A cultura incel tem se expandido na sociedade contemporânea, sendo retratada em produções audiovisuais como a série Adolescência, da Netflix. A trama gira em torno de Jamie Miller (Owen Cooper), um estudante de 13 anos que enfrenta dificuldades de socialização, nutre ressentimentos contra o sexo oposto e acaba sendo acusado de assassinar uma colega de classe com sete facadas. A série levanta reflexões importantes sobre como a frustração afetiva pode ser canalizada de forma negativa quando não há um suporte emocional adequado. No entanto, ainda que a tecnologia e as redes sociais amplifiquem essa realidade, não podemos ignorar que tais tendências pertencem ao espírito reencarnante, refletindo experiências passadas e predisposições morais que precisam ser trabalhadas nesta existência.
O Espiritismo ensina que cada espírito renasce trazendo consigo as marcas de suas vivências pretéritas, e é dever da família e da sociedade educá-lo, guiando-o para o caminho do bem. Como destaca Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, na questão 208: “Desde o berço a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior; é necessário que os pais estudem essas tendências”. Mais do que isso, os Espíritos dos pais exercem uma influência direta sobre os filhos, mesmo após o nascimento. Como os Espíritos têm a missão de contribuir para o progresso uns dos outros, os pais são responsáveis por desenvolver o espírito dos filhos por meio da educação. “Constitui-lhes isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho”. A omissão na formação moral dos filhos pode trazer consequências graves para sua trajetória evolutiva, bem como para o equilíbrio da sociedade.
O estudo dos fenômenos da alma nos mostra que a manifestação da maldade pode ocorrer desde a infância. Um caso impactante foi registrado na Revista Espírita de 1858, onde Kardec analisa a história de um menino de 12 anos que assassinou cinco crianças. Resumidamente, ele trancou cinco crianças dentro de um baú e as deixou lá até a morte. Quando uma testemunha revelou o ocorrido, ele confessou tudo, com o maior sangue-frio e sem demonstrar arrependimento. Seguindo no artigo, Kardec interroga o Espírito da irmã de um médium, “que desencarnou há doze anos e sempre mostrou superioridade como Espírito”. Dentre as respostas, destaca-se esta reflexão:
─ Que motivos teriam impelido um menino daquela idade a cometer uma ação tão atroz e com tamanho sangue-frio? ─ “A maldade não tem idade”. Ela é natural numa criança e raciocinada no homem adulto.
Chico Xavier, ao refletir sobre a infância e a delinquência juvenil, alertou: “Hoje ouvimos falar de muitos crimes cometidos por meninos de 10, 14 anos… Deveríamos tratar de códigos que dessem a maioridade aos 14 anos. A criança é chamada a memorizar as suas vidas passadas muito depressa, motivada pela televisão, etc. Precisávamos da criação de leis que ajudem a criança a não se fazer delinquente nem viciada.” Essa visão ressalta a necessidade de um acompanhamento atento desde a infância, pois a formação moral não pode ser terceirizada ao governo ou à escola, mas sim consolidada no seio familiar, onde a alma reencarnante encontra os primeiros referenciais de conduta.
No que diz respeito à influência da tecnologia, é essencial compreender que jogos violentos, filmes e redes sociais não criam psicopatas, mas podem estimular tendências latentes quando não há uma base emocional e moral bem estruturada. Espíritos já propensos à violência e à frustração podem encontrar nesses meios uma válvula de escape para seus sentimentos destrutivos. Isso reforça a necessidade do acompanhamento familiar e do ensino de valores como respeito, empatia e autoconhecimento, para que os jovens aprendam a lidar com suas emoções de forma equilibrada.
A cultura incel, em sua essência, reflete espíritos que carregam consigo frustrações e sentimentos de inadequação, muitas vezes agravados pela ausência de orientação e acolhimento familiar. Em vez de alimentar a vitimização e a revolta, é dever dos pais e educadores promover uma visão mais espiritualizada da vida, mostrando que desafios afetivos fazem parte do aprendizado terreno e que o verdadeiro valor de cada indivíduo não está na aceitação externa, mas na evolução interior.
A transformação social e espiritual começa na educação da alma. Se queremos um futuro onde a intolerância e o ódio não tenham espaço, devemos, desde cedo, plantar as sementes do amor, da responsabilidade e do respeito ao próximo. Como certa vez falou um grande confrade: "A criança bem educada no presente, será menos um obsessor no futuro".
Regih Silva
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