É fato incontestável: o crescimento da extrema direita no mundo é um fenômeno que não pode mais ser ignorado. Aos olhos da espiritualidade, trata-se de um movimento que vai além das estruturas políticas ou sociais. Estamos lidando com o retorno de velhos espíritos, que em outras épocas estiveram à frente de regimes autoritários, fascistas, narcisistas e violentos. Reencarnaram com o objetivo de se reajustar, de redimir os erros do passado, de fazer diferente. Porém, muitos romperam com as próprias programações reencarnatórias. Escolheram, mais uma vez, os atalhos do orgulho e da dominação.
Agora, na carne, esses espíritos tentam reimplantar os métodos de controle que os marcaram em outras existências. Alimentam o ódio, a segregação, o discurso de supremacia e intolerância, naquilo que hoje se chama de neonazismo. Os mesmos discursos que, antes, mancharam a história com sangue, dor e lágrimas, agora retornam disfarçados de “opinião política”, de “liberdade de expressão” ou até de “defesa da família e da pátria”. Mas o perfume do engano não esconde o fedor da violência moral que carregam.
A espiritualidade maior tem feito a sua parte. Não pensemos que estamos desamparados. Mentores, espíritos de luz, guias de elevada condição vibratória estão, incansavelmente, trabalhando nos bastidores da vida. Influenciam pensamentos, inspiram os corações, fortalecem os que lutam pelo bem.
Porém, como nos ensina a Doutrina Espírita, Deus não faz por nós aquilo que nos compete fazer.
Cada um de nós é chamado a não cair nas tentações do ódio e da mentira. O mal sempre se apresenta com aparência de força, com gritos, com multidões inflamadas, com ares de grandeza. Mas todo ódio, cedo ou tarde, colapsa sobre si mesmo. É um veneno que corrói por dentro, um incêndio que queima os próprios incendiários.
Emmanuel já advertia, nas páginas de Chico Xavier, que as grandes revoluções do espírito são silenciosas, começam dentro de cada um de nós. E, em uma de suas lições mais contundentes sobre os conflitos humanos, Emmanuel deixa a pergunta que ecoará na consciência da humanidade: “Quando cair o último soldado, Jesus contemplará o campo ensopado de lágrimas e sangue, e chamando os contendores perguntará, com justiça: ‘Onde se encontra o vencedor?’”

A nossa defesa é moral. A vigilância precisa ser diária. Não podemos alimentar a raiva, o preconceito, o desprezo pelo outro. Não podemos compactuar com discursos que dividem, que humilham, que ameaçam direitos conquistados a duras penas pela humanidade. Precisamos olhar para Jesus, o nosso modelo e guia. O Cristo, o Príncipe da Paz, jamais se valeu da violência para ensinar. Nunca estimulou o ódio, nunca usou a mentira para alcançar multidões. Seu caminho foi o do amor, da misericórdia, da inclusão, da paciência e do perdão.
Aldo Oliver, em sintonia com esse mesmo pensamento, também já nos advertia: “Na guerra são todos perdedores.” E aqui, guerra não significa apenas o confronto armado, mas toda e qualquer forma de guerra moral: ideológica, social, psicológica ou espiritual.
Yvonne do Amaral Pereira também falava dos perigos das obsessões coletivas, que se manifestam quando multidões dão passagem às forças inferiores que vagueiam à procura de brechas.
Portanto, que ninguém se iluda: o perigo é real e iminente, mas a vitória ainda depende de cada escolha pessoal. Que saibamos escolher o amor, mesmo quando for mais fácil odiar. Que saibamos acolher, mesmo quando a maioria preferir excluir. Que sejamos vozes firmes, mas sempre pacíficas. Que o Cristo seja, hoje e sempre, a nossa referência maior.
Se há trevas tentando se espalhar, é porque a luz, em algum lugar, está incomodando. Sejamos essa luz.
Regih Silva
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