7 de abril de 2025

A SÍNDROME DE ESTOCOLMO E O COMPLEXO DE CULPA À LUZ DO ESPIRITISMO



A Síndrome de Estocolmo, na psicologia, caracteriza-se pela relação de dependência emocional e identificação da vítima com seu agressor. No campo espiritual, podemos traçar um paralelo com o complexo de culpa que muitas almas desencarnadas carregam, mantendo-se presas ao sofrimento e à expiação, sem avançar para a reparação de seus atos.

No livro O Céu e o Inferno, Allan Kardec esclarece que o verdadeiro caminho da redenção espiritual passa por três estágios fundamentais:

  1. Arrependimento - O reconhecimento sincero do erro cometido.

  2. Expiação - A vivência das consequências dos atos praticados, que leva à reflexão e ao aprendizado.

  3. Reparação - Ações concretas para corrigir o dano causado, promovendo o bem onde antes houve o mal.

Kardec destaca que "o arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa". Dessa forma, apenas sofrer não basta para obter o perdão divino; é necessário agir de maneira transformadora.

Infelizmente, tanto encarnados quanto desencarnados podem permanecer estacionados na expiação, acreditando que o sofrimento em si é suficiente para a purificação. Esse comportamento reflete o complexo de culpa, onde a alma se considera indigna de redenção e, ao invés de buscar a evolução, se afunda no vitimismo. Tal atitude é inútil perante a justiça divina, pois não contribui para a verdadeira reabilitação espiritual.

Na Síndrome de Estocolmo, temos o algoz de ontem acreditando que deve padecer dos equívocos que realizou, sendo vítima no agora. Ledo engano. O Espiritismo nos ensina que não há justiça na troca cega de papéis entre opressor e oprimido; a verdadeira redenção está na transformação interior e na prática do bem.

Podemos exemplificar isso com o caso de um senhor que, em uma existência passada, foi um senhor de escravos cruel e impiedoso. Ao reencarnar, por remorso inconsciente, pode atrair situações de sofrimento extremo, aceitando-se como explorado ou humilhado. No entanto, essa vivência, se não acompanhada de um real esforço de reparação, apenas prolonga o ciclo de dor. A verdadeira redenção viria se ele, compreendendo seus erros, se tornasse um defensor da dignidade humana, trabalhando em prol da igualdade e educação, por exemplo.

Para exemplificar, podemos pensar também em uma mulher que, por diversas circunstâncias, tenha cometido um aborto e, mais tarde, por questões físicas, não possa mais engravidar. Se ela reconhece seu erro e deseja se redimir, sua reparação pode vir pela adoção de uma criança ou pela dedicação à educação infantil, auxiliando outras vidas. Dessa forma, ela não apenas aceita a responsabilidade de seu ato, mas transforma sua existência em um canal de amor e aprendizado.



Pelo complexo de culpa, muitos espíritos têm sofrido e per
manecido presos nas zonas umbralinas, sem aceitar o caminho da reparação. A obra de André Luiz, psicografada por Chico Xavier, traz vários relatos dessa realidade. Em Nosso Lar, vemos o caso de muitos desencarnados que se fixam no Umbral, envoltos em sentimentos de culpa e autopenitência, recusando-se a buscar o amparo e a evolução. O próprio André Luiz, inicialmente, encontra-se nessa situação, sofrendo os tormentos de sua consciência e acreditando-se indigno do perdão. Somente ao reconhecer suas falhas e aceitar a oportunidade de aprendizado é que ele consegue se libertar e dar início à sua jornada de reabilitação.

A reencarnação, como expressão da justiça e misericórdia divinas, nos possibilita novas oportunidades de reparação. Deus não deseja o sofrimento eterno de suas criaturas, mas sim seu progresso. Assim, a verdadeira "salvação" não está no padecimento, mas na reconstrução do bem onde antes houve o erro.

O Espiritismo nos ensina que somos todos falíveis e passíveis de erro, mas também nos convida à reflexão e à responsabilidade por nossos atos. O complexo de culpa apenas nos aprisiona, enquanto a verdadeira libertação espiritual está na consciência tranquila e no amor ao próximo. Somente através da reparação podemos efetivamente apagar os traços de nossas faltas e nos elevar na escala evolutiva rumo à perfeição.

Regih Silva

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