Atualmente, muito tem se falado sobre os chamados “bebês reborn” — bonecos extremamente realistas que têm sido adotados por algumas pessoas como se fossem filhos. Contudo, o que poderia ser apenas mais um modismo, como tantos outros que surgem e logo se dissipam, tomou uma dimensão além do habitual. O tema tem sido motivo de julgamentos precipitados, zombarias públicas e, lamentavemente, manipulado por alguns profissionais, religiosos, políticos e influenciadores em busca de visibilidade e engajamento nas redes sociais.
É lógico que há um exagero por trás por parte de alguns que têm se utilizado do fenômeno em busca de engajamento. Mas há os que se declaram pais desses bebês com um vínculo afetivo sincero, e há os que, sem compreender as razões íntimas por trás de tais atitudes, apressam-se em condenar ou ridicularizar. Entre os críticos, alguns chegam a afirmar que tais pessoas estão “delirando” ou vivendo em uma “realidade paralela”, defendendo por sua vez, que essas pessoas recebam atendimento psiquiátrico compulsório, como se a dor ou a forma de lidar com ela devesse se encaixar em padrões determinados externamente.
Do ponto de vista espírita, sabemos que a dor humana reveste-se de inúmeras formas, e que cada espírito reage aos seus próprios desafios e carências segundo seu grau evolutivo e sensibilidade. O apego a um objeto simbólico, como um boneco, pode representar, para alguns, uma tentativa de preencher vazios emocionais profundos, elaborando lutos mal resolvidos, frustrações na maternidade, ou buscando algum consolo em meio à solidão. O que, aos olhos da matéria, parece absurdo, pode estar carregado de significados espirituais e emocionais que escapam ao nosso julgamento apressado.
O Espiritismo nos ensina a caridade em todos os aspectos, inclusive na forma de compreender o outro. Allan Kardec, no Evangelho Segundo o Espiritismo, afirma que o verdadeiro espírita é reconhecido pela sua transformação moral e pelos esforços em domar suas más inclinações. Isso inclui a intolerância, o sarcasmo e o desejo de impor nossa visão como a única válida. Devemos nos perguntar: estamos olhando com compaixão ou apenas buscando motivos para polêmica?
A Doutrina Espírita convida-nos a olhar além da forma, buscando o conteúdo espiritual das ações humanas. Nem tudo será justificável, mas tudo merece ser compreendido à luz da empatia e da lei de causa e efeito. Antes de condenarmos alguém por buscar consolo em um boneco, perguntemo-nos: será que essa alma, por detrás de seus gestos inusitados, não clama por amor, acolhimento ou simplesmente respeito?
Que saibamos cultivar o olhar de Jesus, que enxergava além das aparências, tocando os corações e levantando os caídos sem condenação. Que a nossa voz, seja nas redes ou fora delas, sirva mais para construir do que para destruir.
Regih Silva
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