9 de abril de 2025

O PERIGO DOS CHARLATÕES: QUANDO A MENTIRA SE DISFARÇA DE ESPIRITUALIDADE



Creio que ainda em 2022, fui alertado pela espiritualidade amiga sobre a nova onda de charlatães que surgiria. Eles substituiriam a psicofonia pela chamada “canalização”, trocariam espíritos por extraterrestres, guardiões e transformariam casas e centros espíritas em grupos sem qualquer compromisso com a verdade. 

A mentira correria solta.

Um exemplo marcante é o do Pedro Augusto um suposto médium que alega dar passividade a exus, pombas-giras, extraterrestres e, pasmem, até a Jesus e Deus! Seu misticismo fraudulento mistura tudo em um verdadeiro balaio. Às vezes, chego a pensar que, antes de ser um farsante, trata-se de um caso típico para a psiquiatria. Em todo caso, não é uma pessoa confiável. Teve a audácia de afirmar ser a reencarnação de Allan Kardec – mais uma vez, pasmem os senhores!

Mas ele não está sozinho. Há muitos outros dentro do meio espírita e espiritualista, verdadeiros “coachs” do ocultismo, à la Pablo Marçal. Muita mentira, pouquíssima verdade e um enorme interesse financeiro por trás. Desde os tempos de Kardec, essa gente já existia, e o próprio codificador, sempre que possível, desmascarava-os sem hesitação. E nos advertia: "Se há verdadeiros profetas, há também os falsos e ainda em maior número, que tomam os devaneios da própria imaginação por revelações, quando não se trata de mistificadores que o fazem por ambição."

Além do evidente charlatanismo, há um erro doutrinário grave na alegação de que um médium pode dar passividade a espíritos de ordens tão distintas, especialmente a Jesus e Deus. Segundo a codificação espírita, os espíritos se comunicam dentro dos limites de sua afinidade fluídica e moral com o médium. Espíritos inferiores só se manifestam por meio de médiuns cuja sintonia moral e fluídica lhes permite essa influência. Da mesma forma, espíritos elevados necessitam de médiuns moralmente preparados, com propósitos sérios e desinteressados.

Em O Livro dos Médiuns, Kardec ensina que "os Espíritos superiores não se prestam a dar espetáculos e se afastam dos que buscam desvirtuar sua missão com frivolidades ou interesses materiais." Ora, se isso vale para os espíritos elevados, quanto mais para Jesus, um Espírito puro, cuja presença não se manifesta por via mediúnica comum, mas sim por inspiração profunda àqueles que realmente se afinam com sua mensagem.

Sobre Jesus, O Evangelho Segundo o Espiritismo deixa claro que sua missão na Terra foi única, e ele não se manifestaria de maneira banal ou sem uma razão grandiosa. Qualquer alegação de sua presença constante em reuniões mediúnicas não condiz com o que ensina a Doutrina Espírita.

Já em relação a Deus, Kardec é categórico: "Deus não se comunica diretamente com os homens; Ele lhes envia seus espíritos para transmitir sua vontade." (O Livro dos Espíritos, questão 11). Portanto, qualquer um que afirme "receber" Deus em psicofonia ou incorporação não apenas ignora a doutrina espírita, mas demonstra ou fraude, ou delírio.

O perigo desses falsários é evidente: exploram a fé alheia, abusam de conceitos legítimos e distorcem ensinamentos espirituais para benefício próprio. Cabe a cada um de nós manter a vigilância e o discernimento, para que a verdade não seja soterrada pelo espetáculo da mentira.

Regih Silva




8 de abril de 2025

O QUE TEM AFASTADO PESSOAS DO ESPIRITISMO? UM CONVITE À REFLEXÃO E À AUTOCRÍTICA

 


Recentemente, uma publicação em uma rede social nos chamou atenção ao trazer um dado importante: segundo pesquisa do Datafolha realizada em São Paulo, cerca de 10% dos espíritas migraram para o meio evangélico em 2024. O número, por si só, é expressivo, mas mais importante do que os números são as perguntas que a página fez:

“O que tem afastado tantas pessoas do Espiritismo? Estaria faltando acolhimento em nossos centros? Temos oferecido pouco aprofundamento doutrinário? Estaríamos sendo julgadores e excessivamente rígidos? Ou será que estamos falhando na vivência real do Evangelho?”

Essas questões são válidas e merecem reflexão sincera e desapegada de vaidades institucionais. Afinal, o Espiritismo, que se apresenta como o Cristianismo redivivo, não pode se furtar ao compromisso de se autoanalisar com honestidade. E essa análise começa por reconhecer que nem todos os que frequentam casas espíritas, de fato, compreenderam o espírito da doutrina que ali se estuda.

Muitos dos que se afastam talvez nunca tenham compreendido, de fato, a essência libertadora do Espiritismo. Estiveram presentes fisicamente, mas espiritualmente ainda estavam presos a estruturas religiosas antigas, marcadas pelo medo, pela culpa, pela punição e pela terceirização da responsabilidade.

Ao encontrarem em algumas seitas evangélicas uma linguagem mais simples, um ambiente mais emocional e uma fé calcada em promessas imediatistas, identificaram ali um terreno mais compatível com suas expectativas religiosas — muitas vezes ainda ancoradas no Antigo Testamento e na ideia de um Deus vingador e exclusivista. Não julgamos, apenas constatamos uma realidade evolutiva: cada consciência está em seu tempo.

Vale ressaltar que quando mencionamos “seitas evangélicas”, não nos referimos às diversas congregações evangélicas sérias, nem aos nossos irmãos evangélicos sinceros que verdadeiramente vivem os ensinamentos de Jesus. Pelo contrário, reconhecemos e respeitamos o esforço de muitos em viver o Evangelho com amor e dedicação. A crítica aqui se direciona a movimentos religiosos que se utilizam do nome de Cristo para difundir o medo, a intolerância, a barganha espiritual e a manipulação emocional.

O Espiritismo não se propõe a agradar conveniências. Ele nos chama à responsabilidade pessoal, afirmando, como disse Jesus: "A cada um segundo as suas obras" (Mateus 16:27). A doutrina espírita não oferece salvação fácil, tampouco perdão mágico. Ela convida à reforma íntima, ao autoencontro, à superação das próprias imperfeições.

Essa proposta é, para muitos, desconfortável. Requer estudo, esforço, vigilância e, sobretudo, humildade para reconhecer que o maior inimigo não está fora, mas dentro de nós. E isso exige maturidade espiritual.

Jesus, sabendo das limitações dos seus discípulos e do tempo necessário à compreensão das verdades espirituais, prometeu enviar um Consolador, segundo o Evangelho de João:

“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir.”
(João 16:12-13)

O Espiritismo é esse Consolador prometido. Veio explicar, ampliar, recordar e vivificar os ensinamentos de Jesus. Veio nos lembrar de que Deus é Amor e Justiça, e que somos todos filhos do mesmo Pai. Veio nos tirar das sombras da superstição e nos reconduzir à luz da fé raciocinada.

É preciso reconhecer que, se pessoas se afastam do Espiritismo por não se sentirem acolhidas, ou por não encontrarem respostas profundas, a responsabilidade é, em parte, nossa. Estamos, de fato, vivendo o Evangelho?

Nossas casas espíritas são ambientes de amor, escuta e caridade? Ou nos tornamos rígidos, teóricos e frios?

O conhecimento doutrinário é fundamental, mas se não vier acompanhado de vivência evangélica, ele se torna árido e estéril. É necessário evangelizar o coração, não apenas o intelecto.

Não se trata de atrair multidões, mas de tocar consciências. Não se trata de agradar, mas de transformar. E isso só é possível pelo exemplo.

Contudo, o Espiritismo é uma doutrina de luz, mas essa luz só ilumina quando acendemos o próprio interior. Não devemos temer as perdas numéricas, mas refletir sobre o que estamos oferecendo — e como estamos oferecendo. O verdadeiro espírita se reconhece pelo esforço que faz para domar suas más inclinações.

Se queremos que o Espiritismo permaneça como farol seguro, devemos torná-lo vivo em nossas atitudes. O Evangelho não se prega apenas com palavras, mas com gestos.

Que o Consolador prometido continue nos inspirando — e que nós sejamos dignos de levá-lo adiante com humildade, fé e caridade.

 

Regih Silva

7 de abril de 2025

A SÍNDROME DE ESTOCOLMO E O COMPLEXO DE CULPA À LUZ DO ESPIRITISMO



A Síndrome de Estocolmo, na psicologia, caracteriza-se pela relação de dependência emocional e identificação da vítima com seu agressor. No campo espiritual, podemos traçar um paralelo com o complexo de culpa que muitas almas desencarnadas carregam, mantendo-se presas ao sofrimento e à expiação, sem avançar para a reparação de seus atos.

