Em 2018,
eu tinha certeza de que o Brasil não colocaria Jair Bolsonaro na presidência.
Ignorei os sinais e preferi acreditar que o bom senso ainda resistia. Mas a
realidade é que o voto é um espelho: reflete o que somos como sociedade. E,
desde 2016, já estava claro que vivíamos um tempo em que o certo começava a ser
ridicularizado e o errado, aplaudido como se fosse virtude.
Conheci
Bolsonaro pela TV aberta, sempre em programas sensacionalistas, defendendo
pautas carregadas de preconceito contra minorias. Como espírita — e parte do
grupo que ele atacava — eu me perguntava: “Como um homem tão atrasado pode
ter espaço na política?” A resposta estava diante de mim: vivemos num país
onde agressividade é confundida com coragem, intolerância com moralidade, e
arrogância com liderança.
Desde sua
posse, assistimos a um festival de absurdos: declarações que destilam ódio,
atitudes que negam a caridade e decisões que ferem a dignidade humana. Tudo o
oposto do que ensinou Jesus — e ainda assim, muitos que o seguem batem no peito
dizendo-se cristãos. Frei Quirino já advertia: “O maior escândalo do
Evangelho é vê-lo pregado sem ser vivido.”
A
comparação histórica é inevitável. Dilma sofreu um golpe, e não se viu seu
partido pedir intervenção militar. Lula, antes de ser preso pela farsa da Lava
Jato, perdeu várias eleições — e alguém viu o PT travando pautas no Congresso,
acusando as urnas de fraude ou ameaçando romper a ordem democrática? Não.
Concorde-se ou não com suas ideias, há uma distância moral gigantesca entre
perder e aceitar, e perder e destruir.
O que
muitos ignoram é que as sombras espirituais não se alimentam apenas de
violência física, mas também da hipocrisia travestida de religiosidade. Essa
mesma sombra, a meu ver, esteve por trás do episódio do atentado realizado por Adélio
Bispo — não foi para derrubar Bolsonaro, mas para transformá-lo em mártir. O
mal é astuto: sabe se disfarçar de vítima para conquistar o coração dos
ingênuos.
Allan Kardec ensinou em O Evangelho segundo o Espiritismo (Cap. XX, item 4): “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações.” Quem defende a exclusão, o preconceito e a violência não pode invocar o nome de Cristo sem macular o próprio Cristo.
Hoje, no
Congresso Nacional e no meio político, vemos instalada uma doença moral chamada
bolsonarismo. É nosso dever, como verdadeiros cristãos, expurgá-la nas
próximas eleições. O recente motim para travar o andamento do Congresso é
exemplo disso: não é atitude de adulto responsável, mas de criança birrenta de
quinta série, com traços de psicopatia. Uma deputada usou a filha recém-nascida
como escudo. Outro, ao ser punido, justificou-se dizendo que “não compreendeu”
por ser autista. É essa a tática: mentir, manipular e posar de inocente — tudo
sob a bandeira falsa de “patriotismo”.
Por mais
doloroso que seja, o mandato dele e de sua tropa serviu para revelar o que
muitos não queriam ver: um Congresso infestado de vaidades, ignorância e
ausência de amor ao próximo. André Luiz nos lembra: “Não exijas dos outros
qualidades que ainda não possuem, mas trabalha para exemplificá-las.”
Talvez, espiritualmente, tenhamos sido chamados a contemplar o abismo para,
enfim, desejar construir a ponte.
E essa
ponte não se fará com armas, nem com discursos de ódio, mas com o trabalho
silencioso da regeneração moral. Como está em A Gênese (Cap. XVIII, item
27): “Os tempos são chegados.” A transição planetária já está em curso,
e ela não virá por decretos ou mudanças políticas superficiais, mas pela
reforma íntima de cada um.
O cristão
verdadeiro sabe: não existe regeneração sem amor. E amor não se constrói
com ódio, intolerância ou fanatismo. Como espíritas, não podemos nos calar
diante do erro, mas também não podemos nos igualar aos que espalham trevas. A
nossa resposta deve ser firme na defesa da verdade, mas impregnada da luz que
Cristo nos confiou.
Porque a
política, sem moral e sem caridade, não passa de palco para as sombras. E o
Brasil, hoje, está diante da escolha de libertar-se dessas trevas — ou afundar
ainda mais nelas.
Regih Silva
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