A partida de um Pontífice não é uma surpresa para os olhos que já aprenderam a contemplar o inevitável. Espíritos em missão, como são quase sempre os ocupantes da Sé de Pedro, carregam o peso de séculos de tradições e expectativas, tentam — dentro de seus limites humanos — dialogar com as sombras de um mundo ainda profundamente materialista, muitas vezes enredados no emaranhado político do planeta, que, de tempos em tempos, decide transformar religião em bandeira e não em altar.
No entanto, o que mais preocupa não é a morte em si, mas sim o que ela deixa em aberto: o vazio do trono.
E, em tempos como os que vivemos, onde a polarização é o tempero amargo da convivência social, o risco que se desenha no horizonte espiritual é o de vermos a cúpula da Igreja mergulhar, ainda mais profundamente, no abismo do extremismo.
A morte de um líder equilibrado pode, inadvertidamente, abrir espaço para que os espíritos menos amadurecidos, encarnados e desencarnados, tentem influenciar as escolhas, empurrando a humanidade para o endurecimento das ideias, o fechamento dos corações e a negação do diálogo fraterno.
No mundo espiritual, companhias invisíveis já se movimentam. Não são apenas os cardeais que se reúnem em conclave: espíritos nobres e sombras perturbadas se aproximam, influenciando pensamentos, moldando intenções, em uma batalha sutil que decide mais do que um nome — decide a atmosfera moral de todo um ciclo para o planeta.
Resta saber, porém, se o trono que agora permanece temporariamente vazio, continuará simples, despido de adornos e de ostentações mundanas, ou se voltará a brilhar com o ouro que sempre fascinou as vaidades humanas e distanciou o altar do exemplo do Cristo, que preferiu a manjedoura aos palácios. Essa decisão não se limitará ao estilo de um sucessor, mas refletirá o espírito que inspira o tempo em que vivemos.A Terra, como escola bendita, vive tempos de grandes transições. A sombra do extremismo, seja religioso, político ou ideológico, é o último suspiro de velhas estruturas que não aceitam morrer. Quando uma instituição como o Vaticano se vê na encruzilhada da escolha, é também o próprio mundo que está sendo testado: entre a rigidez que exclui e a misericórdia que acolhe.
O Espiritismo, com sua lente que atravessa o véu, nos ensina que nenhuma escolha se dá ao acaso. Os bastidores do mundo espiritual trabalham incessantemente para influenciar a humanidade, respeitando o livre-arbítrio, mas também inspirando as consciências que se mantêm abertas ao bem e à sabedoria.
Não há acaso nas grandes transições. E o próximo Papa, seja quem for, será um reflexo daquilo que a humanidade, em seu conjunto, ainda precisa aprender — ou reaprender.
O mundo pede líderes que saibam servir e não se impor. Que saibam escutar mais do que falar.
Que saibam agir como pontes e não como muros.
Que o Cristo, ainda e sempre, seja o verdadeiro Pastor, mesmo quando os homens se perdem nas disputas pelo cajado.
Regih Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário