28 de abril de 2025

O PERIGO DA POLÍTICA LACRADORA: “FILMA, CORTA E DIVULGA — APENAS O MEU LADO”

 


Em meio a tantos avanços da tecnologia, com recursos que nos permitem comunicar em tempo real com qualquer pessoa do mundo, o que mais parece faltar — paradoxalmente — é o verdadeiro diálogo.

No cenário político, especialmente, tornou-se cada vez mais notório o crescimento de uma prática que, se olhada superficialmente, parece apenas fruto da era digital, mas que revela um problema moral muito mais profundo: a política da lacração.

Sim, essa nova moda consiste em usar os espaços públicos, especialmente nas comissões parlamentares, não para debater ideias ou construir pontes de entendimento, mas apenas para registrar trechos de discursos previamente ensaiados, recortá-los, e divulgá-los nas redes sociais para sua própria plateia, como se fossem provas incontestáveis de razão. O método é simples: filma, corta, divulga — apenas o próprio lado.

Pouco importa o que o outro tem a dizer. Pouco importa se há argumentos contrários ou verdades que precisam ser analisadas com ponderação. O que importa é o aplauso da própria bolha. A intenção já não é esclarecer, mas impressionar.

Para quem caminha nas sendas do Espiritismo e se propõe a compreender a realidade além da aparência, não é difícil perceber que este comportamento é reflexo de velhas posturas do ego humano: o orgulho e a vaidade travestidos de eloquência.

Sobre isso, Allan Kardec, sempre lúcido em suas observações, deixou-nos uma lição que parece escrita especialmente para os dias de hoje:

“Reservar-se o direito de atacar e não admitir resposta é um meio cômodo de ter razão; resta saber se é o de chegar à verdade.”

O codificador do Espiritismo, com sua clareza e equilíbrio, nos ensina que não existe descoberta da verdade onde não há diálogo honesto. A verdade não teme o debate. Ao contrário, ela se revela, lapida-se e se enobrece no campo sereno da argumentação, onde todas as partes são ouvidas e respeitadas.

A política da lacração, por sua vez, é o oposto desse caminho. Ela fecha os ouvidos à opinião alheia e se alimenta de um jogo teatral, cujo objetivo não é o bem comum, mas a autopromoção. E quando o debate vira monólogo, o povo se torna massa de manobra. É a inversão do que deveria ser um espaço sagrado de serviço à coletividade.

 Os Espíritos Superiores sempre destacam que a elevação moral e intelectual anda de mãos dadas com a humildade de ouvir, aprender e, se necessário, reformular conceitos. A rigidez cega e a necessidade constante de ter razão são portas fechadas para a evolução.

A Doutrina Espírita, pela sua essência, nos convida ao exercício da tolerância, do diálogo e da busca pela verdade, que jamais será conquistada através do grito, do corte seletivo de falas, nem de vídeos bem editados. A verdade é filha da reflexão, não da lacração.

Que saibamos, como bons aprendizes do Evangelho, buscar o entendimento sincero, a escuta atenta e o respeito à divergência. O mundo não precisa de mais gritos, mas de mais corações dispostos a construir.


Regih Silva

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário