15 de junho de 2025

PERIGO IMINENTE

 


É fato incontestável: o crescimento da extrema direita no mundo é um fenômeno que não pode mais ser ignorado. Aos olhos da espiritualidade, trata-se de um movimento que vai além das estruturas políticas ou sociais. Estamos lidando com o retorno de velhos espíritos, que em outras épocas estiveram à frente de regimes autoritários, fascistas, narcisistas e violentos. Reencarnaram com o objetivo de se reajustar, de redimir os erros do passado, de fazer diferente. Porém, muitos romperam com as próprias programações reencarnatórias. Escolheram, mais uma vez, os atalhos do orgulho e da dominação.

Agora, na carne, esses espíritos tentam reimplantar os métodos de controle que os marcaram em outras existências. Alimentam o ódio, a segregação, o discurso de supremacia e intolerância, naquilo que hoje se chama de neonazismo. Os mesmos discursos que, antes, mancharam a história com sangue, dor e lágrimas, agora retornam disfarçados de “opinião política”, de “liberdade de expressão” ou até de “defesa da família e da pátria”. Mas o perfume do engano não esconde o fedor da violência moral que carregam.

A espiritualidade maior tem feito a sua parte. Não pensemos que estamos desamparados. Mentores, espíritos de luz, guias de elevada condição vibratória estão, incansavelmente, trabalhando nos bastidores da vida. Influenciam pensamentos, inspiram os corações, fortalecem os que lutam pelo bem. 
Porém, como nos ensina a Doutrina Espírita, Deus não faz por nós aquilo que nos compete fazer.

Cada um de nós é chamado a não cair nas tentações do ódio e da mentira. O mal sempre se apresenta com aparência de força, com gritos, com multidões inflamadas, com ares de grandeza. Mas todo ódio, cedo ou tarde, colapsa sobre si mesmo. É um veneno que corrói por dentro, um incêndio que queima os próprios incendiários.
A nossa defesa é moral. A vigilância precisa ser diária. Não podemos alimentar a raiva, o preconceito, o desprezo pelo outro. Não podemos compactuar com discursos que dividem, que humilham, que ameaçam direitos conquistados a duras penas pela humanidade. Precisamos olhar para Jesus, o nosso modelo e guia. O Cristo, o Príncipe da Paz, jamais se valeu da violência para ensinar. Nunca estimulou o ódio, nunca usou a mentira para alcançar multidões. Seu caminho foi o do amor, da misericórdia, da inclusão, da paciência e do perdão.

Emmanuel já advertia, nas páginas de Chico Xavier, que as grandes revoluções do espírito são silenciosas, começam dentro de cada um de nós. E, em uma de suas lições mais contundentes sobre os conflitos humanos, Emmanuel deixa a pergunta que ecoará na consciência da humanidade: Quando cair o último soldado, Jesus contemplará o campo ensopado de lágrimas e sangue, e chamando os contendores perguntará, com justiça: ‘Onde se encontra o vencedor?’”

Aldo Oliver, em sintonia com esse mesmo pensamento, também já nos advertia: “Na guerra são todos perdedores.” E aqui, guerra não significa apenas o confronto armado, mas toda e qualquer forma de guerra moral: ideológica, social, psicológica ou espiritual.

Yvonne do Amaral Pereira também falava dos perigos das obsessões coletivas, que se manifestam quando multidões dão passagem às forças inferiores que vagueiam à procura de brechas.

Portanto, que ninguém se iluda: o perigo é real e iminente, mas a vitória ainda depende de cada escolha pessoal. Que saibamos escolher o amor, mesmo quando for mais fácil odiar. Que saibamos acolher, mesmo quando a maioria preferir excluir. Que sejamos vozes firmes, mas sempre pacíficas. Que o Cristo seja, hoje e sempre, a nossa referência maior.

Se há trevas tentando se espalhar, é porque a luz, em algum lugar, está incomodando. Sejamos essa luz.


Regih Silva

8 de junho de 2025

O CRIME DA PALAVRA E A CUMPLICIDADE DO RISO


Há quem diga que o palco é um território livre. Que ali, tudo pode ser dito em nome do humor, da arte ou da liberdade de expressão. Mas a liberdade, ensinou-nos o Cristo, só é plena quando se alicerça no respeito. Do contrário, é apenas egoísmo disfarçado de direito.

Recentemente, um cidadão que se diz humorista foi condenado a 8 anos de prisão por fazer uso da palavra — esse instrumento sagrado — para ferir. Sim, ferir. Não há outro termo. Ele usou da sua voz para zombar de negros, de mulheres, de homossexuais, de pessoas com HIV e de deficientes. Tudo isso em um "show privado", dizem os defensores. Mas será que o ambiente torna lícito o que é, em essência, criminoso?

Não. Seja no privado ou no público, crime será sempre crime.

Nos ensinamentos do nosso mentor Aldo Oliver, aprendemos algo ainda mais inquietante: o pior não é o autor, mas os fãs. O autor é apenas um. Mas os que riem, os que aplaudem, os que justificam, os que repetem, esses são muitos. E é nessa comunhão mental, fluídica e moral que o preconceito ganha corpo no mundo.

A palavra tem poder criador, como o Verbo Divino que gerou mundos. Mas quando usada para humilhar, ela também pode matar — esperanças, dignidades, afetos.

Há quem critique o chamado “politicamente correto”, como se fosse uma forma de censura. Mas o que é, afinal, ser politicamente correto, senão buscar ser moralmente justo? É recusar-se a rir da dor do outro. É proteger minorias que, historicamente, foram vítimas de exclusão e violência. É colocar o amor onde antes havia zombaria.

E eu lhes digo: no plano espiritual superior, o politicamente correto é lei viva. Lá, não há espaço para o sarcasmo que humilha, para o deboche que marginaliza. Lá, reina a caridade em todas as expressões. Do contrário, não seria Plano Superior — seria Umbral.

O Umbral está repleto de espíritos que, em vida, usaram o verbo para ferir e deformaram muitos com suas palavras venenosas. Lá, eles colhem o que plantaram, experimentando na carne do perispírito as dores que espalharam na carne dos outros.

Não se iludam com a capa do humor. Piada que humilha não é piada — é arma. E quem ri compactua.

O Cristo nunca zombou da dor alheia. Nunca fez graça com os fracos. Nunca relativizou a ofensa. Sigamos o exemplo d’Ele, e não daqueles que fazem da maldade um espetáculo.

Sejamos luz, mesmo na linguagem. Porque no reino do Espírito, cada palavra é um ato. E cada ato constrói — ou destrói — o mundo em que viveremos amanhã.


Regih Silva 

2 de junho de 2025

O AUTISMO NA VISÃO ESPÍRITA: CAUSAS DIVERSAS E REFLEXÕES DOUTRINÁRIAS





O autismo é uma condição complexa que, sob a ótica espírita, deve ser compreendida com respeito, sensibilidade e visão ampla. A Doutrina Espírita não oferece uma explicação única para os desafios que envolvem essa experiência, mas nos ensina que as causas podem ser múltiplas, sempre relacionadas às necessidades evolutivas do espírito reencarnante.

Do ponto de vista espiritual, cada existência é fruto de um planejamento criterioso, onde as provas, expiações e missões são definidas de acordo com o que o espírito necessita vivenciar para seu crescimento moral e intelectual.

No caso do autismo, as possibilidades são diversas:

  • Pode ser resultado de questões ligadas ao planejamento reencarnatório, como um convite ao despertar de valores espirituais;
  • Pode refletir desafios de adaptação do espírito ao novo corpo físico, principalmente quando há um distanciamento longo entre a última encarnação e o retorno à vida material;
  • Pode ter raízes em experiências passadas que exigem vivências de reflexão e transformação interior, favorecendo a reeducação moral;
  • Pode também ser uma experiência destinada ao grupo familiar, como oportunidade de desenvolvimento da paciência, do amor incondicional e da resiliência.

O Espiritismo nos convida a enxergar o autismo não como castigo, mas como um caminho de aprendizado e evolução, tanto para quem vive essa condição quanto para os que o cercam.


A literatura espírita, especialmente as obras da série "A Vida no Mundo Espiritual", psicografadas por Francisco Cândido Xavier, nos oferece importantes reflexões sobre o processo de adaptação dos espíritos ao renascimento físico.

Ao estudar com amigos do grupo facespírita o livro No Mundo Maior, encontramos a seguinte informação em seu capítulo 17. Logo pensei: não estaria aí um dos casos do autismo?

Vejamos:

No capítulo "No Limiar das Cavernas", André Luiz narra sua experiência ao visitar o "Baixo Umbral", uma região do plano espiritual marcada pelo sofrimento e pela estagnação moral.

Nessa região sombria, André Luiz observa que alguns espíritos, apesar de possuírem grande capacidade intelectual, encontravam-se profundamente endurecidos moralmente. Por amor e justiça divina, esses espíritos são encaminhados para experiências de reeducação que, em alguns casos, envolvem atividades laboriosas junto à natureza ou futuras reencarnações em condições que favoreçam seu reequilíbrio emocional e moral.

Essa realidade pode nos levar a refletir que, em algumas situações, o autismo — sobretudo em seus graus mais severos — pode estar relacionado a essa readaptação do espírito ao processo evolutivo, preparando-o, de forma progressiva, para o convívio social e a harmonização afetiva, após longos períodos de desequilíbrio ou isolamento emocional no plano espiritual.

Antes de qualquer julgamento apressado, é importante recordar que O Livro dos Espíritos, obra basilar da Doutrina Espírita, já aborda a atuação de espíritos no seio da natureza.

Nas questões 536 a 540, Kardec questiona os Espíritos Superiores sobre a organização dos fenômenos naturais e a relação dos desencarnados com esses eventos. As respostas indicam que:

  • Os espíritos, em diferentes graus de evolução, colaboram com a harmonia e o funcionamento das forças naturais;
  • A atuação desses espíritos varia conforme sua capacidade e entendimento;
  • O trabalho na natureza é também uma forma de aprendizado e regeneração para muitos espíritos que, necessitados de progresso, encontram nessas atividades um caminho de reconexão com as Leis Divinas.

Essa passagem do Livro dos Espíritos harmoniza-se com o que André Luiz narra em No Mundo Maior, mostrando que, antes mesmo da reencarnação, o espírito pode passar por longos processos de reeducação e readaptação, tanto nas regiões inferiores quanto na matéria, o que pode refletir-se em suas condições físicas e mentais ao nascer.

Portanto, o autismo, assim como tantas outras condições humanas, é uma oportunidade de aprendizado e evolução espiritual, tanto para o espírito reencarnado quanto para aqueles que convivem com ele.

A Doutrina Espírita não nos convida ao julgamento, mas sim à compreensão amorosa e ao respeito pelas diferentes trajetórias evolutivas. Cada caso é único, e por trás de cada desafio há um propósito superior, estabelecido pela sabedoria divina para o progresso moral e intelectual do ser imortal.


Regih Silva

26 de maio de 2025

REENCARNAÇÃO NA ''PRAÇA É NOSSA''

 


Ontem, assistindo ao programa do Luciano Huck, fui tomado por uma emoção profunda durante a bela homenagem prestada ao querido comediante Carlos Alberto de Nóbrega. No palco, estavam seus filhos, celebrando não apenas uma carreira, mas um legado que ultrapassa o tempo: o legado de seu pai, o inesquecível Manuel de Nóbrega, criador da emblemática “Praça da Alegria”, que mais tarde daria origem ao programa “A Praça é Nossa”.

Mas o que mais tocou meu coração foi algo que escapava à cena visível: um detalhe sutil, espiritual, que merece reflexão. Certa vez em uma entrevista ao “Programa do Ratinho”, o próprio Carlos Alberto compartilhou uma experiência que nos convida a olhar além da matéria. Contou ele que sua ex-esposa, Andréia, aguardava apenas um filho – todos os exames médicos indicavam uma gestação única. No entanto, no momento do parto, vieram dois: uma menina e, logo em seguida, João Nóbrega. Com serenidade e fé, Carlos revelou sua intuição: João seria a reencarnação de seu pai, Manuel de Nóbrega.

À luz da Doutrina Espírita, essa possibilidade é mais do que uma hipótese sentimental — é uma expressão legítima das leis divinas que regem a vida espiritual. O espírito é imortal, caminha por múltiplas existências, e muitas vezes retorna ao mesmo lar terreno, como filho, neto, irmão ou companheiro de jornada, buscando reconciliação, aprendizado ou missão.

