. Toda a genética e o organismo físico dizem respeito a isso. O corpo é apenas o reflexo da escolha espiritual.”

Ou seja, a liberdade espiritual antecede a vida material. É no plano espiritual, antes de nascer, que o Espírito escolhe os caminhos que deseja trilhar, os desafios que precisa enfrentar e as experiências que deseja conquistar. A vida corporal é o palco onde essa escolha se desenrola, com os limites naturais impostos pela matéria, pela genética e pelo meio.


Aqui na Terra, o Espírito atua com liberdade relativa, mas o que vive já foi escolhido em grande parte antes de nascer. A dor, os encontros, os talentos, as limitações – tudo isso foi previamente analisado e aceito com responsabilidade. Contudo, ele ainda pode escolher amar ou odiar, perdoar ou revidar, levantar ou cair.

Ao afirmar que o comportamento humano é resultado de fatores genéticos e ambientais, os neurocientistas não estão completamente equivocados. Eles estão apenas olhando o fenômeno de forma parcial, limitada ao plano físico.

O Espiritismo nos mostra que a matéria é um reflexo da decisão espiritual. A genética é um instrumento da Lei Divina. O cérebro é uma ferramenta moldada para servir à experiência da alma.

Enquanto a ciência estuda o instrumento, o Espiritismo estuda o músico.

Enquanto a ciência investiga o palco, o Espiritismo revela o autor do roteiro.

Pontando, O livre-arbítrio não é um presente absoluto, nem tampouco uma ilusão. Ele é uma conquista gradual, que se amplia à medida que o Espírito evolui. Nas primeiras etapas, agimos mais por instinto e por condicionamento. Mas, à medida que adquirimos consciência, passamos a escolher com mais clareza e profundidade.

Na Terra, ainda estamos presos a muitas influências. Mas a verdadeira liberdade está no espírito, e se manifesta plenamente no mundo espiritual, onde nossas decisões moldam o corpo, a genética, as circunstâncias e os caminhos da existência. Logo, Sapolsky está certo ao afirmar que o corpo age conforme suas heranças e condicionamentos. Mas, como ensina o Espiritismo, o Espírito escolheu tudo isso antes de nascer, com liberdade, lucidez e amor. (Quando tem condição de escolher.)

O cérebro é o palco. A alma é o ator. E Deus, o diretor amoroso e justo que nos oferece sempre novos ensaios.


Regih Silva

 


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