14 de abril de 2025

O PERIGO DO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO: LIÇÕES DE JESUS PARA OS TEMPOS ATUAIS



 



No cenário atual, onde tantas vozes se levantam em nome da fé, é preocupante notar que algumas delas propagam ódio e intolerância, distorcendo os princípios mais sublimes do Evangelho. Por esses dias, ao meditar em tal situação, escrevi em meu facebook a seguinte frase: "Os que torcem pela morte do Papa Francisco são os mesmos que crucificariam Jesus, caso Ele voltasse." salientando o perigo do fundamentalismo religioso, que, em nome da "pureza da fé", levar o afastamento dos ensinamentos de amor, misericórdia e compreensão trazidos por Cristo.
O Evangelho nos mostra diversas ocasiões em que Jesus advertiu aqueles que, em nome da religião, endureciam seus corações e perseguiam aqueles que não se alinhavam às suas visões dogmáticas. Entre os principais alvos dessas críticas estavam os fariseus e doutores da lei, que muitas vezes usavam a religião para oprimir e condenar ao invés de acolher e transformar. Jesus não hesitou em denunciá-los, chamando-os de hipócritas, pois se preocupavam com a aparência exterior da religiosidade, mas ignoravam a essência do amor e da justiça. Ele os comparou a sepulcros caiados: bonitos por fora, mas cheios de corrupção por dentro (Mateus 23:27-28). Isso nos alerta para o risco de um comportamento religioso que foca na forma e ignora a verdadeira caridade.
Quando Jesus curou no sábado e foi repreendido pelos religiosos da época, Ele demonstrou que a rigidez dogmática não pode se sobrepor ao bem do próximo. Muitos, em nome da tradição, colocam regras acima da compaixão, esquecendo-se de que a essência da fé está no amor ao próximo (Marcos 2:27). Ele também nos advertiu de que não basta proclamar a fé com palavras; é preciso vivê-la. Muitos dos que se julgam "defensores da religião" podem, na verdade, estar negando a essência do Cristo com suas ações (Mateus 7:21-23). Aqueles que torcem pela morte de alguém, seja um Papa, um líder religioso ou qualquer ser humano, mostram que sua fé ainda não se fundamentou no Evangelho do amor.

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, ensina que o progresso é uma lei divina e que a verdade se revela de forma contínua, à medida que a humanidade avança moral e intelectualmente. Entretanto, assim como em qualquer tradição religiosa, há aqueles que, mesmo dentro do Espiritismo, tendem a uma visão rígida e dogmática, esquecendo-se de que os Espíritos superiores ensinam a evolução pelo raciocínio, pela moral e pela fraternidade. Diferente das correntes religiosas fundamentalistas, o Espiritismo não prega a condenação, mas sim a educação e a reforma íntima como caminho para o aperfeiçoamento do ser. Como disse Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo: "Fora da caridade não há salvação." Ou seja, a verdadeira fé se mede pelo amor que se manifesta em atitudes, e não pela imposição de dogmas ou tradições inflexíveis.

O fundamentalista religioso acredita estar do lado da "verdadeira fé" e, por isso, não se reconhece como intolerante ou fanático. Ele se considera guardião dos valores sagrados e vê qualquer mudança como uma "ameaça" às tradições. Isso leva a um fenômeno chamado projeção psicológica, em que ele acusa os outros daquilo que ele próprio pratica. Assim, chama de "hereges" aqueles que pensam diferente e diz que está sendo perseguido quando, na realidade, ele mesmo é o perseguidor. Os fundamentalistas dizem seguir Jesus, mas só horam ou citam o Velho Testamento e suas práticas controversas para justificar seus radicalismos. Assim como os fariseus da época de Cristo, utilizam passagens isoladas da Escritura para legitimar preconceitos e endurecimento moral, ignorando o Evangelho do amor e da misericórdia trazido pelo Mestre (Mateus 9:10-13).

Os que desejam a morte do Papa Francisco pertencem majoritariamente a setores de extrema direita, que o acusam de ser um Papa comunista devido às suas posições progressistas dentro e fora da Igreja. Suas críticas surgem porque Francisco enfatiza a necessidade de acolhimento e inclusão, em oposição a uma visão exclusivista da fé. Ele defende os pobres e marginalizados, denuncia as injustiças sociais e critica a exploração econômica, o que é visto como uma afronta aos interesses daqueles que atrelam a religião ao poder político e econômico. Sua abordagem visa resgatar uma Igreja mais cristã e menos dogmática, centrada na compaixão e na justiça social.

Entre as principais decisões do Papa Francisco que reforçam esse ideal cristão, podemos destacar:

  • A defesa da ecologia e da preservação ambiental, como expresso na encíclica Laudato Si’, onde denuncia o impacto do capitalismo desenfreado na destruição do meio ambiente;
  • O incentivo ao acolhimento de imigrantes e refugiados, promovendo uma visão mais humanitária e solidária, em contraposição à política de fechamento de fronteiras defendida por muitos setores conservadores;
  • A valorização do diálogo inter-religioso, buscando construir pontes entre diferentes crenças ao invés de alimentar divisões e conflitos;
  • A revisão de certas posturas da Igreja Católica em relação a temas sociais, como a acolhida de pessoas LGBTQ+, reforçando que ninguém deve ser marginalizado por sua identidade ou orientação sexual;
  • A luta contra o clericalismo e a busca por uma Igreja menos burocrática e mais comprometida com a caridade, aproximando-se do exemplo de Jesus e afastando-se de estruturas rígidas que historicamente favoreceram abusos e privilégios.
Essas atitudes, longe de serem um sinal de alinhamento político, são reflexo de um cristianismo autêntico, que prioriza o amor e a justiça social. No entanto, para aqueles que desejam manter uma visão tradicionalista e autoritária da fé, Francisco se torna uma ameaça, assim como Jesus foi para os fariseus de sua época.

Ser cristão não é apenas pertencer a uma religião ou defender tradições, mas agir conforme os princípios do Cristo. Quando alguém deseja a morte de um semelhante, ainda que discorde dele, demonstra que está distante do verdadeiro espírito cristão. O Espiritismo, como doutrina progressista, nos ensina que a fé deve ser raciocinada e que a prática do bem está acima de qualquer sectarismo religioso. Allan Kardec deixou claro que o verdadeiro espírita se reconhece não pelo que diz acreditar, mas pelo esforço que faz em se tornar uma pessoa melhor a cada dia.

Como nos ensina afrase atribuída ao Chico Xavier: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim."

Que possamos, então, cultivar um cristianismo vivo e operante, onde o amor, a compreensão e a fraternidade sejam as verdadeiras marcas da fé. Que sigamos os passos de Jesus com humildade e coerência, construindo um mundo onde a religiosidade seja sinônimo de paz e renovação interior.


Regih Silva


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