Recentemente,
algumas páginas e canais que se dizem espíritas ficaram alarmados ao saber que,
no último censo de 2022, o número de adeptos do Espiritismo diminuiu — o que me
surpreendeu.
Desde que conheci o Espiritismo, lá em 1996,
aprendi a não medir sua força por estatísticas, gráficos ou percentuais.
Confesso que ver tanto alarde por parte de alguns canais e páginas
"espíritas" sobre a suposta “queda numérica” me causou mais
estranheza do que preocupação.
Kardec já tinha nos advertido sobre os perigos
que rondam o movimento espírita. Não, não são os críticos externos, nem mesmo
os materialistas de plantão. Segundo ele, “os adeptos demasiado entusiastas
são mais perigosos para a doutrina do que os próprios adversários”. O
entusiasmo sem estudo, sem equilíbrio e sem o filtro da razão transforma-se
numa arma contra a própria Doutrina. Promove divisões, distorce conceitos e faz
brotar “novas revelações” que, quase sempre, não resistem ao crivo da razão e
da universalidade, dois pilares inegociáveis da Codificação.
Chico Xavier, também alertava. Sempre fez questão de lembrar que o Espiritismo não é religião
de salão nobre ou de cátedras universitárias. Não é terreno para vaidades
intelectuais ou para disputas de ego. Lembrando Léon Denis, Chico dizia: "O
Espiritismo será no futuro o que os homens fizerem dele." Mas,
importante dizer: isso não quer dizer que a Doutrina esteja entregue à sorte
das vaidades humanas.
Quem lê com atenção o prefácio de "O
Evangelho Segundo o Espiritismo", percebe que o Espírito da Verdade
deixa claro que o Espiritismo é, acima de tudo, obra dos Bons Espíritos,
que atuam como um exército invisível, mas eficiente, espalhando-se como
“estrelas cadentes” a iluminar consciências e abrir os olhos dos cegos da alma.
Então, com todo respeito a Chico e Denis, ouso
complementar: O Espiritismo, em qualquer tempo, será o que os Bons Espíritos
quiserem que ele seja.
Sobre o censo de 2022 e essa queda numérica: sim, os números estão aí, mas para mim, a questão é outra. Não é de hoje que o movimento espírita carrega dois grandes obstáculos:
- O elitismo doutrinário: Uma
triste postura que transforma o Espiritismo numa espécie de clube de
intelectuais, afastando justamente aqueles que mais precisam dele — os
simples, os sofredores, os humildes. Chico Xavier sempre combateu isso com
a maior das suas armas: a caridade prática.
- O extremismo ideológico: Nos
últimos anos, o movimento espírita também foi contaminado por um fenômeno
perigoso: o uso da Doutrina como palanque para discursos políticos
extremados. O que temos visto, infelizmente, é um “bolsonarismo
espiritualizado”, que tenta justificar o injustificável à luz da Doutrina.
Isso, além de trair os ensinamentos de Jesus, abre espaço para as trevas
que, como sempre, se aproveitam de corações invigilantes.
Portanto, amigos, deixemos o alarmismo de
lado. O Espiritismo não é uma moda que sobe ou desce nas estatísticas. Ele é um
movimento de regeneração moral da humanidade. Se os números caíram, talvez seja
um filtro natural. Que fiquem os que têm compromisso real com Jesus, Kardec e a
caridade.
Enquanto isso, os Bons Espíritos seguem
trabalhando. E nós, aqui embaixo, que façamos a nossa parte com humildade,
estudo e ação no bem.
Regih Silva
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