“É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade.”
Allan Kardec – Obras Póstumas, Credo Espírita
Para entender o que o ainda Prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail afirma, precisamos primeiramente distinguir INSTRUÇÃO e EDUCAÇÃO: instrução é transmissão de conhecimento de forma geral, cultura adquirida; educação é muito mais do que simplesmente acumular dados – educação é ensinar a utilizar adequada e beneficamente todo conhecimento adquirido.
E o mesmo mestre, já então como Allan Kardec, esclarece:
“o progresso individual não consiste apenas no desenvolvimento da inteligência, na aquisição de alguns conhecimentos (...) o progresso consiste, sobretudo, no melhoramento moral (...) muito mal pode fazer o homem de inteligência mais cultivada” (2). Basta lembrar o que fizemos inicialmente com a descoberta da energia nuclear – a bomba atômica e tantos outros artefatos de destruição... Assim, vemos personalidades de inúmeras cátedras e campos envolvidas nos mais temerosos e inacreditáveis atos de desumanidade e de desrespeito às leis naturais, principalmente a de justiça, amor e caridade, base fundamental ao relacionamento particular e social em qualquer escala.
Séculos antes de existência de Jesus de Nazaré entre nós, um conhecido sábio da antiguidade, Pitágoras, já recomendava:“vamos educar o menino para não punir o homem”; mais tarde, o irmão nazareno aconselhava: “faz ao outro o que queres que o outro te faça”;contudo, ainda agora não conseguimos aplicar essas recomendações tão claras e lúcidas... Ao analisarmos com imparcialidade as diversas situações em nossa vida, na dos que nos cercam e ainda nas daqueles desconhecidos cujas vidas são de interesse público, certamente conseguiremos perceber os comportamentos equivocados e as escolhas enganosas que a falta de educação gerou.
Mas o que é essa educação? Como educar para ajudar a progredir como ser integral?
Espíritas que somos, já sabemos que toda criança que chega ao nosso convívio familiar é um espírito retornando para mais uma etapa reencarnatória evolutiva, com seu acervo e sua programação; já sabemos igualmente que, ao recebê-la, assumimos a responsabilidade de lhe oferecer o amor, o apoio e o esclarecimento necessários para seu crescimento físico, moral e espiritual, ajudando-a a se tornar uma criatura fraterna, justa e produtiva.
Nossa atuação começa muito cedo – na verdade antes mesmo da reencarnação; a proximidade psíquica e física daquele serzinho particularmente com a mãe proporciona oportunidade impar para o seu desenvolvimento equilibrado. A seguir, durante toda a infância e a adolescência, cabe atento acompanhamento do seu despertar, principalmente quanto às tendências e faculdades que já traz consigo.
Além disso, não podemos nunca esquecer que o nosso exemplo individual é fator preponderante na educação, mesmo naquilo que possamos considerar “trivial” – exemplo: ao toque do telefone, tratando-se de alguém com quem não queremos falar naquele momento, dizer ao filho/a: “diz que não estou”. Estaremos ensinando a criança a mentir...
“Educar é, pois, elevar, estimular a busca da perfeição, despertar a consciência, facilitar o progresso integral do ser (...) O que se entende muitas vezes por educação é apenas o processo de integração da criança na sociedade, ou seja, é sinônimo de socialização (...) O homem se torna apenas o produto acabado de uma determinada cultura e de todas as suas mazelas sociais (...) Evidentemente, a educação tem um aspecto socializador, mas deve significar: 1) familiarizar a criança com a cultura e a organização social em que está inserida, desenvolvendo sua capacidade crítica, sua criatividade e sua autonomia de pensamento; 2) despertar na criança o sentido de justiça, solidariedade e amor ao próximo, porque esses são os valores essenciais para a formação de uma sociedade justa” (3).
A educação e a socialização equivocadas comumente suplantam os sentimentos fraternos e solidários que deveriam ser superiores aos anseios sensuais e materiais, fazendo-nos muitas vezes contribuir para retardar o progresso de um companheiro de jornada.
Doris Madeira Gandres
1) Textos Pedagógicos – Hippolyte Léon Denizard Rivail (por Dora Incontri)
2) Obras Póstumas – Credo Espírita – Allan Kardec3) A Educação Segundo o Espiritismo – Dora Incontri