Contudo, reencarnar não é simplesmente repetir. O espírito traz sua essência, mas cada existência é como um novo capítulo, com páginas em branco para serem escritas com novos desafios e possibilidades. Mesmo que João seja, de fato, o mesmo espírito que um dia animou Manuel de Nóbrega, ele não está fadado a reproduzir os mesmos dons ou seguir as mesmas trilhas. Agora formado em administração, João talvez esteja trilhando caminhos que fazem parte de um plano mais amplo — que escapa à nossa compreensão imediata, mas que serve a um propósito maior.

É como na escola da alma: passamos por diferentes séries, e cada uma tem conteúdos próprios. Não deixamos de ser nós mesmos, mas precisamos vivenciar diferentes etapas para amadurecer. A vida material é apenas um breve estágio dessa longa e maravilhosa jornada evolutiva.

O que permanece, acima de tudo, é o laço do amor. Espíritos afins se reencontram, não por acaso, mas por desígnio. E se é verdade que o palco da vida muda, os personagens se transformam e os cenários se renovam, também é verdade que o amor verdadeiro sempre encontra um caminho para se manifestar.

Que essa história singela, cheia de beleza e espiritualidade, nos inspire a olhar com mais reverência para os nossos laços familiares, reconhecendo que cada encontro carrega algo sagrado. Nada acontece por acaso. Deus, em Sua sabedoria infinita, nos reúne onde o amor ainda pode florescer ou onde a lição ainda precisa ser aprendida.

No fim das contas, mais do que risos ou lágrimas, o que fica é o amor — e o amor, este sim, é eterno.
 

Regih Silva

19 de maio de 2025

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DOS BEBÊS REBORNS




Atualmente, muito tem se falado sobre os chamados “bebês reborn” — bonecos extremamente realistas que têm sido adotados por algumas pessoas como se fossem filhos. Contudo, o que poderia ser apenas mais um modismo, como tantos outros que surgem e logo se dissipam, tomou uma dimensão além do habitual. O tema tem sido motivo de julgamentos precipitados, zombarias públicas e, lamentavemente, manipulado por alguns profissionais, religiosos, políticos e influenciadores em busca de visibilidade e engajamento nas redes sociais.

É lógico que há um exagero por trás por parte de alguns que têm se utilizado do fenômeno em busca de engajamento. Mas há os que se declaram pais desses bebês com um vínculo afetivo sincero, e há os que, sem compreender as razões íntimas por trás de tais atitudes, apressam-se em condenar ou ridicularizar. Entre os críticos, alguns chegam a afirmar que tais pessoas estão “delirando” ou vivendo em uma “realidade paralela”,  defendendo por sua vez, que essas pessoas recebam atendimento psiquiátrico compulsório, como se a dor ou a forma de lidar com ela devesse se encaixar em padrões determinados externamente.

Do ponto de vista espírita, sabemos que a dor humana reveste-se de inúmeras formas, e que cada espírito reage aos seus próprios desafios e carências segundo seu grau evolutivo e sensibilidade. O apego a um objeto simbólico, como um boneco, pode representar, para alguns, uma tentativa de preencher vazios emocionais profundos, elaborando lutos mal resolvidos, frustrações na maternidade, ou buscando algum consolo em meio à solidão. O que, aos olhos da matéria, parece absurdo, pode estar carregado de significados espirituais e emocionais que escapam ao nosso julgamento apressado.

O Espiritismo nos ensina a caridade em todos os aspectos, inclusive na forma de compreender o outro. Allan Kardec, no Evangelho Segundo o Espiritismo, afirma que o verdadeiro espírita é reconhecido pela sua transformação moral e pelos esforços em domar suas más inclinações. Isso inclui a intolerância, o sarcasmo e o desejo de impor nossa visão como a única válida. Devemos nos perguntar: estamos olhando com compaixão ou apenas buscando motivos para polêmica?

A Doutrina Espírita convida-nos a olhar além da forma, buscando o conteúdo espiritual das ações humanas. Nem tudo será justificável, mas tudo merece ser compreendido à luz da empatia e da lei de causa e efeito. Antes de condenarmos alguém por buscar consolo em um boneco, perguntemo-nos: será que essa alma, por detrás de seus gestos inusitados, não clama por amor, acolhimento ou simplesmente respeito?

