13 de julho de 2025

QUANTOS MAIS VÃO PRECISAR MORRER PARA VOCÊ ENTENDER QUE O AMOR NÃO TEM GÊNERO?



Em 2010, a homofobia fez uma vítima que me deixou com o coração partido. Um jovem de nome Alexandre Ivo foi a vítima da vez. Esse crime brutal mexeu tanto comigo que, na época, para honrar sua memória e homenagear sua mãe, fiz um vídeo para o meu canal no YouTube. Era o mínimo que eu podia fazer. Mais tarde, foi a vez do ambulante Luiz Carlos Ruas, vítima indireta em 2016. Viu algumas pessoas trans sendo agredidas e, ao tentar defendê-las, acabou sendo morto com extrema violência. No ano seguinte, Dandara dos Santos — uma mulher trans — foi brutalmente espancada, torturada e executada a tiros. Seus algozes, sem qualquer traço de humanidade, filmaram tudo e jogaram nas redes sociais. 

O tempo passou. E sabemos que muitas outras vítimas surgiram — nomes, rostos, histórias e sonhos interrompidos. E tudo isso aconteceu enquanto o país elegia um presidente que declarava publicamente frases como: “Ninguém gosta de homossexual, a gente suporta.” Não bastasse o silêncio, parte da sociedade passou a aplaudir esse tipo de pensamento. Semana passada, mais um caso me dilacerou por dentro: Fernando Vilaça da Silva, mais uma possível vítima da homofobia. 

Diante de tudo isso, a pergunta ecoa: onde está o amor ao próximo? O que leva uma pessoa a odiar alguém apenas por sua orientação sexual? Será que esquecemos os ensinamentos do Cristo, que pediu para amarmos uns aos outros como Ele nos amou? A Doutrina Espírita, que tanto preza pelo amor e pela justiça divina, é clara ao condenar qualquer tipo de preconceito ou violência. A questão 886 de O Livro dos Espíritos define a caridade como benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas. Não há exceções. A caridade verdadeira não escolhe gênero, cor, classe social ou orientação sexual. 

Além disso, o Espiritismo nos ensina que o Espírito é eterno, não tem sexo fixo, e que a orientação afetiva de cada um pode ser reflexo de experiências profundas, resgates do passado, provas ou missões que envolvem o amor em suas mais diversas formas. Cada encarnação é uma oportunidade única para desenvolver sentimentos nobres, e a afetividade, inclusive a homoafetiva, é um caminho legítimo de aprendizado e evolução. 

Chico Xavier, em sua emblemática participação no programa Pinga-Fogo, em 1971, foi questionado sobre os homossexuais. Sua resposta foi clara, firme e profundamente cristã. O homossexualismo, tanto quanto a bissexualidade ou a assexualidade, são condições da alma humana. Não devem ser interpretados como fenômenos espantosos, como fenômenos atacáveis pelo ridículo da humanidade. Tanto quanto acontece com a maioria que desfruta de uma sexualidade dita normal, aqueles que são portadores de sentimentos de homossexualidade ou bissexualidade são dignos do nosso maior respeito. E acreditamos que o comportamento sexual na humanidade sofrerá, no futuro, revisões muito grandes...”  

Emmanuel, por sua vez, no livro “Vida e Sexo”, dedica um capítulo inteiro à homossexualidade, onde afirma que esse tipo de expressão afetiva pode representar experiências regenerativas, resgates importantes e até missões espirituais. Não há ali qualquer traço de condenação. Há, sim, uma leitura espiritual elevada, acolhedora, que compreende a diversidade das formas do amor como parte da lei divina. 

E não posso deixar de citar o médico e palestrante espírita Andrei Moreira, que tem sido uma das vozes mais amorosas e lúcidas do movimento espírita atual. Em seus livros e falas, ele nos ensina que ser homossexual não é falha moral, nem erro da criação, mas parte da trajetória do Espírito imortal, que vive muitas experiências encarnatórias, tanto masculinas quanto femininas, buscando desenvolver a afetividade e o amor em sua plenitude. 

E, se ainda houver dúvida, basta olhar para a natureza, obra direta de Deus. Ela nos dá lições de tolerância e diversidade todos os dias. Hoje sabemos que centenas de espécies animais — como pinguins, golfinhos, cisnes, leões e girafas — também manifestam comportamentos homossexuais. A biologia não só reconhece esse fato, como mostra que isso é parte natural da vida. Se a natureza acolhe a diversidade, por que nós, seres dotados de razão e consciência espiritual, ainda nos permitimos odiar? 

A homofobia mata. Mata sonhos, mata corpos, mata esperanças. Mas também fere quem a pratica, pois se distancia da lei maior, a Lei de Amor. Como espíritas, cristãos, ou simplesmente como seres humanos, somos chamados a agir com compaixão, a denunciar a injustiça, a acolher os que sofrem, e a jamais silenciar diante da barbárie. 

Se não pudermos apagar a dor do passado, que ao menos sejamos voz ativa e firme para impedir que novas feridas se abram. Que nossas palavras, escolhas e silêncios não alimentem o ódio, mas promovam a cura. Que sejamos, dia após dia, instrumentos da paz, da justiça e do amor que o Cristo nos ensinou. 

Como me assegurou o espírito Aldo Oliver, em uma frase que nunca mais esqueci: 
“Onde há amor, não há pecado.” 

Porque a ausência do amor, esta sim, é o mais profundo dos pecados. 


Regih Silva

7 de julho de 2025

"TRUMP X LULA: QUEM OUVE OS ESPÍRITOS SUPERIORES?"

 



Vivemos num mundo ainda em marcha rumo à luz, mas profundamente marcado pelos grilhões do egoísmo, do orgulho e da indiferença social. A Terra, como nos ensina a Doutrina Espírita, é um planeta de provas e expiações, onde cada experiência, cada desafio e cada escolha carrega valor educativo para o Espírito. Em meio às convulsões políticas do presente, surgem perguntas que não podemos ignorar: até que ponto os líderes que se erguem nas nações estão afinados com os princípios do Evangelho? Estão suas ações mais próximas da caridade, da justiça e do amor, ou seriam meras expressões do materialismo que ainda impera?

Duas figuras atuais têm gerado intensos debates e sentimentos opostos: Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e Luiz Inácio Lula da Silva, atual presidente do Brasil. Ambos imperfeitos, como todos nós. Contudo, há entre eles diferenças morais e políticas que merecem análise à luz da consciência espírita. Sob a influência de Trump, o Senado americano aprovou medidas que reduzem impostos dos mais ricos, cortam programas sociais fundamentais, desprezam a pauta ambiental e ampliam investimentos na militarização e no fechamento de fronteiras. A quem servem essas escolhas? Aos mais necessitados? Aos marginalizados? Aos que clamam por pão, por saúde, por dignidade? Ou seriam, antes, medidas destinadas a conservar privilégios de poucos à custa do sofrimento de muitos?

Na Doutrina Espírita, aprendemos que toda ação política deve ser avaliada sob o prisma da Lei de Justiça, Amor e Caridade. Emmanuel, mentor de Chico Xavier, foi claro ao afirmar que a fortuna é um empréstimo divino e que todo detentor de poder é responsável perante a coletividade. Cortar auxílios, abandonar os mais vulneráveis, ignorar a ecologia — que é expressão viva da Criação Divina — não é apenas má gestão: é infração grave às Leis de Deus. Tais atitudes não se alinham com o Evangelho de Jesus, tampouco com os apelos dos benfeitores espirituais que clamam por mais compaixão e fraternidade entre os povos.

No Brasil, Lula ergue um discurso mais próximo da consciência social. Em diversos momentos, tem interpelado os empresários quanto ao seu compromisso cristão com os pobres e defendido políticas de inclusão, desenvolvimento sustentável e valorização dos programas de assistência. Seus posicionamentos, mesmo que políticos e não religiosos, ecoam os alertas da espiritualidade superior sobre a urgência de construirmos uma sociedade mais justa, menos desigual e mais respeitosa com a natureza, que é nossa casa comum.

Enquanto Trump representa o endurecimento de fronteiras, o culto ao capital e a frieza diante da miséria, Lula se aproxima, em muitos momentos, do ideal de empatia social, chamando atenção para a insensibilidade das elites e para a necessidade de corresponsabilidade diante das desigualdades. Um corta verbas da saúde, da alimentação e do meio ambiente; o outro as considera essenciais e defende o fortalecimento dessas áreas — mesmo que enfrente a resistência de grupos poderosos.

