Vivemos em uma época em que a ciência, especialmente a neurociência, busca compreender o comportamento humano a partir de uma perspectiva biológica. Nomes como Robert Sapolsky, renomado neurocientista da Universidade de Stanford, vêm ganhando destaque com teses que negam a existência do livre-arbítrio. Em seu livro “Determined – The Science of Life Without Free Will”, Sapolsky afirma que todas as nossas decisões são determinadas por condicionamentos genéticos, traumas infantis, hormônios, estados neurológicos e fatores ambientais. Segundo ele, nossas escolhas são apenas a consequência inevitável de uma combinação de fatores que estão além do nosso controle consciente.
Essa abordagem materialista vê o ser humano
como um organismo condicionado, e sua liberdade como uma ilusão. Porém, quando
olhamos com os olhos do Espírito, percebemos que essa não é toda a verdade.
A ciência vê o corpo. O Espiritismo vê a alma.
Ficamos sabendo que:
- A
reencarnação é planejada com antecedência.
- A
genética do futuro corpo físico é ajustada de acordo com as
necessidades do Espírito.
- O
perispírito, molde do corpo carnal, atua sobre as células em
formação para modelar o novo organismo.
- O
Espírito aceita as limitações físicas e os desafios morais que terá
de enfrentar na nova jornada.
Portanto, o corpo não é um acidente biológico,
mas sim um instrumento cuidadosamente escolhido para oferecer ao
Espírito as provas e lições que ele precisa viver.
Na questão 202
de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta:
“Quando somos Espíritos, preferimos encarnar
num corpo de homem ou de mulher?”
E os Espíritos respondem:
“Isso pouco importa ao Espírito; depende das
provas que ele tiver de sofrer.”
Kardec comenta:
“Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres,
porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição
social, oferece-lhes provas e deveres especiais e novas ocasiões de adquirir
experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens.”
Isso deixa evidente que a escolha do sexo
biológico também está subordinada ao planejamento espiritual, e está ligada
ao tipo de experiência, aprendizado e reajuste que o Espírito necessita. Ser
homem ou mulher, assim como nascer em determinada classe social, país ou
cultura, faz parte do cenário necessário à evolução de cada alma.
Mas então, com tanta influência da genética, da biologia e das circunstâncias exteriores... existe mesmo livre-arbítrio?
A resposta nos foi dada com clareza pelo
Espírito Aldo Oliver:
“O verdadeiro livre-arbítrio se dá na
espiritualidade, para os Espíritos que têm condições de escolha, através da
programação reencarnatória. Toda a genética e o organismo físico dizem respeito
a isso. O corpo é apenas o reflexo da escolha espiritual.”
Ou seja, a liberdade espiritual antecede a
vida material. É no plano espiritual, antes de nascer, que o Espírito
escolhe os caminhos que deseja trilhar, os desafios que precisa enfrentar e as
experiências que deseja conquistar. A vida corporal é o palco onde essa escolha
se desenrola, com os limites naturais impostos pela matéria, pela genética e
pelo meio.
Aqui na Terra, o Espírito atua com liberdade
relativa, mas o que vive já foi escolhido em grande parte antes de nascer.
A dor, os encontros, os talentos, as limitações – tudo isso foi previamente
analisado e aceito com responsabilidade. Contudo, ele ainda pode escolher
amar ou odiar, perdoar ou revidar, levantar ou cair.
Ao afirmar que o comportamento humano é
resultado de fatores genéticos e ambientais, os neurocientistas não estão
completamente equivocados. Eles estão apenas olhando o fenômeno de forma
parcial, limitada ao plano físico.
O Espiritismo nos mostra que a matéria é um reflexo
da decisão espiritual. A genética é um instrumento da Lei Divina. O
cérebro é uma ferramenta moldada para servir à experiência da alma.
Enquanto a ciência estuda o instrumento, o
Espiritismo estuda o músico.
Enquanto a ciência investiga o palco, o
Espiritismo revela o autor do roteiro.
Pontando, O livre-arbítrio não é um
presente absoluto, nem tampouco uma ilusão. Ele é uma conquista gradual,
que se amplia à medida que o Espírito evolui. Nas primeiras etapas, agimos mais
por instinto e por condicionamento. Mas, à medida que adquirimos consciência,
passamos a escolher com mais clareza e profundidade.
Na Terra, ainda estamos presos a muitas
influências. Mas a verdadeira liberdade está no espírito, e se manifesta
plenamente no mundo espiritual, onde nossas decisões moldam o corpo, a
genética, as circunstâncias e os caminhos da existência. Logo, Sapolsky está
certo ao afirmar que o corpo age conforme suas heranças e condicionamentos.
Mas, como ensina o Espiritismo, o Espírito escolheu tudo isso antes de
nascer, com liberdade, lucidez e amor. (Quando tem condição de escolher.)
O cérebro é o palco. A alma é o ator. E Deus,
o diretor amoroso e justo que nos oferece sempre novos ensaios.
Regih Silva
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