27 de março de 2025

MARX E KARDEC: IDEIAS OPOSTAS OU CAMINHOS COMPLEMENTARES?

 


Embora Karl Marx e Allan Kardec defendam contextos distintos, há um ponto em comum em suas reflexões: a crítica à religião como ferramenta de alienação. Marx via a religião como um mecanismo que mantinha as pessoas anestesiadas, fazendo com que aceitassem passivamente as dificuldades da vida sem questionar as estruturas de poder que as oprimiam. Para ele, a fé, ao invés de libertar, muitas vezes servia como um consolo ilusório, desviando a atenção das injustiças sociais.

Kardec, por sua vez, não negava a importância da espiritualidade, mas se opunha ao dogmatismo e à imposição cega de crenças. Ele defendia um espiritismo baseado na razão, na investigação e no progresso moral, sem sacerdotes, rituais ou hierarquias que submetessem o indivíduo a uma fé imposta. Seu objetivo não era substituir a religião por outro tipo de crença passiva, mas sim estimular o pensamento livre e consciente sobre a existência e a espiritualidade.

Se, para Marx, a religião era um ópio que amortecia a dor da realidade sem resolvê-la, para Kardec, o conhecimento espiritual deveria ser um instrumento de libertação, ajudando o ser humano a compreender sua jornada de forma mais lúcida e autônoma. O espiritismo, em sua essência, não buscava prender, mas despertar.

Marx e Kardec: uma possível conexão

Uma tese intrigante foi levantada no Brasil pelo pesquisador espírita Clóvis Nunes, um dos mais respeitados especialistas em Transcomunicação Instrumental (TCI). Segundo ele, um personagem misterioso mencionado no livro "Obras Póstumas", de Allan Kardec, poderia ser ninguém menos que Karl Marx.

No diário de Kardec, há o relato de uma sessão mediúnica realizada em 30 de abril de 1856, na qual ele recebeu a primeira revelação de sua missão como codificador do espiritismo. Durante essa comunicação, outro homem presente à reunião, chamado apenas de "Sr. M.", também foi citado:

“(...) A ti, M..., a espada que não fere, porém mata; contra tudo o que é, serás tu o primeiro a vir. Ele, Rivail, virá em segundo lugar: é o obreiro que reconstrói o que foi demolido.”

Kardec descreveu o Sr. M. como um jovem de opiniões extremas, envolvido com política e com necessidade de agir discretamente. No entanto, afirmou que ele era um homem pacífico, embora comprometido com a ideia de uma revolução.

Mais tarde, em uma nova sessão mediúnica, Kardec questionou o Espírito da Verdade sobre esse personagem:

Kardec: Que pensa de M...? É homem que venha a influir nos acontecimentos?
Espírito Verdade: "Muito ruído. Ele tem boas ideias; é homem de ação, mas não é uma cabeça."

O espírito ainda alertou Kardec a não se aproximar dele, pois suas ideias estavam ligadas a um movimento revolucionário de grande impacto.

Segundo Clóvis Nunes, a descrição do Sr. M. corresponde exatamente a Karl Marx, que, de fato, estava em Paris nessa época. A referência à "espada que não fere, porém mata" poderia simbolizar sua influência pacífica como pensador, enquanto o Partido Comunista, personificado nele, seria o responsável pela revolução que "demoliria" a estrutura vigente.

Curiosamente, no clássico "O Capital", de Marx e Engels, há uma nota que menciona o crescente interesse da burguesia europeia pelo espiritismo. Engels, por sua vez, criticava Marx por gastar tempo com o que chamava de "jogo da mesa dançante", referindo-se às reuniões espíritas que ocorriam naquela época.

Contudo, a questão levantada por Marx e Kardec continua relevante: a religião é um instrumento de controle ou um caminho para a emancipação? Enquanto Marx a via como um meio de perpetuar a desigualdade social, Kardec propunha uma nova abordagem espiritual, livre de imposições e aberta ao questionamento.

A possibilidade de que Marx e Kardec tenham se cruzado, mesmo que indiretamente, traz um novo ângulo para essa discussão. Se Marx buscava destruir as ilusões que mantinham o povo submisso, Kardec propunha uma nova forma de compreender a existência, baseada na razão e no livre pensamento.

Ambos, à sua maneira, sugerem que a verdadeira evolução do ser humano está no conhecimento e na liberdade de pensar. Assim, cabe a cada um refletir: a fé que sigo me liberta ou me aprisiona?

Regih Silva 

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