Que saibamos cultivar o olhar de Jesus, que enxergava além das aparências, tocando os corações e levantando os caídos sem condenação. Que a nossa voz, seja nas redes ou fora delas, sirva mais para construir do que para destruir.


Regih Silva 

15 de maio de 2025

LIVRE-ARBÍTRIO: A VERDADE ESTÁ ALÉM DA MATÉRIA

 


Vivemos em uma época em que a ciência, especialmente a neurociência, busca compreender o comportamento humano a partir de uma perspectiva biológica. Nomes como Robert Sapolsky, renomado neurocientista da Universidade de Stanford, vêm ganhando destaque com teses que negam a existência do livre-arbítrio. Em seu livro “Determined – The Science of Life Without Free Will”, Sapolsky afirma que todas as nossas decisões são determinadas por condicionamentos genéticos, traumas infantis, hormônios, estados neurológicos e fatores ambientais. Segundo ele, nossas escolhas são apenas a consequência inevitável de uma combinação de fatores que estão além do nosso controle consciente.

Essa abordagem materialista vê o ser humano como um organismo condicionado, e sua liberdade como uma ilusão. Porém, quando olhamos com os olhos do Espírito, percebemos que essa não é toda a verdade.

A ciência vê o corpo. O Espiritismo vê a alma.

 No livro “Missionários da Luz”, psicografado por Chico Xavier, o Espírito André Luiz nos oferece uma visão extraordinária sobre o processo reencarnatório. Nos capítulos XII ("Preparação de experiências") e XIII (" Reencarnação"), ele descreve detalhadamente a preparação do Espírito Segismundo, que se prepara para reencarnar com a assistência dos benfeitores espirituais.

Ficamos sabendo que:

  • A reencarnação é planejada com antecedência.
  • A genética do futuro corpo físico é ajustada de acordo com as necessidades do Espírito.
  • O perispírito, molde do corpo carnal, atua sobre as células em formação para modelar o novo organismo.
  • O Espírito aceita as limitações físicas e os desafios morais que terá de enfrentar na nova jornada.

Portanto, o corpo não é um acidente biológico, mas sim um instrumento cuidadosamente escolhido para oferecer ao Espírito as provas e lições que ele precisa viver.

Na questão 202 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta:

“Quando somos Espíritos, preferimos encarnar num corpo de homem ou de mulher?”

E os Espíritos respondem:

“Isso pouco importa ao Espírito; depende das provas que ele tiver de sofrer.”

Kardec comenta:

“Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhes provas e deveres especiais e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens.”

Isso deixa evidente que a escolha do sexo biológico também está subordinada ao planejamento espiritual, e está ligada ao tipo de experiência, aprendizado e reajuste que o Espírito necessita. Ser homem ou mulher, assim como nascer em determinada classe social, país ou cultura, faz parte do cenário necessário à evolução de cada alma.

Mas então, com tanta influência da genética, da biologia e das circunstâncias exteriores... existe mesmo livre-arbítrio?

A resposta nos foi dada com clareza pelo Espírito Aldo Oliver:

“O verdadeiro livre-arbítrio se dá na espiritualidade, para os Espíritos que têm condições de escolha, através da programação reencarnatória. Toda a genética e o organismo físico dizem respeito a isso. O corpo é apenas o reflexo da escolha espiritual.”

Ou seja, a liberdade espiritual antecede a vida material. É no plano espiritual, antes de nascer, que o Espírito escolhe os caminhos que deseja trilhar, os desafios que precisa enfrentar e as experiências que deseja conquistar. A vida corporal é o palco onde essa escolha se desenrola, com os limites naturais impostos pela matéria, pela genética e pelo meio.


Aqui na Terra, o Espírito atua com liberdade relativa, mas o que vive já foi escolhido em grande parte antes de nascer. A dor, os encontros, os talentos, as limitações – tudo isso foi previamente analisado e aceito com responsabilidade. Contudo, ele ainda pode escolher amar ou odiar, perdoar ou revidar, levantar ou cair.

Ao afirmar que o comportamento humano é resultado de fatores genéticos e ambientais, os neurocientistas não estão completamente equivocados. Eles estão apenas olhando o fenômeno de forma parcial, limitada ao plano físico.

O Espiritismo nos mostra que a matéria é um reflexo da decisão espiritual. A genética é um instrumento da Lei Divina. O cérebro é uma ferramenta moldada para servir à experiência da alma.

