15 de junho de 2025

PERIGO IMINENTE

 


É fato incontestável: o crescimento da extrema direita no mundo é um fenômeno que não pode mais ser ignorado. Aos olhos da espiritualidade, trata-se de um movimento que vai além das estruturas políticas ou sociais. Estamos lidando com o retorno de velhos espíritos, que em outras épocas estiveram à frente de regimes autoritários, fascistas, narcisistas e violentos. Reencarnaram com o objetivo de se reajustar, de redimir os erros do passado, de fazer diferente. Porém, muitos romperam com as próprias programações reencarnatórias. Escolheram, mais uma vez, os atalhos do orgulho e da dominação.

Agora, na carne, esses espíritos tentam reimplantar os métodos de controle que os marcaram em outras existências. Alimentam o ódio, a segregação, o discurso de supremacia e intolerância, naquilo que hoje se chama de neonazismo. Os mesmos discursos que, antes, mancharam a história com sangue, dor e lágrimas, agora retornam disfarçados de “opinião política”, de “liberdade de expressão” ou até de “defesa da família e da pátria”. Mas o perfume do engano não esconde o fedor da violência moral que carregam.

A espiritualidade maior tem feito a sua parte. Não pensemos que estamos desamparados. Mentores, espíritos de luz, guias de elevada condição vibratória estão, incansavelmente, trabalhando nos bastidores da vida. Influenciam pensamentos, inspiram os corações, fortalecem os que lutam pelo bem. 
Porém, como nos ensina a Doutrina Espírita, Deus não faz por nós aquilo que nos compete fazer.

Cada um de nós é chamado a não cair nas tentações do ódio e da mentira. O mal sempre se apresenta com aparência de força, com gritos, com multidões inflamadas, com ares de grandeza. Mas todo ódio, cedo ou tarde, colapsa sobre si mesmo. É um veneno que corrói por dentro, um incêndio que queima os próprios incendiários.
A nossa defesa é moral. A vigilância precisa ser diária. Não podemos alimentar a raiva, o preconceito, o desprezo pelo outro. Não podemos compactuar com discursos que dividem, que humilham, que ameaçam direitos conquistados a duras penas pela humanidade. Precisamos olhar para Jesus, o nosso modelo e guia. O Cristo, o Príncipe da Paz, jamais se valeu da violência para ensinar. Nunca estimulou o ódio, nunca usou a mentira para alcançar multidões. Seu caminho foi o do amor, da misericórdia, da inclusão, da paciência e do perdão.

Emmanuel já advertia, nas páginas de Chico Xavier, que as grandes revoluções do espírito são silenciosas, começam dentro de cada um de nós. E, em uma de suas lições mais contundentes sobre os conflitos humanos, Emmanuel deixa a pergunta que ecoará na consciência da humanidade: Quando cair o último soldado, Jesus contemplará o campo ensopado de lágrimas e sangue, e chamando os contendores perguntará, com justiça: ‘Onde se encontra o vencedor?’”

Aldo Oliver, em sintonia com esse mesmo pensamento, também já nos advertia: “Na guerra são todos perdedores.” E aqui, guerra não significa apenas o confronto armado, mas toda e qualquer forma de guerra moral: ideológica, social, psicológica ou espiritual.

Yvonne do Amaral Pereira também falava dos perigos das obsessões coletivas, que se manifestam quando multidões dão passagem às forças inferiores que vagueiam à procura de brechas.

Portanto, que ninguém se iluda: o perigo é real e iminente, mas a vitória ainda depende de cada escolha pessoal. Que saibamos escolher o amor, mesmo quando for mais fácil odiar. Que saibamos acolher, mesmo quando a maioria preferir excluir. Que sejamos vozes firmes, mas sempre pacíficas. Que o Cristo seja, hoje e sempre, a nossa referência maior.

Se há trevas tentando se espalhar, é porque a luz, em algum lugar, está incomodando. Sejamos essa luz.


Regih Silva

8 de junho de 2025

O CRIME DA PALAVRA E A CUMPLICIDADE DO RISO


Há quem diga que o palco é um território livre. Que ali, tudo pode ser dito em nome do humor, da arte ou da liberdade de expressão. Mas a liberdade, ensinou-nos o Cristo, só é plena quando se alicerça no respeito. Do contrário, é apenas egoísmo disfarçado de direito.

Recentemente, um cidadão que se diz humorista foi condenado a 8 anos de prisão por fazer uso da palavra — esse instrumento sagrado — para ferir. Sim, ferir. Não há outro termo. Ele usou da sua voz para zombar de negros, de mulheres, de homossexuais, de pessoas com HIV e de deficientes. Tudo isso em um "show privado", dizem os defensores. Mas será que o ambiente torna lícito o que é, em essência, criminoso?

Não. Seja no privado ou no público, crime será sempre crime.

Nos ensinamentos do nosso mentor Aldo Oliver, aprendemos algo ainda mais inquietante: o pior não é o autor, mas os fãs. O autor é apenas um. Mas os que riem, os que aplaudem, os que justificam, os que repetem, esses são muitos. E é nessa comunhão mental, fluídica e moral que o preconceito ganha corpo no mundo.

A palavra tem poder criador, como o Verbo Divino que gerou mundos. Mas quando usada para humilhar, ela também pode matar — esperanças, dignidades, afetos.

Há quem critique o chamado “politicamente correto”, como se fosse uma forma de censura. Mas o que é, afinal, ser politicamente correto, senão buscar ser moralmente justo? É recusar-se a rir da dor do outro. É proteger minorias que, historicamente, foram vítimas de exclusão e violência. É colocar o amor onde antes havia zombaria.

E eu lhes digo: no plano espiritual superior, o politicamente correto é lei viva. Lá, não há espaço para o sarcasmo que humilha, para o deboche que marginaliza. Lá, reina a caridade em todas as expressões. Do contrário, não seria Plano Superior — seria Umbral.

O Umbral está repleto de espíritos que, em vida, usaram o verbo para ferir e deformaram muitos com suas palavras venenosas. Lá, eles colhem o que plantaram, experimentando na carne do perispírito as dores que espalharam na carne dos outros.

Não se iludam com a capa do humor. Piada que humilha não é piada — é arma. E quem ri compactua.

O Cristo nunca zombou da dor alheia. Nunca fez graça com os fracos. Nunca relativizou a ofensa. Sigamos o exemplo d’Ele, e não daqueles que fazem da maldade um espetáculo.

Sejamos luz, mesmo na linguagem. Porque no reino do Espírito, cada palavra é um ato. E cada ato constrói — ou destrói — o mundo em que viveremos amanhã.


Regih Silva 

2 de junho de 2025

O AUTISMO NA VISÃO ESPÍRITA: CAUSAS DIVERSAS E REFLEXÕES DOUTRINÁRIAS





O autismo é uma condição complexa que, sob a ótica espírita, deve ser compreendida com respeito, sensibilidade e visão ampla. A Doutrina Espírita não oferece uma explicação única para os desafios que envolvem essa experiência, mas nos ensina que as causas podem ser múltiplas, sempre relacionadas às necessidades evolutivas do espírito reencarnante.

Do ponto de vista espiritual, cada existência é fruto de um planejamento criterioso, onde as provas, expiações e missões são definidas de acordo com o que o espírito necessita vivenciar para seu crescimento moral e intelectual.

No caso do autismo, as possibilidades são diversas:

  • Pode ser resultado de questões ligadas ao planejamento reencarnatório, como um convite ao despertar de valores espirituais;
  • Pode refletir desafios de adaptação do espírito ao novo corpo físico, principalmente quando há um distanciamento longo entre a última encarnação e o retorno à vida material;
  • Pode ter raízes em experiências passadas que exigem vivências de reflexão e transformação interior, favorecendo a reeducação moral;
  • Pode também ser uma experiência destinada ao grupo familiar, como oportunidade de desenvolvimento da paciência, do amor incondicional e da resiliência.

O Espiritismo nos convida a enxergar o autismo não como castigo, mas como um caminho de aprendizado e evolução, tanto para quem vive essa condição quanto para os que o cercam.


A literatura espírita, especialmente as obras da série "A Vida no Mundo Espiritual", psicografadas por Francisco Cândido Xavier, nos oferece importantes reflexões sobre o processo de adaptação dos espíritos ao renascimento físico.

Ao estudar com amigos do grupo facespírita o livro No Mundo Maior, encontramos a seguinte informação em seu capítulo 17. Logo pensei: não estaria aí um dos casos do autismo?

Vejamos:

No capítulo "No Limiar das Cavernas", André Luiz narra sua experiência ao visitar o "Baixo Umbral", uma região do plano espiritual marcada pelo sofrimento e pela estagnação moral.

Nessa região sombria, André Luiz observa que alguns espíritos, apesar de possuírem grande capacidade intelectual, encontravam-se profundamente endurecidos moralmente. Por amor e justiça divina, esses espíritos são encaminhados para experiências de reeducação que, em alguns casos, envolvem atividades laboriosas junto à natureza ou futuras reencarnações em condições que favoreçam seu reequilíbrio emocional e moral.

Essa realidade pode nos levar a refletir que, em algumas situações, o autismo — sobretudo em seus graus mais severos — pode estar relacionado a essa readaptação do espírito ao processo evolutivo, preparando-o, de forma progressiva, para o convívio social e a harmonização afetiva, após longos períodos de desequilíbrio ou isolamento emocional no plano espiritual.

Antes de qualquer julgamento apressado, é importante recordar que O Livro dos Espíritos, obra basilar da Doutrina Espírita, já aborda a atuação de espíritos no seio da natureza.

Nas questões 536 a 540, Kardec questiona os Espíritos Superiores sobre a organização dos fenômenos naturais e a relação dos desencarnados com esses eventos. As respostas indicam que:

  • Os espíritos, em diferentes graus de evolução, colaboram com a harmonia e o funcionamento das forças naturais;
  • A atuação desses espíritos varia conforme sua capacidade e entendimento;
  • O trabalho na natureza é também uma forma de aprendizado e regeneração para muitos espíritos que, necessitados de progresso, encontram nessas atividades um caminho de reconexão com as Leis Divinas.

Essa passagem do Livro dos Espíritos harmoniza-se com o que André Luiz narra em No Mundo Maior, mostrando que, antes mesmo da reencarnação, o espírito pode passar por longos processos de reeducação e readaptação, tanto nas regiões inferiores quanto na matéria, o que pode refletir-se em suas condições físicas e mentais ao nascer.

Portanto, o autismo, assim como tantas outras condições humanas, é uma oportunidade de aprendizado e evolução espiritual, tanto para o espírito reencarnado quanto para aqueles que convivem com ele.

A Doutrina Espírita não nos convida ao julgamento, mas sim à compreensão amorosa e ao respeito pelas diferentes trajetórias evolutivas. Cada caso é único, e por trás de cada desafio há um propósito superior, estabelecido pela sabedoria divina para o progresso moral e intelectual do ser imortal.


Regih Silva