Nesse contexto, chama atenção uma recente declaração do ex-ministro da Economia Paulo Guedes, agora fora do governo, em que afirma que o sistema tributário brasileiro precisa avançar para cobrar mais impostos dos mais ricos, como os que recebem lucros e dividendos, enquanto aumenta a isenção para quem ganha menos. Guedes classificou como injusto o fato de 60 mil pessoas terem recebido R$ 300 bilhões e não terem pago nada em impostos. Essa fala, vinda de quem ocupou o mais alto posto da economia nacional e que durante seu mandato não conseguiu (ou não quis) concretizar essa justiça fiscal, soa como um tardio reconhecimento do abismo tributário que separa ricos e pobres no Brasil. Revela, ainda, que mesmo aqueles ligados à elite financeira, quando longe do poder, podem enxergar — mesmo que tardiamente — as distorções gritantes de um sistema que privilegia poucos e sobrecarrega os que mais precisam.

Há imperfeições em ambos os líderes, sem dúvida. Mas há também escolhas morais claras, que demonstram qual dos dois busca, mesmo que com tropeços, caminhar em direção à lei do amor.

E diante disso, precisamos olhar para nós mesmos. É fácil julgar as figuras públicas, mas será que, em nossa vida diária, temos escolhido a lógica da fraternidade ou a do acúmulo egoísta? Será que compreendemos que impostos, ainda que mal geridos, são instrumentos de redistribuição? Será que nossa indignação é realmente com a injustiça, ou apenas com aquilo que nos incomoda pessoalmente?

O relatório da Oxfam revela que, desde 2015, o 1% mais rico do planeta acumulou tanta riqueza que seria suficiente para erradicar a pobreza mundial pelos próximos 22 anos. Isso não é apenas uma estatística. É um grito da consciência planetária. É um espelho que reflete o abismo moral que ainda separa o discurso da prática em nossa civilização.

Se pudéssemos perguntar aos Espíritos Superiores qual modelo de liderança está mais próximo da lei de justiça, amor e caridade, a resposta seria clara: aquele que promove o bem coletivo, que protege os frágeis, que olha para o futuro da Terra com responsabilidade. Aquele que, mesmo entre erros, opta pela solidariedade. Por isso, sem fanatismo e sem paixões partidárias, reconheçamos que, entre as duas posturas aqui analisadas, a de Lula se mostra mais próxima do Evangelho do Cristo do que a de Trump, cujas ações refletem o endurecimento da alma diante da dor do outro.

O Espiritismo não nos convida a ignorar a política, mas a transcendê-la, enxergando nela um instrumento de evolução coletiva. Que nossas escolhas estejam sempre fundadas na ética do Cristo e nos valores da imortalidade, não para idolatrar homens, mas para promover o bem. Que saibamos, nas pequenas e grandes decisões, optar sempre por aquilo que mais se aproxima do amor ao próximo, da justiça para todos e da paz entre os povos. E na hora de escolher nossos governantes, façamos como Chico: “escolhamos sempre o menos pior.”


Regih Silva

 

30 de junho de 2025

23 ANOS SEM CHICO? NÃO.... 23 ANOS COM CHICO MAIS VIVO DO QUE NUNCA

 


Hoje, 30 de junho de 2025, completam-se exatos vinte e três anos desde que Francisco Cândido Xavier — o nosso amado Chico — deixou a vestimenta carnal e retornou à Pátria Espiritual.

Era 30 de junho de 2002. Um dia que, para muitos, parecia improvável. O Brasil inteiro explodia em alegria, comemorando o penta campeonato mundial de futebol. E, como haviam anunciado os bons Espíritos, Chico partiria em um dia de júbilo nacional, para que sua volta ao Mundo Maior não fosse marcada pela dor, mas envolta na luz da esperança, da gratidão e da certeza da imortalidade.

Se calaram, então, as cordas vocais do maior médium que já pisou esse solo abençoado. Mas sua voz ecoa até hoje, firme, doce e serena, nos testemunhos de amor, de humildade e de fidelidade a Jesus.

Porém, após sua partida, o que vimos?
Vimos, sim, o Espiritismo, antes irradiando simplicidade e pureza, ser, pouco a pouco, sequestrado por vaidades disfarçadas de saber. Surgiram os que, sedentos de aplausos, vestiram o personagem de "herdeiros do legado", quando, na verdade, jamais entenderam a essência do próprio Chico: amar, servir e silenciar.

De repente, brotaram “amigos íntimos” — muitos que ele sequer mencionava em vida —, agora doutores de si mesmos, proclamando interpretações, teses mirabolantes e opiniões que Chico, com sua ternura e fidelidade aos Espíritos Superiores, jamais endossaria.

Assistimos, entristecidos, alguns médiuns e palestrantes se erguerem acima da própria Doutrina, elitizando o Espiritismo — que Chico sempre definiu como “Jesus de novo no coração do povo” — Transformando o Consolador Prometido em vitrine de vaidades e passarela para egos inflamados.

E, não bastassem os falsos “Emmanuels”, os falsos “André Luiz”, e até os falsos “Chicos” através de médiuns obssediados. Neste ìnterim, 
surgiram os modernos mercadores da fé: os falsos médiuns das redes sociais, que  fingem receber mensagens dos desencarnados, banalizando o invisível e fazendo dos ensinos espíritas instrumento de engajamento e moeda de curtidas.

Mas nem tudo são sombras.
Se, de um lado, os vendilhões modernos montaram suas barracas, de outro, a Obra do Cristo segue viva, pulsante e protegida.

Chico não parou. Como prometeu, segue trabalhando, agora em espírito. E, como ele próprio anunciou: “Quando Emmanuel reencarnar, os papéis se inverterão. Ele será o médium, e eu, o mentor.”

E assim se cumpre.
O jovem Victor Hugo, anunciado há décadas, cresce sob o amparo desse sublime espírito que foi João Evangelista, Kardec e, por fim, Chico Xavier. Porque a Obra nunca foi dos homens. Nunca foi de Chico. Nunca foi de Kardec. É de Jesus!
É Ele, o Divino Mestre, quem sustenta, protege e conduz o Consolador Prometido — luz para os corações e amparo para as almas sedentas de verdade, amor e sentido.

Portanto, que ninguém se engane. A Doutrina Espírita segue em boas mãos.
Mãos invisíveis, mas seguras.
Mãos discretas, mas firmes.
Mãos que não aparecem, mas trabalham incessantemente, sob o comando amoroso de Jesus, o Senhor da Obra.

Gratidão eterna, Chico.
Hoje e sempre, teu exemplo nos guia.
Tua voz ainda consola.
Teu legado permanece, não nas bocas dos que gritam, mas no coração dos que amam, servem e se calam.


Regih Silva/ Irmão menor

23 de junho de 2025

"ESPIRITISMO EM QUEDA? O QUE REALMENTE DEVEMOS APRENDER COM O CENSO DE 2022"

 



Recentemente, algumas páginas e canais que se dizem espíritas ficaram alarmados ao saber que, no último censo de 2022, o número de adeptos do Espiritismo diminuiu — o que me surpreendeu.

Desde que conheci o Espiritismo, lá em 1996, aprendi a não medir sua força por estatísticas, gráficos ou percentuais. Confesso que ver tanto alarde por parte de alguns canais e páginas "espíritas" sobre a suposta “queda numérica” me causou mais estranheza do que preocupação.

Kardec já tinha nos advertido sobre os perigos que rondam o movimento espírita. Não, não são os críticos externos, nem mesmo os materialistas de plantão. Segundo ele, “os adeptos demasiado entusiastas são mais perigosos para a doutrina do que os próprios adversários”. O entusiasmo sem estudo, sem equilíbrio e sem o filtro da razão transforma-se numa arma contra a própria Doutrina. Promove divisões, distorce conceitos e faz brotar “novas revelações” que, quase sempre, não resistem ao crivo da razão e da universalidade, dois pilares inegociáveis da Codificação.

Chico Xavier, também alertava. Sempre fez questão de lembrar que o Espiritismo não é religião de salão nobre ou de cátedras universitárias. Não é terreno para vaidades intelectuais ou para disputas de ego. Lembrando Léon Denis, Chico dizia: "O Espiritismo será no futuro o que os homens fizerem dele." Mas, importante dizer: isso não quer dizer que a Doutrina esteja entregue à sorte das vaidades humanas.

Quem lê com atenção o prefácio de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", percebe que o Espírito da Verdade deixa claro que o Espiritismo é, acima de tudo, obra dos Bons Espíritos, que atuam como um exército invisível, mas eficiente, espalhando-se como “estrelas cadentes” a iluminar consciências e abrir os olhos dos cegos da alma.

