
Regih Silva
Regih Silva
O autismo é uma condição complexa que, sob a ótica espírita, deve ser compreendida com respeito, sensibilidade e visão ampla. A Doutrina Espírita não oferece uma explicação única para os desafios que envolvem essa experiência, mas nos ensina que as causas podem ser múltiplas, sempre relacionadas às necessidades evolutivas do espírito reencarnante.
Do ponto de vista espiritual, cada existência
é fruto de um planejamento criterioso, onde as provas, expiações e missões são
definidas de acordo com o que o espírito necessita vivenciar para seu
crescimento moral e intelectual.
No caso do autismo, as possibilidades são
diversas:
O Espiritismo nos convida a enxergar o autismo não como castigo, mas como um caminho de aprendizado e evolução, tanto para quem vive essa condição quanto para os que o cercam.
A literatura espírita, especialmente as obras
da série "A Vida no Mundo Espiritual", psicografadas por Francisco
Cândido Xavier, nos oferece importantes reflexões sobre o processo de adaptação
dos espíritos ao renascimento físico.
Ao estudar com amigos do grupo facespírita
o livro No Mundo Maior, encontramos a seguinte informação em seu
capítulo 17. Logo pensei: não estaria aí um dos casos do autismo?
Vejamos:
No capítulo "No Limiar das
Cavernas", André Luiz narra sua experiência ao visitar o "Baixo
Umbral", uma região do plano espiritual marcada pelo sofrimento e pela
estagnação moral.
Nessa região sombria, André Luiz observa que
alguns espíritos, apesar de possuírem grande capacidade intelectual,
encontravam-se profundamente endurecidos moralmente. Por amor e justiça divina,
esses espíritos são encaminhados para experiências de reeducação que, em alguns
casos, envolvem atividades laboriosas junto à natureza ou futuras reencarnações
em condições que favoreçam seu reequilíbrio emocional e moral.
Essa realidade pode nos levar a refletir que,
em algumas situações, o autismo — sobretudo em seus graus mais severos — pode
estar relacionado a essa readaptação do espírito ao processo evolutivo,
preparando-o, de forma progressiva, para o convívio social e a harmonização
afetiva, após longos períodos de desequilíbrio ou isolamento emocional no plano
espiritual.
Antes de qualquer julgamento apressado, é
importante recordar que O Livro dos Espíritos, obra basilar da Doutrina
Espírita, já aborda a atuação de espíritos no seio da natureza.
Nas questões 536 a 540, Kardec
questiona os Espíritos Superiores sobre a organização dos fenômenos naturais e
a relação dos desencarnados com esses eventos. As respostas indicam que:
Essa passagem do Livro dos Espíritos
harmoniza-se com o que André Luiz narra em No Mundo Maior, mostrando
que, antes mesmo da reencarnação, o espírito pode passar por longos processos
de reeducação e readaptação, tanto nas regiões inferiores quanto na matéria, o
que pode refletir-se em suas condições físicas e mentais ao nascer.
A Doutrina Espírita não nos convida ao
julgamento, mas sim à compreensão amorosa e ao respeito pelas diferentes
trajetórias evolutivas. Cada caso é único, e por trás de cada desafio há um
propósito superior, estabelecido pela sabedoria divina para o progresso moral e
intelectual do ser imortal.
Regih Silva
Vivemos em uma época em que a ciência, especialmente a neurociência, busca compreender o comportamento humano a partir de uma perspectiva biológica. Nomes como Robert Sapolsky, renomado neurocientista da Universidade de Stanford, vêm ganhando destaque com teses que negam a existência do livre-arbítrio. Em seu livro “Determined – The Science of Life Without Free Will”, Sapolsky afirma que todas as nossas decisões são determinadas por condicionamentos genéticos, traumas infantis, hormônios, estados neurológicos e fatores ambientais. Segundo ele, nossas escolhas são apenas a consequência inevitável de uma combinação de fatores que estão além do nosso controle consciente.
Essa abordagem materialista vê o ser humano
como um organismo condicionado, e sua liberdade como uma ilusão. Porém, quando
olhamos com os olhos do Espírito, percebemos que essa não é toda a verdade.
A ciência vê o corpo. O Espiritismo vê a alma.
Ficamos sabendo que:
Portanto, o corpo não é um acidente biológico,
mas sim um instrumento cuidadosamente escolhido para oferecer ao
Espírito as provas e lições que ele precisa viver.
Na questão 202
de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta:
“Quando somos Espíritos, preferimos encarnar
num corpo de homem ou de mulher?”
E os Espíritos respondem:
“Isso pouco importa ao Espírito; depende das
provas que ele tiver de sofrer.”
Kardec comenta:
“Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres,
porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição
social, oferece-lhes provas e deveres especiais e novas ocasiões de adquirir
experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens.”
Isso deixa evidente que a escolha do sexo
biológico também está subordinada ao planejamento espiritual, e está ligada
ao tipo de experiência, aprendizado e reajuste que o Espírito necessita. Ser
homem ou mulher, assim como nascer em determinada classe social, país ou
cultura, faz parte do cenário necessário à evolução de cada alma.
Mas então, com tanta influência da genética, da biologia e das circunstâncias exteriores... existe mesmo livre-arbítrio?