No livro O Céu e o Inferno, Allan Kardec esclarece que o verdadeiro caminho da redenção espiritual passa por três estágios fundamentais:

  1. Arrependimento - O reconhecimento sincero do erro cometido.

  2. Expiação - A vivência das consequências dos atos praticados, que leva à reflexão e ao aprendizado.

  3. Reparação - Ações concretas para corrigir o dano causado, promovendo o bem onde antes houve o mal.

Kardec destaca que "o arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa". Dessa forma, apenas sofrer não basta para obter o perdão divino; é necessário agir de maneira transformadora.

Infelizmente, tanto encarnados quanto desencarnados podem permanecer estacionados na expiação, acreditando que o sofrimento em si é suficiente para a purificação. Esse comportamento reflete o complexo de culpa, onde a alma se considera indigna de redenção e, ao invés de buscar a evolução, se afunda no vitimismo. Tal atitude é inútil perante a justiça divina, pois não contribui para a verdadeira reabilitação espiritual.

Na Síndrome de Estocolmo, temos o algoz de ontem acreditando que deve padecer dos equívocos que realizou, sendo vítima no agora. Ledo engano. O Espiritismo nos ensina que não há justiça na troca cega de papéis entre opressor e oprimido; a verdadeira redenção está na transformação interior e na prática do bem.

Podemos exemplificar isso com o caso de um senhor que, em uma existência passada, foi um senhor de escravos cruel e impiedoso. Ao reencarnar, por remorso inconsciente, pode atrair situações de sofrimento extremo, aceitando-se como explorado ou humilhado. No entanto, essa vivência, se não acompanhada de um real esforço de reparação, apenas prolonga o ciclo de dor. A verdadeira redenção viria se ele, compreendendo seus erros, se tornasse um defensor da dignidade humana, trabalhando em prol da igualdade e educação, por exemplo.

Para exemplificar, podemos pensar também em uma mulher que, por diversas circunstâncias, tenha cometido um aborto e, mais tarde, por questões físicas, não possa mais engravidar. Se ela reconhece seu erro e deseja se redimir, sua reparação pode vir pela adoção de uma criança ou pela dedicação à educação infantil, auxiliando outras vidas. Dessa forma, ela não apenas aceita a responsabilidade de seu ato, mas transforma sua existência em um canal de amor e aprendizado.



Pelo complexo de culpa, muitos espíritos têm sofrido e per
manecido presos nas zonas umbralinas, sem aceitar o caminho da reparação. A obra de André Luiz, psicografada por Chico Xavier, traz vários relatos dessa realidade. Em Nosso Lar, vemos o caso de muitos desencarnados que se fixam no Umbral, envoltos em sentimentos de culpa e autopenitência, recusando-se a buscar o amparo e a evolução. O próprio André Luiz, inicialmente, encontra-se nessa situação, sofrendo os tormentos de sua consciência e acreditando-se indigno do perdão. Somente ao reconhecer suas falhas e aceitar a oportunidade de aprendizado é que ele consegue se libertar e dar início à sua jornada de reabilitação.

A reencarnação, como expressão da justiça e misericórdia divinas, nos possibilita novas oportunidades de reparação. Deus não deseja o sofrimento eterno de suas criaturas, mas sim seu progresso. Assim, a verdadeira "salvação" não está no padecimento, mas na reconstrução do bem onde antes houve o erro.

O Espiritismo nos ensina que somos todos falíveis e passíveis de erro, mas também nos convida à reflexão e à responsabilidade por nossos atos. O complexo de culpa apenas nos aprisiona, enquanto a verdadeira libertação espiritual está na consciência tranquila e no amor ao próximo. Somente através da reparação podemos efetivamente apagar os traços de nossas faltas e nos elevar na escala evolutiva rumo à perfeição.

Regih Silva

2 de abril de 2025

CHICO XAVIER: O HOMEM QUE NOS ENSINOU A AMAR





Se Francisco Cândido Xavier estivesse entre nós, completaria mais um ano de vida neste 2 de abril. Mas a verdade é que Chico nunca nos deixou. Sua presença, ainda que invisível aos olhos, continua a iluminar corações e a inspirar aqueles que buscam a paz em um mundo turbulento.

Diante da polarização feroz que assola o Brasil e o mundo, onde o ódio parece ter se tornado um idioma universal, é inevitável perguntar: o que diria Chico Xavier? Como reagiria esse homem que viveu a caridade em sua forma mais pura, sem jamais levantar a voz para dividir, mas sempre para acolher?

Chico nos ensinou que a maior revolução é a do amor. Não um amor teórico, preso às páginas de livros, mas um amor em ação, feito de gestos simples e profundos. Ele não se prendia a rótulos ou a discursos inflamados. Preferia o silêncio da prece ao barulho da intolerância. Se estivesse aqui, provavelmente nos pediria que olhássemos menos para as diferenças e mais para o que nos une.

Certa vez, ao ser questionado sobre sua postura diante das injustiças do mundo, Chico respondeu com humildade que a verdadeira transformação começa dentro de nós. Ele não incentivava o conformismo, mas sim a reforma íntima, a paciência ativa que move montanhas com a força do bem.

Seu compromisso com a verdade também era inabalável. Em uma época em que tanto se fala sobre a autenticidade dos fenômenos mediúnicos, estudos científicos foram conduzidos para verificar a veracidade de suas mensagens. Entre eles, um trabalho conduzido por pesquisadores norte-americanos e até uma análise mencionada por especialistas ligados à NASA apontaram a complexidade e coerência dos escritos de Chico, desafiando qualquer explicação convencional.

Mas Chico nunca precisou da validação da ciência para seguir sua missão. Sua maior prova estava na forma como viveu: com desapego, humildade e compaixão.

Nos últimos anos, alguns tentam associá-lo ao apoio à ditadura militar, baseando-se em sua participação no programa Pinga-Fogo, onde sugeriu que os brasileiros orassem pelos militares. Mas quem conhece a doutrina espírita sabe que a prece nunca foi um sinal de apoio incondicional, e sim um ato de compaixão cristã. O Espiritismo nos ensina que devemos orar até pelos nossos adversários, pois todos são espíritos em evolução.

Além disso, um resgate histórico importante revela outra faceta de Chico. Em 1935, antes mesmo da ditadura, ele psicografou mensagens publicadas pelo jornal O Globo, onde criticava o extremismo e o personalismo na política brasileira, defendendo a democracia como caminho para o progresso da nação. Esses registros mostram que sua essência sempre foi voltada à conciliação e à justiça, nunca ao autoritarismo.

Para compreender a postura de Chico Xavier diante do regime militar, é necessário olhar para o cenário da época com honestidade histórica. Caso uma ditadura do proletariado tivesse sido instaurada no Brasil em 1964, o país poderia ter vivenciado:

  • Censura total da imprensa, permitindo apenas meios de comunicação estatais ou alinhados ao regime.

  • Repressão a opositores, com perseguições e prisões de qualquer movimento político contrário.

  • Nacionalização da economia, onde empresas privadas, bancos e terras poderiam ser expropriados.

  • Repressão religiosa e cultural, proibindo religiões e manifestações consideradas "burguesas".

  • Militância obrigatória, impondo a ideologia socialista no ensino e em diversas instituições.

Diante dessa ameaça, Chico pode ter enxergado o regime militar como um "mal menor" naquele momento. Seu pensamento não se pautava em ideologias políticas, mas na busca pelo equilíbrio e pela paz social. No entanto, o que deveria ter sido um governo transitório se prolongou por 21 anos, trazendo graves consequências como censura, tortura, mortes e a perseguição de muitos inocentes.

E foi justamente para alertar sobre os riscos dos extremos que o espírito de Emmanuel, mentor de Chico, transmitiu diversas mensagens desde 1935, alertando contra qualquer regime autoritário, seja de direita ou de esquerda. Emmanuel sempre deixou claro que o caminho da evolução passa pela democracia e pela liberdade de consciência.

Outro ponto que precisa ser abordado é a forma como, anos após sua desencarnação, alguns supostos "amigos" de Chico ainda tentam interpretar suas palavras conforme suas próprias visões. De tempos em tempos, surgem declarações feitas em seu nome, distorcidas ou fora de contexto, como se ele tivesse tomado partido em questões políticas ou sociais específicas. No entanto, quem realmente acompanhou sua trajetória sabe que Chico jamais impôs suas opiniões e sempre buscou o entendimento entre as diferenças. Ele não pregava o medo, nem alimentava teorias alarmistas, mas sim a esperança e a fé na regeneração do mundo.

Em tempos de radicalismos e discursos inflamados, sua resposta seria clara: amar, compreender, perdoar. O extremismo jamais encontrou espaço em seu coração.

Se hoje, tantos anos após sua partida, ainda nos perguntamos qual seria sua posição diante dos desafios contemporâneos, talvez a resposta esteja na simplicidade de seus gestos. Chico Xavier não escolheria um lado, mas sim a paz. Não atacaria, mas acolheria. Não se exasperaria, mas oraria.

E talvez, se prestarmos atenção, possamos ouvir sua voz suave nos lembrando que, no fim das contas, só o amor constrói.


Regih Silva





31 de março de 2025

A CULTURA INCEL E A EDUCAÇÃO À LUZ DO ESPIRITISMO




A cultura incel tem se expandido na sociedade contemporânea, sendo retratada em produções audiovisuais como a série Adolescência, da Netflix. A trama gira em torno de Jamie Miller (Owen Cooper), um estudante de 13 anos que enfrenta dificuldades de socialização, nutre ressentimentos contra o sexo oposto e acaba sendo acusado de assassinar uma colega de classe com sete facadas. A série levanta reflexões importantes sobre como a frustração afetiva pode ser canalizada de forma negativa quando não há um suporte emocional adequado. No entanto, ainda que a tecnologia e as redes sociais amplifiquem essa realidade, não podemos ignorar que tais tendências pertencem ao espírito reencarnante, refletindo experiências passadas e predisposições morais que precisam ser trabalhadas nesta existência.

O Espiritismo ensina que cada espírito renasce trazendo consigo as marcas de suas vivências pretéritas, e é dever da família e da sociedade educá-lo, guiando-o para o caminho do bem. Como destaca Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, na questão 208: “Desde o berço a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior; é necessário que os pais estudem essas tendências”. Mais do que isso, os Espíritos dos pais exercem uma influência direta sobre os filhos, mesmo após o nascimento. Como os Espíritos têm a missão de contribuir para o progresso uns dos outros, os pais são responsáveis por desenvolver o espírito dos filhos por meio da educação. “Constitui-lhes isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho”. A omissão na formação moral dos filhos pode trazer consequências graves para sua trajetória evolutiva, bem como para o equilíbrio da sociedade.

O estudo dos fenômenos da alma nos mostra que a manifestação da maldade pode ocorrer desde a infância. Um caso impactante foi registrado na Revista Espírita de 1858, onde Kardec analisa a história de um menino de 12 anos que assassinou cinco crianças. Resumidamente, ele trancou cinco crianças dentro de um baú e as deixou lá até a morte. Quando uma testemunha revelou o ocorrido, ele confessou tudo, com o maior sangue-frio e sem demonstrar arrependimento. Seguindo no artigo, Kardec interroga o Espírito da irmã de um médium, “que desencarnou há doze anos e sempre mostrou superioridade como Espírito”. Dentre as respostas, destaca-se esta reflexão:

─ Que motivos teriam impelido um menino daquela idade a cometer uma ação tão atroz e com tamanho sangue-frio? ─ “A maldade não tem idade”. Ela é natural numa criança e raciocinada no homem adulto.

Chico Xavier, ao refletir sobre a infância e a delinquência juvenil, alertou: “Hoje ouvimos falar de muitos crimes cometidos por meninos de 10, 14 anos… Deveríamos tratar de códigos que dessem a maioridade aos 14 anos. A criança é chamada a memorizar as suas vidas passadas muito depressa, motivada pela televisão, etc. Precisávamos da criação de leis que ajudem a criança a não se fazer delinquente nem viciada.” Essa visão ressalta a necessidade de um acompanhamento atento desde a infância, pois a formação moral não pode ser terceirizada ao governo ou à escola, mas sim consolidada no seio familiar, onde a alma reencarnante encontra os primeiros referenciais de conduta.

No que diz respeito à influência da tecnologia, é essencial compreender que jogos violentos, filmes e redes sociais não criam psicopatas, mas podem estimular tendências latentes quando não há uma base emocional e moral bem estruturada. Espíritos já propensos à violência e à frustração podem encontrar nesses meios uma válvula de escape para seus sentimentos destrutivos. Isso reforça a necessidade do acompanhamento familiar e do ensino de valores como respeito, empatia e autoconhecimento, para que os jovens aprendam a lidar com suas emoções de forma equilibrada.

A cultura incel, em sua essência, reflete espíritos que carregam consigo frustrações e sentimentos de inadequação, muitas vezes agravados pela ausência de orientação e acolhimento familiar. Em vez de alimentar a vitimização e a revolta, é dever dos pais e educadores promover uma visão mais espiritualizada da vida, mostrando que desafios afetivos fazem parte do aprendizado terreno e que o verdadeiro valor de cada indivíduo não está na aceitação externa, mas na evolução interior.

A transformação social e espiritual começa na educação da alma. Se queremos um futuro onde a intolerância e o ódio não tenham espaço, devemos, desde cedo, plantar as sementes do amor, da responsabilidade e do respeito ao próximo. Como certa vez falou um grande confrade: "A criança bem educada no presente, será menos um obsessor no futuro".

Regih Silva

27 de março de 2025

MARX E KARDEC: IDEIAS OPOSTAS OU CAMINHOS COMPLEMENTARES?

 


Embora Karl Marx e Allan Kardec defendam contextos distintos, há um ponto em comum em suas reflexões: a crítica à religião como ferramenta de alienação. Marx via a religião como um mecanismo que mantinha as pessoas anestesiadas, fazendo com que aceitassem passivamente as dificuldades da vida sem questionar as estruturas de poder que as oprimiam. Para ele, a fé, ao invés de libertar, muitas vezes servia como um consolo ilusório, desviando a atenção das injustiças sociais.

Kardec, por sua vez, não negava a importância da espiritualidade, mas se opunha ao dogmatismo e à imposição cega de crenças. Ele defendia um espiritismo baseado na razão, na investigação e no progresso moral, sem sacerdotes, rituais ou hierarquias que submetessem o indivíduo a uma fé imposta. Seu objetivo não era substituir a religião por outro tipo de crença passiva, mas sim estimular o pensamento livre e consciente sobre a existência e a espiritualidade.

Se, para Marx, a religião era um ópio que amortecia a dor da realidade sem resolvê-la, para Kardec, o conhecimento espiritual deveria ser um instrumento de libertação, ajudando o ser humano a compreender sua jornada de forma mais lúcida e autônoma. O espiritismo, em sua essência, não buscava prender, mas despertar.

Marx e Kardec: uma possível conexão

Uma tese intrigante foi levantada no Brasil pelo pesquisador espírita Clóvis Nunes, um dos mais respeitados especialistas em Transcomunicação Instrumental (TCI). Segundo ele, um personagem misterioso mencionado no livro "Obras Póstumas", de Allan Kardec, poderia ser ninguém menos que Karl Marx.

No diário de Kardec, há o relato de uma sessão mediúnica realizada em 30 de abril de 1856, na qual ele recebeu a primeira revelação de sua missão como codificador do espiritismo. Durante essa comunicação, outro homem presente à reunião, chamado apenas de "Sr. M.", também foi citado:

“(...) A ti, M..., a espada que não fere, porém mata; contra tudo o que é, serás tu o primeiro a vir. Ele, Rivail, virá em segundo lugar: é o obreiro que reconstrói o que foi demolido.”

Kardec descreveu o Sr. M. como um jovem de opiniões extremas, envolvido com política e com necessidade de agir discretamente. No entanto, afirmou que ele era um homem pacífico, embora comprometido com a ideia de uma revolução.

Mais tarde, em uma nova sessão mediúnica, Kardec questionou o Espírito da Verdade sobre esse personagem:

Kardec: Que pensa de M...? É homem que venha a influir nos acontecimentos?
Espírito Verdade: "Muito ruído. Ele tem boas ideias; é homem de ação, mas não é uma cabeça."

O espírito ainda alertou Kardec a não se aproximar dele, pois suas ideias estavam ligadas a um movimento revolucionário de grande impacto.

Segundo Clóvis Nunes, a descrição do Sr. M. corresponde exatamente a Karl Marx, que, de fato, estava em Paris nessa época. A referência à "espada que não fere, porém mata" poderia simbolizar sua influência pacífica como pensador, enquanto o Partido Comunista, personificado nele, seria o responsável pela revolução que "demoliria" a estrutura vigente.

Curiosamente, no clássico "O Capital", de Marx e Engels, há uma nota que menciona o crescente interesse da burguesia europeia pelo espiritismo. Engels, por sua vez, criticava Marx por gastar tempo com o que chamava de "jogo da mesa dançante", referindo-se às reuniões espíritas que ocorriam naquela época.

Contudo, a questão levantada por Marx e Kardec continua relevante: a religião é um instrumento de controle ou um caminho para a emancipação? Enquanto Marx a via como um meio de perpetuar a desigualdade social, Kardec propunha uma nova abordagem espiritual, livre de imposições e aberta ao questionamento.

A possibilidade de que Marx e Kardec tenham se cruzado, mesmo que indiretamente, traz um novo ângulo para essa discussão. Se Marx buscava destruir as ilusões que mantinham o povo submisso, Kardec propunha uma nova forma de compreender a existência, baseada na razão e no livre pensamento.

Ambos, à sua maneira, sugerem que a verdadeira evolução do ser humano está no conhecimento e na liberdade de pensar. Assim, cabe a cada um refletir: a fé que sigo me liberta ou me aprisiona?

Regih Silva 

24 de março de 2025

REFLEXÕES SOBRE A ACUSAÇÃO DE "DITADURA DO JUDICIÁRIO NO BRASIL"

 



A Doutrina Espírita nos ensina que a justiça divina é infalível e que toda ação tem consequências. Jesus nos orienta a buscar a verdade, pois somente ela nos libertará. Diante das turbulências políticas do Brasil, é necessário refletirmos com base nesses ensinamentos e compreendermos os desafios que atravessamos sob a ótica do progresso moral.  

Nos últimos tempos, tem-se difundido a narrativa de que o Brasil vive uma "ditadura do Judiciário". Essa afirmação, no entanto, não resiste a uma análise criteriosa. O que vemos, na realidade, é a Justiça cumprindo seu papel constitucional de garantir o equilíbrio entre os poderes e a manutenção do Estado Democrático de Direito. O ex-presidente e seus seguidores, inconformados com as consequências de seus atos, criaram essa falácia para enganar aqueles que ainda se deixam levar por discursos inflamados e desprovidos de fundamento.  

O Espiritismo nos ensina que o orgulho e o egoísmo são os maiores entraves ao progresso da humanidade. O ex-presidente, que deveria ter sido um servidor do povo e um exemplo de ética na "Pátria do Evangelho", agiu em sentido contrário, estimulando a desunião e o descrédito das instituições. Agora, diante da iminente responsabilização por seus atos, tenta distorcer a realidade, acusando o Judiciário de perseguição quando, na verdade, apenas colhe os frutos de suas próprias escolhas.  


Exemplo disso é a distorção dos fatos no caso de Débora, manifestante bolsonarista que pode ser condenada a 14 anos de prisão. Narrativas enganosas alegam que ela foi punida apenas por pichar a estátua da Justiça, quando, na verdade, a condenação se deu pela prática de crimes muito mais graves. Além da deterioração do patrimônio tombado, que por si só teria pena branda, ela foi responsabilizada por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado com violência e associação criminosa armada. A sentença reflete a gravidade dos atos cometidos no contexto da tentativa de ruptura institucional em 8 de janeiro de 2023, e não um suposto abuso do Judiciário.  

No último domingo, 16 de março de 2025, uma manifestação flopada demonstrou que a população brasileira, de maneira geral, não mais se deixa enganar. Tentativas de inflar números e criar uma ilusão de apoio popular não alteram o fato de que a verdade sempre prevalece. Como nos ensina Allan Kardec, "Os Espíritos superiores combatem o erro, não com violência, mas com o raciocínio". Assim, devemos agir: combatendo a desinformação com a luz do esclarecimento.  

A crítica ao ministro Alexandre de Moraes, acusado injustamente de autoritarismo, é um reflexo do inconformismo de quem não aceita a Justiça atuando. O verdadeiro ditador não é aquele que faz cumprir as leis, mas sim quem, no poder, tentou desvirtuá-las para seu próprio benefício. Como ensina "O Livro dos Espíritos", a lei de Deus está baseada na justiça, no amor e na caridade, e é sob esses princípios que devemos pautar nosso entendimento dos acontecimentos políticos.  

Diante desse cenário, a postura espírita deve ser de vigilância moral e compromisso com a verdade. Devemos incentivar o diálogo, a busca pelo entendimento e a disseminação de informações corretas, para que a sociedade possa evoluir de forma consciente e responsável. O Brasil caminha para um futuro mais justo e equilibrado, e cabe a cada um de nós contribuir para essa construção com serenidade e discernimento.  

Que possamos, como trabalhadores do bem, atuar para que a justiça, a democracia e o respeito prevaleçam, sempre sob a luz da espiritualidade e da verdade.


Regih Silva