Então, com todo respeito a Chico e Denis, ouso complementar: O Espiritismo, em qualquer tempo, será o que os Bons Espíritos quiserem que ele seja.


Sobre o censo de 2022 e essa queda numérica: sim, os números estão aí, mas para mim, a questão é outra. Não é de hoje que o movimento espírita carrega dois grandes obstáculos:
  1. O elitismo doutrinário: Uma triste postura que transforma o Espiritismo numa espécie de clube de intelectuais, afastando justamente aqueles que mais precisam dele — os simples, os sofredores, os humildes. Chico Xavier sempre combateu isso com a maior das suas armas: a caridade prática.
  1. O extremismo ideológico: Nos últimos anos, o movimento espírita também foi contaminado por um fenômeno perigoso: o uso da Doutrina como palanque para discursos políticos extremados. O que temos visto, infelizmente, é um “bolsonarismo espiritualizado”, que tenta justificar o injustificável à luz da Doutrina. Isso, além de trair os ensinamentos de Jesus, abre espaço para as trevas que, como sempre, se aproveitam de corações invigilantes.
Não é novidade que os Espíritos das Trevas tentam, há séculos, sabotar o progresso espiritual da humanidade. Quando encontram brechas em corações desprevenidos, obtêm vitórias parciais. Contudo, a luz é mais forte que as sombras. E cabe a nós, com estudo, vigilância e muita caridade, garantir que a Doutrina continue firme.

Portanto, amigos, deixemos o alarmismo de lado. O Espiritismo não é uma moda que sobe ou desce nas estatísticas. Ele é um movimento de regeneração moral da humanidade. Se os números caíram, talvez seja um filtro natural. Que fiquem os que têm compromisso real com Jesus, Kardec e a caridade.

Enquanto isso, os Bons Espíritos seguem trabalhando. E nós, aqui embaixo, que façamos a nossa parte com humildade, estudo e ação no bem.


Regih Silva

15 de junho de 2025

PERIGO IMINENTE

 


É fato incontestável: o crescimento da extrema direita no mundo é um fenômeno que não pode mais ser ignorado. Aos olhos da espiritualidade, trata-se de um movimento que vai além das estruturas políticas ou sociais. Estamos lidando com o retorno de velhos espíritos, que em outras épocas estiveram à frente de regimes autoritários, fascistas, narcisistas e violentos. Reencarnaram com o objetivo de se reajustar, de redimir os erros do passado, de fazer diferente. Porém, muitos romperam com as próprias programações reencarnatórias. Escolheram, mais uma vez, os atalhos do orgulho e da dominação.

Agora, na carne, esses espíritos tentam reimplantar os métodos de controle que os marcaram em outras existências. Alimentam o ódio, a segregação, o discurso de supremacia e intolerância, naquilo que hoje se chama de neonazismo. Os mesmos discursos que, antes, mancharam a história com sangue, dor e lágrimas, agora retornam disfarçados de “opinião política”, de “liberdade de expressão” ou até de “defesa da família e da pátria”. Mas o perfume do engano não esconde o fedor da violência moral que carregam.

A espiritualidade maior tem feito a sua parte. Não pensemos que estamos desamparados. Mentores, espíritos de luz, guias de elevada condição vibratória estão, incansavelmente, trabalhando nos bastidores da vida. Influenciam pensamentos, inspiram os corações, fortalecem os que lutam pelo bem. 
Porém, como nos ensina a Doutrina Espírita, Deus não faz por nós aquilo que nos compete fazer.

Cada um de nós é chamado a não cair nas tentações do ódio e da mentira. O mal sempre se apresenta com aparência de força, com gritos, com multidões inflamadas, com ares de grandeza. Mas todo ódio, cedo ou tarde, colapsa sobre si mesmo. É um veneno que corrói por dentro, um incêndio que queima os próprios incendiários.
A nossa defesa é moral. A vigilância precisa ser diária. Não podemos alimentar a raiva, o preconceito, o desprezo pelo outro. Não podemos compactuar com discursos que dividem, que humilham, que ameaçam direitos conquistados a duras penas pela humanidade. Precisamos olhar para Jesus, o nosso modelo e guia. O Cristo, o Príncipe da Paz, jamais se valeu da violência para ensinar. Nunca estimulou o ódio, nunca usou a mentira para alcançar multidões. Seu caminho foi o do amor, da misericórdia, da inclusão, da paciência e do perdão.

Emmanuel já advertia, nas páginas de Chico Xavier, que as grandes revoluções do espírito são silenciosas, começam dentro de cada um de nós. E, em uma de suas lições mais contundentes sobre os conflitos humanos, Emmanuel deixa a pergunta que ecoará na consciência da humanidade: Quando cair o último soldado, Jesus contemplará o campo ensopado de lágrimas e sangue, e chamando os contendores perguntará, com justiça: ‘Onde se encontra o vencedor?’”

Aldo Oliver, em sintonia com esse mesmo pensamento, também já nos advertia: “Na guerra são todos perdedores.” E aqui, guerra não significa apenas o confronto armado, mas toda e qualquer forma de guerra moral: ideológica, social, psicológica ou espiritual.

Yvonne do Amaral Pereira também falava dos perigos das obsessões coletivas, que se manifestam quando multidões dão passagem às forças inferiores que vagueiam à procura de brechas.

Portanto, que ninguém se iluda: o perigo é real e iminente, mas a vitória ainda depende de cada escolha pessoal. Que saibamos escolher o amor, mesmo quando for mais fácil odiar. Que saibamos acolher, mesmo quando a maioria preferir excluir. Que sejamos vozes firmes, mas sempre pacíficas. Que o Cristo seja, hoje e sempre, a nossa referência maior.

Se há trevas tentando se espalhar, é porque a luz, em algum lugar, está incomodando. Sejamos essa luz.


Regih Silva

8 de junho de 2025

O CRIME DA PALAVRA E A CUMPLICIDADE DO RISO


Há quem diga que o palco é um território livre. Que ali, tudo pode ser dito em nome do humor, da arte ou da liberdade de expressão. Mas a liberdade, ensinou-nos o Cristo, só é plena quando se alicerça no respeito. Do contrário, é apenas egoísmo disfarçado de direito.

Recentemente, um cidadão que se diz humorista foi condenado a 8 anos de prisão por fazer uso da palavra — esse instrumento sagrado — para ferir. Sim, ferir. Não há outro termo. Ele usou da sua voz para zombar de negros, de mulheres, de homossexuais, de pessoas com HIV e de deficientes. Tudo isso em um "show privado", dizem os defensores. Mas será que o ambiente torna lícito o que é, em essência, criminoso?

Não. Seja no privado ou no público, crime será sempre crime.

Nos ensinamentos do nosso mentor Aldo Oliver, aprendemos algo ainda mais inquietante: o pior não é o autor, mas os fãs. O autor é apenas um. Mas os que riem, os que aplaudem, os que justificam, os que repetem, esses são muitos. E é nessa comunhão mental, fluídica e moral que o preconceito ganha corpo no mundo.

A palavra tem poder criador, como o Verbo Divino que gerou mundos. Mas quando usada para humilhar, ela também pode matar — esperanças, dignidades, afetos.

Há quem critique o chamado “politicamente correto”, como se fosse uma forma de censura. Mas o que é, afinal, ser politicamente correto, senão buscar ser moralmente justo? É recusar-se a rir da dor do outro. É proteger minorias que, historicamente, foram vítimas de exclusão e violência. É colocar o amor onde antes havia zombaria.

E eu lhes digo: no plano espiritual superior, o politicamente correto é lei viva. Lá, não há espaço para o sarcasmo que humilha, para o deboche que marginaliza. Lá, reina a caridade em todas as expressões. Do contrário, não seria Plano Superior — seria Umbral.

O Umbral está repleto de espíritos que, em vida, usaram o verbo para ferir e deformaram muitos com suas palavras venenosas. Lá, eles colhem o que plantaram, experimentando na carne do perispírito as dores que espalharam na carne dos outros.

Não se iludam com a capa do humor. Piada que humilha não é piada — é arma. E quem ri compactua.

O Cristo nunca zombou da dor alheia. Nunca fez graça com os fracos. Nunca relativizou a ofensa. Sigamos o exemplo d’Ele, e não daqueles que fazem da maldade um espetáculo.

Sejamos luz, mesmo na linguagem. Porque no reino do Espírito, cada palavra é um ato. E cada ato constrói — ou destrói — o mundo em que viveremos amanhã.


