O autismo é uma condição complexa que, sob a ótica espírita, deve ser compreendida com respeito, sensibilidade e visão ampla. A Doutrina Espírita não oferece uma explicação única para os desafios que envolvem essa experiência, mas nos ensina que as causas podem ser múltiplas, sempre relacionadas às necessidades evolutivas do espírito reencarnante.
Do ponto de vista espiritual, cada existência
é fruto de um planejamento criterioso, onde as provas, expiações e missões são
definidas de acordo com o que o espírito necessita vivenciar para seu
crescimento moral e intelectual.
No caso do autismo, as possibilidades são
diversas:
- Pode
ser resultado de questões ligadas ao planejamento reencarnatório, como um
convite ao despertar de valores espirituais;
- Pode
refletir desafios de adaptação do espírito ao novo corpo físico,
principalmente quando há um distanciamento longo entre a última encarnação
e o retorno à vida material;
- Pode
ter raízes em experiências passadas que exigem vivências de reflexão e
transformação interior, favorecendo a reeducação moral;
- Pode
também ser uma experiência destinada ao grupo familiar, como oportunidade
de desenvolvimento da paciência, do amor incondicional e da resiliência.
O Espiritismo nos convida a enxergar o autismo não como castigo, mas como um caminho de aprendizado e evolução, tanto para quem vive essa condição quanto para os que o cercam.
A literatura espírita, especialmente as obras
da série "A Vida no Mundo Espiritual", psicografadas por Francisco
Cândido Xavier, nos oferece importantes reflexões sobre o processo de adaptação
dos espíritos ao renascimento físico.
Ao estudar com amigos do grupo facespírita
o livro No Mundo Maior, encontramos a seguinte informação em seu
capítulo 17. Logo pensei: não estaria aí um dos casos do autismo?
Vejamos:
No capítulo "No Limiar das
Cavernas", André Luiz narra sua experiência ao visitar o "Baixo
Umbral", uma região do plano espiritual marcada pelo sofrimento e pela
estagnação moral.
Nessa região sombria, André Luiz observa que
alguns espíritos, apesar de possuírem grande capacidade intelectual,
encontravam-se profundamente endurecidos moralmente. Por amor e justiça divina,
esses espíritos são encaminhados para experiências de reeducação que, em alguns
casos, envolvem atividades laboriosas junto à natureza ou futuras reencarnações
em condições que favoreçam seu reequilíbrio emocional e moral.
Essa realidade pode nos levar a refletir que,
em algumas situações, o autismo — sobretudo em seus graus mais severos — pode
estar relacionado a essa readaptação do espírito ao processo evolutivo,
preparando-o, de forma progressiva, para o convívio social e a harmonização
afetiva, após longos períodos de desequilíbrio ou isolamento emocional no plano
espiritual.
Antes de qualquer julgamento apressado, é
importante recordar que O Livro dos Espíritos, obra basilar da Doutrina
Espírita, já aborda a atuação de espíritos no seio da natureza.
Nas questões 536 a 540, Kardec
questiona os Espíritos Superiores sobre a organização dos fenômenos naturais e
a relação dos desencarnados com esses eventos. As respostas indicam que:
- Os
espíritos, em diferentes graus de evolução, colaboram com a harmonia e o
funcionamento das forças naturais;
- A
atuação desses espíritos varia conforme sua capacidade e entendimento;
- O
trabalho na natureza é também uma forma de aprendizado e regeneração para
muitos espíritos que, necessitados de progresso, encontram nessas
atividades um caminho de reconexão com as Leis Divinas.
Essa passagem do Livro dos Espíritos
harmoniza-se com o que André Luiz narra em No Mundo Maior, mostrando
que, antes mesmo da reencarnação, o espírito pode passar por longos processos
de reeducação e readaptação, tanto nas regiões inferiores quanto na matéria, o
que pode refletir-se em suas condições físicas e mentais ao nascer.
A Doutrina Espírita não nos convida ao
julgamento, mas sim à compreensão amorosa e ao respeito pelas diferentes
trajetórias evolutivas. Cada caso é único, e por trás de cada desafio há um
propósito superior, estabelecido pela sabedoria divina para o progresso moral e
intelectual do ser imortal.
Regih Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário