26 de maio de 2025

REENCARNAÇÃO NA ''PRAÇA É NOSSA''

 


Ontem, assistindo ao programa do Luciano Huck, fui tomado por uma emoção profunda durante a bela homenagem prestada ao querido comediante Carlos Alberto de Nóbrega. No palco, estavam seus filhos, celebrando não apenas uma carreira, mas um legado que ultrapassa o tempo: o legado de seu pai, o inesquecível Manuel de Nóbrega, criador da emblemática “Praça da Alegria”, que mais tarde daria origem ao programa “A Praça é Nossa”.

Mas o que mais tocou meu coração foi algo que escapava à cena visível: um detalhe sutil, espiritual, que merece reflexão. Certa vez em uma entrevista ao “Programa do Ratinho”, o próprio Carlos Alberto compartilhou uma experiência que nos convida a olhar além da matéria. Contou ele que sua ex-esposa, Andréia, aguardava apenas um filho – todos os exames médicos indicavam uma gestação única. No entanto, no momento do parto, vieram dois: uma menina e, logo em seguida, João Nóbrega. Com serenidade e fé, Carlos revelou sua intuição: João seria a reencarnação de seu pai, Manuel de Nóbrega.

À luz da Doutrina Espírita, essa possibilidade é mais do que uma hipótese sentimental — é uma expressão legítima das leis divinas que regem a vida espiritual. O espírito é imortal, caminha por múltiplas existências, e muitas vezes retorna ao mesmo lar terreno, como filho, neto, irmão ou companheiro de jornada, buscando reconciliação, aprendizado ou missão.

Contudo, reencarnar não é simplesmente repetir. O espírito traz sua essência, mas cada existência é como um novo capítulo, com páginas em branco para serem escritas com novos desafios e possibilidades. Mesmo que João seja, de fato, o mesmo espírito que um dia animou Manuel de Nóbrega, ele não está fadado a reproduzir os mesmos dons ou seguir as mesmas trilhas. Agora formado em administração, João talvez esteja trilhando caminhos que fazem parte de um plano mais amplo — que escapa à nossa compreensão imediata, mas que serve a um propósito maior.

É como na escola da alma: passamos por diferentes séries, e cada uma tem conteúdos próprios. Não deixamos de ser nós mesmos, mas precisamos vivenciar diferentes etapas para amadurecer. A vida material é apenas um breve estágio dessa longa e maravilhosa jornada evolutiva.

O que permanece, acima de tudo, é o laço do amor. Espíritos afins se reencontram, não por acaso, mas por desígnio. E se é verdade que o palco da vida muda, os personagens se transformam e os cenários se renovam, também é verdade que o amor verdadeiro sempre encontra um caminho para se manifestar.

Que essa história singela, cheia de beleza e espiritualidade, nos inspire a olhar com mais reverência para os nossos laços familiares, reconhecendo que cada encontro carrega algo sagrado. Nada acontece por acaso. Deus, em Sua sabedoria infinita, nos reúne onde o amor ainda pode florescer ou onde a lição ainda precisa ser aprendida.

No fim das contas, mais do que risos ou lágrimas, o que fica é o amor — e o amor, este sim, é eterno.
 

Regih Silva

19 de maio de 2025

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DOS BEBÊS REBORNS




Atualmente, muito tem se falado sobre os chamados “bebês reborn” — bonecos extremamente realistas que têm sido adotados por algumas pessoas como se fossem filhos. Contudo, o que poderia ser apenas mais um modismo, como tantos outros que surgem e logo se dissipam, tomou uma dimensão além do habitual. O tema tem sido motivo de julgamentos precipitados, zombarias públicas e, lamentavemente, manipulado por alguns profissionais, religiosos, políticos e influenciadores em busca de visibilidade e engajamento nas redes sociais.

É lógico que há um exagero por trás por parte de alguns que têm se utilizado do fenômeno em busca de engajamento. Mas há os que se declaram pais desses bebês com um vínculo afetivo sincero, e há os que, sem compreender as razões íntimas por trás de tais atitudes, apressam-se em condenar ou ridicularizar. Entre os críticos, alguns chegam a afirmar que tais pessoas estão “delirando” ou vivendo em uma “realidade paralela”,  defendendo por sua vez, que essas pessoas recebam atendimento psiquiátrico compulsório, como se a dor ou a forma de lidar com ela devesse se encaixar em padrões determinados externamente.

Do ponto de vista espírita, sabemos que a dor humana reveste-se de inúmeras formas, e que cada espírito reage aos seus próprios desafios e carências segundo seu grau evolutivo e sensibilidade. O apego a um objeto simbólico, como um boneco, pode representar, para alguns, uma tentativa de preencher vazios emocionais profundos, elaborando lutos mal resolvidos, frustrações na maternidade, ou buscando algum consolo em meio à solidão. O que, aos olhos da matéria, parece absurdo, pode estar carregado de significados espirituais e emocionais que escapam ao nosso julgamento apressado.

O Espiritismo nos ensina a caridade em todos os aspectos, inclusive na forma de compreender o outro. Allan Kardec, no Evangelho Segundo o Espiritismo, afirma que o verdadeiro espírita é reconhecido pela sua transformação moral e pelos esforços em domar suas más inclinações. Isso inclui a intolerância, o sarcasmo e o desejo de impor nossa visão como a única válida. Devemos nos perguntar: estamos olhando com compaixão ou apenas buscando motivos para polêmica?

A Doutrina Espírita convida-nos a olhar além da forma, buscando o conteúdo espiritual das ações humanas. Nem tudo será justificável, mas tudo merece ser compreendido à luz da empatia e da lei de causa e efeito. Antes de condenarmos alguém por buscar consolo em um boneco, perguntemo-nos: será que essa alma, por detrás de seus gestos inusitados, não clama por amor, acolhimento ou simplesmente respeito?

Que saibamos cultivar o olhar de Jesus, que enxergava além das aparências, tocando os corações e levantando os caídos sem condenação. Que a nossa voz, seja nas redes ou fora delas, sirva mais para construir do que para destruir.


Regih Silva 

15 de maio de 2025

LIVRE-ARBÍTRIO: A VERDADE ESTÁ ALÉM DA MATÉRIA

 


Vivemos em uma época em que a ciência, especialmente a neurociência, busca compreender o comportamento humano a partir de uma perspectiva biológica. Nomes como Robert Sapolsky, renomado neurocientista da Universidade de Stanford, vêm ganhando destaque com teses que negam a existência do livre-arbítrio. Em seu livro “Determined – The Science of Life Without Free Will”, Sapolsky afirma que todas as nossas decisões são determinadas por condicionamentos genéticos, traumas infantis, hormônios, estados neurológicos e fatores ambientais. Segundo ele, nossas escolhas são apenas a consequência inevitável de uma combinação de fatores que estão além do nosso controle consciente.

Essa abordagem materialista vê o ser humano como um organismo condicionado, e sua liberdade como uma ilusão. Porém, quando olhamos com os olhos do Espírito, percebemos que essa não é toda a verdade.

A ciência vê o corpo. O Espiritismo vê a alma.

 No livro “Missionários da Luz”, psicografado por Chico Xavier, o Espírito André Luiz nos oferece uma visão extraordinária sobre o processo reencarnatório. Nos capítulos XII ("Preparação de experiências") e XIII (" Reencarnação"), ele descreve detalhadamente a preparação do Espírito Segismundo, que se prepara para reencarnar com a assistência dos benfeitores espirituais.

Ficamos sabendo que:

  • A reencarnação é planejada com antecedência.
  • A genética do futuro corpo físico é ajustada de acordo com as necessidades do Espírito.
  • O perispírito, molde do corpo carnal, atua sobre as células em formação para modelar o novo organismo.
  • O Espírito aceita as limitações físicas e os desafios morais que terá de enfrentar na nova jornada.

Portanto, o corpo não é um acidente biológico, mas sim um instrumento cuidadosamente escolhido para oferecer ao Espírito as provas e lições que ele precisa viver.

Na questão 202 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta:

“Quando somos Espíritos, preferimos encarnar num corpo de homem ou de mulher?”

E os Espíritos respondem:

“Isso pouco importa ao Espírito; depende das provas que ele tiver de sofrer.”

Kardec comenta:

“Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhes provas e deveres especiais e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens.”

Isso deixa evidente que a escolha do sexo biológico também está subordinada ao planejamento espiritual, e está ligada ao tipo de experiência, aprendizado e reajuste que o Espírito necessita. Ser homem ou mulher, assim como nascer em determinada classe social, país ou cultura, faz parte do cenário necessário à evolução de cada alma.

Mas então, com tanta influência da genética, da biologia e das circunstâncias exteriores... existe mesmo livre-arbítrio?

A resposta nos foi dada com clareza pelo Espírito Aldo Oliver:

“O verdadeiro livre-arbítrio se dá na espiritualidade, para os Espíritos que têm condições de escolha, através da programação reencarnatória. Toda a genética e o organismo físico dizem respeito a isso. O corpo é apenas o reflexo da escolha espiritual.”

Ou seja, a liberdade espiritual antecede a vida material. É no plano espiritual, antes de nascer, que o Espírito escolhe os caminhos que deseja trilhar, os desafios que precisa enfrentar e as experiências que deseja conquistar. A vida corporal é o palco onde essa escolha se desenrola, com os limites naturais impostos pela matéria, pela genética e pelo meio.


Aqui na Terra, o Espírito atua com liberdade relativa, mas o que vive já foi escolhido em grande parte antes de nascer. A dor, os encontros, os talentos, as limitações – tudo isso foi previamente analisado e aceito com responsabilidade. Contudo, ele ainda pode escolher amar ou odiar, perdoar ou revidar, levantar ou cair.

Ao afirmar que o comportamento humano é resultado de fatores genéticos e ambientais, os neurocientistas não estão completamente equivocados. Eles estão apenas olhando o fenômeno de forma parcial, limitada ao plano físico.

O Espiritismo nos mostra que a matéria é um reflexo da decisão espiritual. A genética é um instrumento da Lei Divina. O cérebro é uma ferramenta moldada para servir à experiência da alma.

Enquanto a ciência estuda o instrumento, o Espiritismo estuda o músico.

Enquanto a ciência investiga o palco, o Espiritismo revela o autor do roteiro.

Pontando, O livre-arbítrio não é um presente absoluto, nem tampouco uma ilusão. Ele é uma conquista gradual, que se amplia à medida que o Espírito evolui. Nas primeiras etapas, agimos mais por instinto e por condicionamento. Mas, à medida que adquirimos consciência, passamos a escolher com mais clareza e profundidade.

Na Terra, ainda estamos presos a muitas influências. Mas a verdadeira liberdade está no espírito, e se manifesta plenamente no mundo espiritual, onde nossas decisões moldam o corpo, a genética, as circunstâncias e os caminhos da existência. Logo, Sapolsky está certo ao afirmar que o corpo age conforme suas heranças e condicionamentos. Mas, como ensina o Espiritismo, o Espírito escolheu tudo isso antes de nascer, com liberdade, lucidez e amor. (Quando tem condição de escolher.)

O cérebro é o palco. A alma é o ator. E Deus, o diretor amoroso e justo que nos oferece sempre novos ensaios.


Regih Silva

 


11 de maio de 2025

O ESPIRITISMO SOLUCIONA O PARADOXO DE EPICURO


Desde os tempos antigos, a humanidade se depara com um questionamento profundo sobre a existência do mal e a bondade de Deus. O chamado "Paradoxo de Epicuro", formulado pelo filósofo grego, desafia a coerência entre a onipotência, a bondade divina e a presença do sofrimento no mundo. Se Deus é onipotente e bondoso, por que permite o mal? Se não pode impedir o mal, então não é onipotente? Se pode e não quer, então não é bom? Essas perguntas intrigam a filosofia e a teologia há séculos.

A Doutrina Espírita, por meio dos ensinamentos de Allan Kardec, apresenta uma resposta fundamentada na justiça e na sabedoria divinas. No capítulo 1 de O Livro dos Espíritos, Kardec questiona os mentores espirituais sobre "O que é Deus?" e a resposta sintetiza uma compreensão inovadora: Deus é a "inteligência suprema, causa primária de todas as coisas". Deste modo, Ele é infinitamente justo e bom, mas sua bondade e onipotência não devem ser analisadas sob uma óptica limitada e humana.

O capítulo 3 de A Gênese esclarece a origem do bem e do mal. Kardec explica que o mal não é uma criação divina, mas sim uma consequência da ignorância e do livre-arbítrio dos seres humanos e dos Espíritos em evolução. Deus, sendo infinitamente justo, concede a cada ser a liberdade de escolha, permitindo que aprenda com seus erros e progrida moralmente. O sofrimento, portanto, não é um castigo divino, mas um mecanismo pedagógico para a evolução.