Regih Silva 

2 de junho de 2025

O AUTISMO NA VISÃO ESPÍRITA: CAUSAS DIVERSAS E REFLEXÕES DOUTRINÁRIAS





O autismo é uma condição complexa que, sob a ótica espírita, deve ser compreendida com respeito, sensibilidade e visão ampla. A Doutrina Espírita não oferece uma explicação única para os desafios que envolvem essa experiência, mas nos ensina que as causas podem ser múltiplas, sempre relacionadas às necessidades evolutivas do espírito reencarnante.

Do ponto de vista espiritual, cada existência é fruto de um planejamento criterioso, onde as provas, expiações e missões são definidas de acordo com o que o espírito necessita vivenciar para seu crescimento moral e intelectual.

No caso do autismo, as possibilidades são diversas:

  • Pode ser resultado de questões ligadas ao planejamento reencarnatório, como um convite ao despertar de valores espirituais;
  • Pode refletir desafios de adaptação do espírito ao novo corpo físico, principalmente quando há um distanciamento longo entre a última encarnação e o retorno à vida material;
  • Pode ter raízes em experiências passadas que exigem vivências de reflexão e transformação interior, favorecendo a reeducação moral;
  • Pode também ser uma experiência destinada ao grupo familiar, como oportunidade de desenvolvimento da paciência, do amor incondicional e da resiliência.

O Espiritismo nos convida a enxergar o autismo não como castigo, mas como um caminho de aprendizado e evolução, tanto para quem vive essa condição quanto para os que o cercam.


A literatura espírita, especialmente as obras da série "A Vida no Mundo Espiritual", psicografadas por Francisco Cândido Xavier, nos oferece importantes reflexões sobre o processo de adaptação dos espíritos ao renascimento físico.

Ao estudar com amigos do grupo facespírita o livro No Mundo Maior, encontramos a seguinte informação em seu capítulo 17. Logo pensei: não estaria aí um dos casos do autismo?

Vejamos:

No capítulo "No Limiar das Cavernas", André Luiz narra sua experiência ao visitar o "Baixo Umbral", uma região do plano espiritual marcada pelo sofrimento e pela estagnação moral.

Nessa região sombria, André Luiz observa que alguns espíritos, apesar de possuírem grande capacidade intelectual, encontravam-se profundamente endurecidos moralmente. Por amor e justiça divina, esses espíritos são encaminhados para experiências de reeducação que, em alguns casos, envolvem atividades laboriosas junto à natureza ou futuras reencarnações em condições que favoreçam seu reequilíbrio emocional e moral.

Essa realidade pode nos levar a refletir que, em algumas situações, o autismo — sobretudo em seus graus mais severos — pode estar relacionado a essa readaptação do espírito ao processo evolutivo, preparando-o, de forma progressiva, para o convívio social e a harmonização afetiva, após longos períodos de desequilíbrio ou isolamento emocional no plano espiritual.

Antes de qualquer julgamento apressado, é importante recordar que O Livro dos Espíritos, obra basilar da Doutrina Espírita, já aborda a atuação de espíritos no seio da natureza.

Nas questões 536 a 540, Kardec questiona os Espíritos Superiores sobre a organização dos fenômenos naturais e a relação dos desencarnados com esses eventos. As respostas indicam que:

  • Os espíritos, em diferentes graus de evolução, colaboram com a harmonia e o funcionamento das forças naturais;
  • A atuação desses espíritos varia conforme sua capacidade e entendimento;
  • O trabalho na natureza é também uma forma de aprendizado e regeneração para muitos espíritos que, necessitados de progresso, encontram nessas atividades um caminho de reconexão com as Leis Divinas.

Essa passagem do Livro dos Espíritos harmoniza-se com o que André Luiz narra em No Mundo Maior, mostrando que, antes mesmo da reencarnação, o espírito pode passar por longos processos de reeducação e readaptação, tanto nas regiões inferiores quanto na matéria, o que pode refletir-se em suas condições físicas e mentais ao nascer.

Portanto, o autismo, assim como tantas outras condições humanas, é uma oportunidade de aprendizado e evolução espiritual, tanto para o espírito reencarnado quanto para aqueles que convivem com ele.

A Doutrina Espírita não nos convida ao julgamento, mas sim à compreensão amorosa e ao respeito pelas diferentes trajetórias evolutivas. Cada caso é único, e por trás de cada desafio há um propósito superior, estabelecido pela sabedoria divina para o progresso moral e intelectual do ser imortal.


Regih Silva