A resposta nos foi dada com clareza pelo
Espírito Aldo Oliver:
“O verdadeiro livre-arbítrio se dá na
espiritualidade, para os Espíritos que têm condições de escolha, através da
programação reencarnatória. Toda a genética e o organismo físico dizem respeito
a isso. O corpo é apenas o reflexo da escolha espiritual.”
Ou seja, a liberdade espiritual antecede a
vida material. É no plano espiritual, antes de nascer, que o Espírito
escolhe os caminhos que deseja trilhar, os desafios que precisa enfrentar e as
experiências que deseja conquistar. A vida corporal é o palco onde essa escolha
se desenrola, com os limites naturais impostos pela matéria, pela genética e
pelo meio.
Aqui na Terra, o Espírito atua com liberdade
relativa, mas o que vive já foi escolhido em grande parte antes de nascer.
A dor, os encontros, os talentos, as limitações – tudo isso foi previamente
analisado e aceito com responsabilidade. Contudo, ele ainda pode escolher
amar ou odiar, perdoar ou revidar, levantar ou cair.
Ao afirmar que o comportamento humano é
resultado de fatores genéticos e ambientais, os neurocientistas não estão
completamente equivocados. Eles estão apenas olhando o fenômeno de forma
parcial, limitada ao plano físico.
O Espiritismo nos mostra que a matéria é um reflexo
da decisão espiritual. A genética é um instrumento da Lei Divina. O
cérebro é uma ferramenta moldada para servir à experiência da alma.
Enquanto a ciência estuda o instrumento, o
Espiritismo estuda o músico.
Enquanto a ciência investiga o palco, o
Espiritismo revela o autor do roteiro.
Pontando, O livre-arbítrio não é um
presente absoluto, nem tampouco uma ilusão. Ele é uma conquista gradual,
que se amplia à medida que o Espírito evolui. Nas primeiras etapas, agimos mais
por instinto e por condicionamento. Mas, à medida que adquirimos consciência,
passamos a escolher com mais clareza e profundidade.
Na Terra, ainda estamos presos a muitas
influências. Mas a verdadeira liberdade está no espírito, e se manifesta
plenamente no mundo espiritual, onde nossas decisões moldam o corpo, a
genética, as circunstâncias e os caminhos da existência. Logo, Sapolsky está
certo ao afirmar que o corpo age conforme suas heranças e condicionamentos.
Mas, como ensina o Espiritismo, o Espírito escolheu tudo isso antes de
nascer, com liberdade, lucidez e amor. (Quando tem condição de escolher.)
O cérebro é o palco. A alma é o ator. E Deus,
o diretor amoroso e justo que nos oferece sempre novos ensaios.
Regih Silva
Desde os tempos antigos, a humanidade se depara com um questionamento profundo sobre a existência do mal e a bondade de Deus. O chamado "Paradoxo de Epicuro", formulado pelo filósofo grego, desafia a coerência entre a onipotência, a bondade divina e a presença do sofrimento no mundo. Se Deus é onipotente e bondoso, por que permite o mal? Se não pode impedir o mal, então não é onipotente? Se pode e não quer, então não é bom? Essas perguntas intrigam a filosofia e a teologia há séculos.
A Doutrina Espírita, por meio dos ensinamentos de Allan Kardec, apresenta uma resposta fundamentada na justiça e na sabedoria divinas. No capítulo 1 de O Livro dos Espíritos, Kardec questiona os mentores espirituais sobre "O que é Deus?" e a resposta sintetiza uma compreensão inovadora: Deus é a "inteligência suprema, causa primária de todas as coisas". Deste modo, Ele é infinitamente justo e bom, mas sua bondade e onipotência não devem ser analisadas sob uma óptica limitada e humana.
O capítulo 3 de A Gênese esclarece a origem do bem e do mal. Kardec explica que o mal não é uma criação divina, mas sim uma consequência da ignorância e do livre-arbítrio dos seres humanos e dos Espíritos em evolução. Deus, sendo infinitamente justo, concede a cada ser a liberdade de escolha, permitindo que aprenda com seus erros e progrida moralmente. O sofrimento, portanto, não é um castigo divino, mas um mecanismo pedagógico para a evolução.
O Espiritismo também diferencia os tipos de sofrimento. Alguns decorrem de escolhas erradas do próprio indivíduo, enquanto outros são provas necessárias para o crescimento espiritual. Esse entendimento amplia a visão sobre o mal, mostrando que ele não é eterno nem absoluto. O progresso moral da humanidade reduz a presença do sofrimento, e a reencarnação oferece múltiplas oportunidades para que cada ser aprenda e se harmonize com as leis divinas.
Dentro dessa perspectiva, a Doutrina Espírita também esclarece que Satanás, o Diabo ou os demônios não são seres supremos ou entidades rivais de Deus. No entendimento espírita, os chamados "demônios" são apenas Espíritos em estado de grande imperfeição moral, ainda presos às influências do mal e do egoísmo. Não existe um ser dedicado exclusivamente à maldade absoluta, pois todos os Espíritos estão destinados à evolução e ao progresso. Assim, aqueles que hoje ainda praticam o mal, com o tempo e as sucessivas encarnações, irão aprender, amadurecer e se transformar em seres melhores.
O Espiritismo nos convida a compreender que a justiça divina se manifesta a longo prazo e que o mal é apenas a sombra da ignorância, dissipando-se na luz do conhecimento e do amor. Dessa forma, não há contradição entre a bondade de Deus e a existência do sofrimento, pois tudo se encaixa no grande projeto de evolução universal.
Regih Silva