13 de julho de 2025

QUANTOS MAIS VÃO PRECISAR MORRER PARA VOCÊ ENTENDER QUE O AMOR NÃO TEM GÊNERO?



Em 2010, a homofobia fez uma vítima que me deixou com o coração partido. Um jovem de nome Alexandre Ivo foi a vítima da vez. Esse crime brutal mexeu tanto comigo que, na época, para honrar sua memória e homenagear sua mãe, fiz um vídeo para o meu canal no YouTube. Era o mínimo que eu podia fazer. Mais tarde, foi a vez do ambulante Luiz Carlos Ruas, vítima indireta em 2016. Viu algumas pessoas trans sendo agredidas e, ao tentar defendê-las, acabou sendo morto com extrema violência. No ano seguinte, Dandara dos Santos — uma mulher trans — foi brutalmente espancada, torturada e executada a tiros. Seus algozes, sem qualquer traço de humanidade, filmaram tudo e jogaram nas redes sociais. 

O tempo passou. E sabemos que muitas outras vítimas surgiram — nomes, rostos, histórias e sonhos interrompidos. E tudo isso aconteceu enquanto o país elegia um presidente que declarava publicamente frases como: “Ninguém gosta de homossexual, a gente suporta.” Não bastasse o silêncio, parte da sociedade passou a aplaudir esse tipo de pensamento. Semana passada, mais um caso me dilacerou por dentro: Fernando Vilaça da Silva, mais uma possível vítima da homofobia. 

Diante de tudo isso, a pergunta ecoa: onde está o amor ao próximo? O que leva uma pessoa a odiar alguém apenas por sua orientação sexual? Será que esquecemos os ensinamentos do Cristo, que pediu para amarmos uns aos outros como Ele nos amou? A Doutrina Espírita, que tanto preza pelo amor e pela justiça divina, é clara ao condenar qualquer tipo de preconceito ou violência. A questão 886 de O Livro dos Espíritos define a caridade como benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas. Não há exceções. A caridade verdadeira não escolhe gênero, cor, classe social ou orientação sexual. 

Além disso, o Espiritismo nos ensina que o Espírito é eterno, não tem sexo fixo, e que a orientação afetiva de cada um pode ser reflexo de experiências profundas, resgates do passado, provas ou missões que envolvem o amor em suas mais diversas formas. Cada encarnação é uma oportunidade única para desenvolver sentimentos nobres, e a afetividade, inclusive a homoafetiva, é um caminho legítimo de aprendizado e evolução. 

Chico Xavier, em sua emblemática participação no programa Pinga-Fogo, em 1971, foi questionado sobre os homossexuais. Sua resposta foi clara, firme e profundamente cristã. O homossexualismo, tanto quanto a bissexualidade ou a assexualidade, são condições da alma humana. Não devem ser interpretados como fenômenos espantosos, como fenômenos atacáveis pelo ridículo da humanidade. Tanto quanto acontece com a maioria que desfruta de uma sexualidade dita normal, aqueles que são portadores de sentimentos de homossexualidade ou bissexualidade são dignos do nosso maior respeito. E acreditamos que o comportamento sexual na humanidade sofrerá, no futuro, revisões muito grandes...”  

Emmanuel, por sua vez, no livro “Vida e Sexo”, dedica um capítulo inteiro à homossexualidade, onde afirma que esse tipo de expressão afetiva pode representar experiências regenerativas, resgates importantes e até missões espirituais. Não há ali qualquer traço de condenação. Há, sim, uma leitura espiritual elevada, acolhedora, que compreende a diversidade das formas do amor como parte da lei divina. 

E não posso deixar de citar o médico e palestrante espírita Andrei Moreira, que tem sido uma das vozes mais amorosas e lúcidas do movimento espírita atual. Em seus livros e falas, ele nos ensina que ser homossexual não é falha moral, nem erro da criação, mas parte da trajetória do Espírito imortal, que vive muitas experiências encarnatórias, tanto masculinas quanto femininas, buscando desenvolver a afetividade e o amor em sua plenitude. 

E, se ainda houver dúvida, basta olhar para a natureza, obra direta de Deus. Ela nos dá lições de tolerância e diversidade todos os dias. Hoje sabemos que centenas de espécies animais — como pinguins, golfinhos, cisnes, leões e girafas — também manifestam comportamentos homossexuais. A biologia não só reconhece esse fato, como mostra que isso é parte natural da vida. Se a natureza acolhe a diversidade, por que nós, seres dotados de razão e consciência espiritual, ainda nos permitimos odiar? 

A homofobia mata. Mata sonhos, mata corpos, mata esperanças. Mas também fere quem a pratica, pois se distancia da lei maior, a Lei de Amor. Como espíritas, cristãos, ou simplesmente como seres humanos, somos chamados a agir com compaixão, a denunciar a injustiça, a acolher os que sofrem, e a jamais silenciar diante da barbárie. 

Se não pudermos apagar a dor do passado, que ao menos sejamos voz ativa e firme para impedir que novas feridas se abram. Que nossas palavras, escolhas e silêncios não alimentem o ódio, mas promovam a cura. Que sejamos, dia após dia, instrumentos da paz, da justiça e do amor que o Cristo nos ensinou. 

Como me assegurou o espírito Aldo Oliver, em uma frase que nunca mais esqueci: 
“Onde há amor, não há pecado.” 

Porque a ausência do amor, esta sim, é o mais profundo dos pecados. 


Regih Silva

7 de julho de 2025

"TRUMP X LULA: QUEM OUVE OS ESPÍRITOS SUPERIORES?"

 



Vivemos num mundo ainda em marcha rumo à luz, mas profundamente marcado pelos grilhões do egoísmo, do orgulho e da indiferença social. A Terra, como nos ensina a Doutrina Espírita, é um planeta de provas e expiações, onde cada experiência, cada desafio e cada escolha carrega valor educativo para o Espírito. Em meio às convulsões políticas do presente, surgem perguntas que não podemos ignorar: até que ponto os líderes que se erguem nas nações estão afinados com os princípios do Evangelho? Estão suas ações mais próximas da caridade, da justiça e do amor, ou seriam meras expressões do materialismo que ainda impera?

Duas figuras atuais têm gerado intensos debates e sentimentos opostos: Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e Luiz Inácio Lula da Silva, atual presidente do Brasil. Ambos imperfeitos, como todos nós. Contudo, há entre eles diferenças morais e políticas que merecem análise à luz da consciência espírita. Sob a influência de Trump, o Senado americano aprovou medidas que reduzem impostos dos mais ricos, cortam programas sociais fundamentais, desprezam a pauta ambiental e ampliam investimentos na militarização e no fechamento de fronteiras. A quem servem essas escolhas? Aos mais necessitados? Aos marginalizados? Aos que clamam por pão, por saúde, por dignidade? Ou seriam, antes, medidas destinadas a conservar privilégios de poucos à custa do sofrimento de muitos?

Na Doutrina Espírita, aprendemos que toda ação política deve ser avaliada sob o prisma da Lei de Justiça, Amor e Caridade. Emmanuel, mentor de Chico Xavier, foi claro ao afirmar que a fortuna é um empréstimo divino e que todo detentor de poder é responsável perante a coletividade. Cortar auxílios, abandonar os mais vulneráveis, ignorar a ecologia — que é expressão viva da Criação Divina — não é apenas má gestão: é infração grave às Leis de Deus. Tais atitudes não se alinham com o Evangelho de Jesus, tampouco com os apelos dos benfeitores espirituais que clamam por mais compaixão e fraternidade entre os povos.

No Brasil, Lula ergue um discurso mais próximo da consciência social. Em diversos momentos, tem interpelado os empresários quanto ao seu compromisso cristão com os pobres e defendido políticas de inclusão, desenvolvimento sustentável e valorização dos programas de assistência. Seus posicionamentos, mesmo que políticos e não religiosos, ecoam os alertas da espiritualidade superior sobre a urgência de construirmos uma sociedade mais justa, menos desigual e mais respeitosa com a natureza, que é nossa casa comum.

Enquanto Trump representa o endurecimento de fronteiras, o culto ao capital e a frieza diante da miséria, Lula se aproxima, em muitos momentos, do ideal de empatia social, chamando atenção para a insensibilidade das elites e para a necessidade de corresponsabilidade diante das desigualdades. Um corta verbas da saúde, da alimentação e do meio ambiente; o outro as considera essenciais e defende o fortalecimento dessas áreas — mesmo que enfrente a resistência de grupos poderosos.

Nesse contexto, chama atenção uma recente declaração do ex-ministro da Economia Paulo Guedes, agora fora do governo, em que afirma que o sistema tributário brasileiro precisa avançar para cobrar mais impostos dos mais ricos, como os que recebem lucros e dividendos, enquanto aumenta a isenção para quem ganha menos. Guedes classificou como injusto o fato de 60 mil pessoas terem recebido R$ 300 bilhões e não terem pago nada em impostos. Essa fala, vinda de quem ocupou o mais alto posto da economia nacional e que durante seu mandato não conseguiu (ou não quis) concretizar essa justiça fiscal, soa como um tardio reconhecimento do abismo tributário que separa ricos e pobres no Brasil. Revela, ainda, que mesmo aqueles ligados à elite financeira, quando longe do poder, podem enxergar — mesmo que tardiamente — as distorções gritantes de um sistema que privilegia poucos e sobrecarrega os que mais precisam.

Há imperfeições em ambos os líderes, sem dúvida. Mas há também escolhas morais claras, que demonstram qual dos dois busca, mesmo que com tropeços, caminhar em direção à lei do amor.

E diante disso, precisamos olhar para nós mesmos. É fácil julgar as figuras públicas, mas será que, em nossa vida diária, temos escolhido a lógica da fraternidade ou a do acúmulo egoísta? Será que compreendemos que impostos, ainda que mal geridos, são instrumentos de redistribuição? Será que nossa indignação é realmente com a injustiça, ou apenas com aquilo que nos incomoda pessoalmente?

O relatório da Oxfam revela que, desde 2015, o 1% mais rico do planeta acumulou tanta riqueza que seria suficiente para erradicar a pobreza mundial pelos próximos 22 anos. Isso não é apenas uma estatística. É um grito da consciência planetária. É um espelho que reflete o abismo moral que ainda separa o discurso da prática em nossa civilização.

Se pudéssemos perguntar aos Espíritos Superiores qual modelo de liderança está mais próximo da lei de justiça, amor e caridade, a resposta seria clara: aquele que promove o bem coletivo, que protege os frágeis, que olha para o futuro da Terra com responsabilidade. Aquele que, mesmo entre erros, opta pela solidariedade. Por isso, sem fanatismo e sem paixões partidárias, reconheçamos que, entre as duas posturas aqui analisadas, a de Lula se mostra mais próxima do Evangelho do Cristo do que a de Trump, cujas ações refletem o endurecimento da alma diante da dor do outro.

O Espiritismo não nos convida a ignorar a política, mas a transcendê-la, enxergando nela um instrumento de evolução coletiva. Que nossas escolhas estejam sempre fundadas na ética do Cristo e nos valores da imortalidade, não para idolatrar homens, mas para promover o bem. Que saibamos, nas pequenas e grandes decisões, optar sempre por aquilo que mais se aproxima do amor ao próximo, da justiça para todos e da paz entre os povos. E na hora de escolher nossos governantes, façamos como Chico: “escolhamos sempre o menos pior.”


Regih Silva