Enquanto a ciência estuda o instrumento, o Espiritismo estuda o músico.

Enquanto a ciência investiga o palco, o Espiritismo revela o autor do roteiro.

Pontando, O livre-arbítrio não é um presente absoluto, nem tampouco uma ilusão. Ele é uma conquista gradual, que se amplia à medida que o Espírito evolui. Nas primeiras etapas, agimos mais por instinto e por condicionamento. Mas, à medida que adquirimos consciência, passamos a escolher com mais clareza e profundidade.

Na Terra, ainda estamos presos a muitas influências. Mas a verdadeira liberdade está no espírito, e se manifesta plenamente no mundo espiritual, onde nossas decisões moldam o corpo, a genética, as circunstâncias e os caminhos da existência. Logo, Sapolsky está certo ao afirmar que o corpo age conforme suas heranças e condicionamentos. Mas, como ensina o Espiritismo, o Espírito escolheu tudo isso antes de nascer, com liberdade, lucidez e amor. (Quando tem condição de escolher.)

O cérebro é o palco. A alma é o ator. E Deus, o diretor amoroso e justo que nos oferece sempre novos ensaios.


Regih Silva

 


11 de maio de 2025

O ESPIRITISMO SOLUCIONA O PARADOXO DE EPICURO


Desde os tempos antigos, a humanidade se depara com um questionamento profundo sobre a existência do mal e a bondade de Deus. O chamado "Paradoxo de Epicuro", formulado pelo filósofo grego, desafia a coerência entre a onipotência, a bondade divina e a presença do sofrimento no mundo. Se Deus é onipotente e bondoso, por que permite o mal? Se não pode impedir o mal, então não é onipotente? Se pode e não quer, então não é bom? Essas perguntas intrigam a filosofia e a teologia há séculos.

A Doutrina Espírita, por meio dos ensinamentos de Allan Kardec, apresenta uma resposta fundamentada na justiça e na sabedoria divinas. No capítulo 1 de O Livro dos Espíritos, Kardec questiona os mentores espirituais sobre "O que é Deus?" e a resposta sintetiza uma compreensão inovadora: Deus é a "inteligência suprema, causa primária de todas as coisas". Deste modo, Ele é infinitamente justo e bom, mas sua bondade e onipotência não devem ser analisadas sob uma óptica limitada e humana.

O capítulo 3 de A Gênese esclarece a origem do bem e do mal. Kardec explica que o mal não é uma criação divina, mas sim uma consequência da ignorância e do livre-arbítrio dos seres humanos e dos Espíritos em evolução. Deus, sendo infinitamente justo, concede a cada ser a liberdade de escolha, permitindo que aprenda com seus erros e progrida moralmente. O sofrimento, portanto, não é um castigo divino, mas um mecanismo pedagógico para a evolução.

O Espiritismo também diferencia os tipos de sofrimento. Alguns decorrem de escolhas erradas do próprio indivíduo, enquanto outros são provas necessárias para o crescimento espiritual. Esse entendimento amplia a visão sobre o mal, mostrando que ele não é eterno nem absoluto. O progresso moral da humanidade reduz a presença do sofrimento, e a reencarnação oferece múltiplas oportunidades para que cada ser aprenda e se harmonize com as leis divinas.

Dentro dessa perspectiva, a Doutrina Espírita também esclarece que Satanás, o Diabo ou os demônios não são seres supremos ou entidades rivais de Deus. No entendimento espírita, os chamados "demônios" são apenas Espíritos em estado de grande imperfeição moral, ainda presos às influências do mal e do egoísmo. Não existe um ser dedicado exclusivamente à maldade absoluta, pois todos os Espíritos estão destinados à evolução e ao progresso. Assim, aqueles que hoje ainda praticam o mal, com o tempo e as sucessivas encarnações, irão aprender, amadurecer e se transformar em seres melhores.

O Espiritismo nos convida a compreender que a justiça divina se manifesta a longo prazo e que o mal é apenas a sombra da ignorância, dissipando-se na luz do conhecimento e do amor. Dessa forma, não há contradição entre a bondade de Deus e a existência do sofrimento, pois tudo se encaixa no grande projeto de evolução universal.


Regih Silva