11 de agosto de 2025

O BRASIL, A POLÍTICA E A DOENÇA QUE PRECISA SER CURADA

 



Em 2018, eu tinha certeza de que o Brasil não colocaria Jair Bolsonaro na presidência. Ignorei os sinais e preferi acreditar que o bom senso ainda resistia. Mas a realidade é que o voto é um espelho: reflete o que somos como sociedade. E, desde 2016, já estava claro que vivíamos um tempo em que o certo começava a ser ridicularizado e o errado, aplaudido como se fosse virtude.

Conheci Bolsonaro pela TV aberta, sempre em programas sensacionalistas, defendendo pautas carregadas de preconceito contra minorias. Como espírita — e parte do grupo que ele atacava — eu me perguntava: “Como um homem tão atrasado pode ter espaço na política?” A resposta estava diante de mim: vivemos num país onde agressividade é confundida com coragem, intolerância com moralidade, e arrogância com liderança.

Desde sua posse, assistimos a um festival de absurdos: declarações que destilam ódio, atitudes que negam a caridade e decisões que ferem a dignidade humana. Tudo o oposto do que ensinou Jesus — e ainda assim, muitos que o seguem batem no peito dizendo-se cristãos. Frei Quirino já advertia: “O maior escândalo do Evangelho é vê-lo pregado sem ser vivido.”

A comparação histórica é inevitável. Dilma sofreu um golpe, e não se viu seu partido pedir intervenção militar. Lula, antes de ser preso pela farsa da Lava Jato, perdeu várias eleições — e alguém viu o PT travando pautas no Congresso, acusando as urnas de fraude ou ameaçando romper a ordem democrática? Não. Concorde-se ou não com suas ideias, há uma distância moral gigantesca entre perder e aceitar, e perder e destruir.

O que muitos ignoram é que as sombras espirituais não se alimentam apenas de violência física, mas também da hipocrisia travestida de religiosidade. Essa mesma sombra, a meu ver, esteve por trás do episódio do atentado realizado por Adélio Bispo — não foi para derrubar Bolsonaro, mas para transformá-lo em mártir. O mal é astuto: sabe se disfarçar de vítima para conquistar o coração dos ingênuos.

Allan Kardec ensinou em O Evangelho segundo o Espiritismo (Cap. XX, item 4): “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações.” Quem defende a exclusão, o preconceito e a violência não pode invocar o nome de Cristo sem macular o próprio Cristo.

Hoje, no Congresso Nacional e no meio político, vemos instalada uma doença moral chamada bolsonarismo. É nosso dever, como verdadeiros cristãos, expurgá-la nas próximas eleições. O recente motim para travar o andamento do Congresso é exemplo disso: não é atitude de adulto responsável, mas de criança birrenta de quinta série, com traços de psicopatia. Uma deputada usou a filha recém-nascida como escudo. Outro, ao ser punido, justificou-se dizendo que “não compreendeu” por ser autista. É essa a tática: mentir, manipular e posar de inocente — tudo sob a bandeira falsa de “patriotismo”.

Por mais doloroso que seja, o mandato dele e de sua tropa serviu para revelar o que muitos não queriam ver: um Congresso infestado de vaidades, ignorância e ausência de amor ao próximo. André Luiz nos lembra: “Não exijas dos outros qualidades que ainda não possuem, mas trabalha para exemplificá-las.” Talvez, espiritualmente, tenhamos sido chamados a contemplar o abismo para, enfim, desejar construir a ponte.

E essa ponte não se fará com armas, nem com discursos de ódio, mas com o trabalho silencioso da regeneração moral. Como está em A Gênese (Cap. XVIII, item 27): “Os tempos são chegados.” A transição planetária já está em curso, e ela não virá por decretos ou mudanças políticas superficiais, mas pela reforma íntima de cada um.

O cristão verdadeiro sabe: não existe regeneração sem amor. E amor não se constrói com ódio, intolerância ou fanatismo. Como espíritas, não podemos nos calar diante do erro, mas também não podemos nos igualar aos que espalham trevas. A nossa resposta deve ser firme na defesa da verdade, mas impregnada da luz que Cristo nos confiou.

Porque a política, sem moral e sem caridade, não passa de palco para as sombras. E o Brasil, hoje, está diante da escolha de libertar-se dessas trevas — ou afundar ainda mais nelas.


Regih Silva

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