Creio que ainda em 2022, fui alertado pela espiritualidade amiga sobre a nova onda de charlatães que surgiria. Eles substituiriam a psicofonia pela chamada “canalização”, trocariam espíritos por extraterrestres, guardiões e transformariam casas e centros espíritas em grupos sem qualquer compromisso com a verdade.
A mentira correria solta.
Um exemplo marcante é o do Pedro Augusto um suposto médium que alega dar passividade a exus, pombas-giras, extraterrestres e, pasmem, até a Jesus e Deus! Seu misticismo fraudulento mistura tudo em um verdadeiro balaio. Às vezes, chego a pensar que, antes de ser um farsante, trata-se de um caso típico para a psiquiatria. Em todo caso, não é uma pessoa confiável. Teve a audácia de afirmar ser a reencarnação de Allan Kardec – mais uma vez, pasmem os senhores!
Mas ele não está sozinho. Há muitos outros dentro do meio espírita e espiritualista, verdadeiros “coachs” do ocultismo, à la Pablo Marçal. Muita mentira, pouquíssima verdade e um enorme interesse financeiro por trás. Desde os tempos de Kardec, essa gente já existia, e o próprio codificador, sempre que possível, desmascarava-os sem hesitação. E nos advertia: "Se há verdadeiros profetas, há também os falsos e ainda em maior número, que tomam os devaneios da própria imaginação por revelações, quando não se trata de mistificadores que o fazem por ambição."
Além do evidente charlatanismo, há um erro doutrinário grave na alegação de que um médium pode dar passividade a espíritos de ordens tão distintas, especialmente a Jesus e Deus. Segundo a codificação espírita, os espíritos se comunicam dentro dos limites de sua afinidade fluídica e moral com o médium. Espíritos inferiores só se manifestam por meio de médiuns cuja sintonia moral e fluídica lhes permite essa influência. Da mesma forma, espíritos elevados necessitam de médiuns moralmente preparados, com propósitos sérios e desinteressados.
Em O Livro dos Médiuns, Kardec ensina que "os Espíritos superiores não se prestam a dar espetáculos e se afastam dos que buscam desvirtuar sua missão com frivolidades ou interesses materiais." Ora, se isso vale para os espíritos elevados, quanto mais para Jesus, um Espírito puro, cuja presença não se manifesta por via mediúnica comum, mas sim por inspiração profunda àqueles que realmente se afinam com sua mensagem.
Sobre Jesus, O Evangelho Segundo o Espiritismo deixa claro que sua missão na Terra foi única, e ele não se manifestaria de maneira banal ou sem uma razão grandiosa. Qualquer alegação de sua presença constante em reuniões mediúnicas não condiz com o que ensina a Doutrina Espírita.
Já em relação a Deus, Kardec é categórico: "Deus não se comunica diretamente com os homens; Ele lhes envia seus espíritos para transmitir sua vontade." (O Livro dos Espíritos, questão 11). Portanto, qualquer um que afirme "receber" Deus em psicofonia ou incorporação não apenas ignora a doutrina espírita, mas demonstra ou fraude, ou delírio.
O perigo desses falsários é evidente: exploram a fé alheia, abusam de conceitos legítimos e distorcem ensinamentos espirituais para benefício próprio. Cabe a cada um de nós manter a vigilância e o discernimento, para que a verdade não seja soterrada pelo espetáculo da mentira.
Regih Silva