O Espiritismo também diferencia os tipos de sofrimento. Alguns decorrem de escolhas erradas do próprio indivíduo, enquanto outros são provas necessárias para o crescimento espiritual. Esse entendimento amplia a visão sobre o mal, mostrando que ele não é eterno nem absoluto. O progresso moral da humanidade reduz a presença do sofrimento, e a reencarnação oferece múltiplas oportunidades para que cada ser aprenda e se harmonize com as leis divinas.

Dentro dessa perspectiva, a Doutrina Espírita também esclarece que Satanás, o Diabo ou os demônios não são seres supremos ou entidades rivais de Deus. No entendimento espírita, os chamados "demônios" são apenas Espíritos em estado de grande imperfeição moral, ainda presos às influências do mal e do egoísmo. Não existe um ser dedicado exclusivamente à maldade absoluta, pois todos os Espíritos estão destinados à evolução e ao progresso. Assim, aqueles que hoje ainda praticam o mal, com o tempo e as sucessivas encarnações, irão aprender, amadurecer e se transformar em seres melhores.

O Espiritismo nos convida a compreender que a justiça divina se manifesta a longo prazo e que o mal é apenas a sombra da ignorância, dissipando-se na luz do conhecimento e do amor. Dessa forma, não há contradição entre a bondade de Deus e a existência do sofrimento, pois tudo se encaixa no grande projeto de evolução universal.


Regih Silva

8 de maio de 2025

REDES SOCIAIS: LIBERDADE NÃO É LINCENÇA PARA O MAL

 


No dia 3 de maio de 2025, a Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, foi palco de um evento histórico: o retorno de Lady Gaga ao Brasil após 13 anos, com um show gratuito que reuniu mais de 2,5 milhões de pessoas. O espetáculo, parte do projeto "Todo Mundo no Rio", foi um marco de celebração da diversidade e da inclusão.

Contudo, por trás das luzes e da música, uma ameaça silenciosa pairava. Um grupo extremista, disseminando discursos de ódio e promovendo a radicalização de jovens através das redes sociais, planejava um atentado durante o evento. O plano envolvia o uso de explosivos improvisados e coquetéis molotov, com o objetivo de causar pânico e violência, especialmente contra a comunidade LGBTQIA+.

A operação que desmantelou esse plano, denominada Operação Fake Monster, foi coordenada pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, e contou com o apoio de forças policiais de outros estados. A investigação revelou que os criminosos utilizavam as redes sociais para recrutar adolescentes, promovendo conteúdos violentos e desafiando-os a participar de atos extremistas.

Vivemos numa era em que a palavra, como espada de dois gumes, atravessa continentes em segundos. As redes sociais, criadas para aproximar, educar e inspirar, têm sido corrompidas e transformadas em arenas do ódio, laboratórios do fanatismo e campos férteis para crimes morais e espirituais. Pela ausência de regulamentações claras, e pela conivência de muitos que deveriam legislar com discernimento, esses espaços digitais servem como palanques para os semeadores da violência.

Mas há um fator ainda mais grave, raramente discutido com franqueza: o ódio dá lucro.

As plataformas digitais foram moldadas para reter a atenção humana a qualquer custo. E poucos conteúdos são tão eficazes nisso quanto os que inflamam, chocam e dividem. O algoritmo, insensível ao bem e ao mal, não distingue o que edifica do que destrói — ele simplesmente impulsiona o que gera engajamento. E, lamentavelmente, o que mais engaja, hoje, é o escândalo, a agressão, a polarização e o medo.

Quanto mais ódio circula, mais cliques surgem.
Mais tempo na tela, mais anúncios vendidos, mais lucros para corporações que lavam as mãos enquanto a sociedade se decompõe moralmente.

Recordemos a advertência do Cristo: "Ai do mundo por causa dos escândalos!" (Mateus 18:7) — e sua continuação: "É necessário que venham escândalos, mas ai daquele por quem o escândalo vem!"
Ai, também, dos que conscientemente monetizam o sofrimento alheio. Que lucram com a degradação da dignidade humana e se escondem sob o disfarce da “liberdade de expressão”.

Não é censura — é consciência.
Não se trata de calar ideias, mas de responsabilizar atitudes.
A regulamentação das redes sociais é um imperativo moral. E os que a combatem com fúria, na maioria das vezes, não o fazem por amor à liberdade, mas por interesse próprio — ou porque têm algo a perder: poder, influência ou impunidade.

O Espiritismo é direto:

“A liberdade é o direito de fazer tudo o que não prejudique a outrem.”
(O Livro dos Espíritos, questões 825 e 826)

E Emmanuel, nos alerta:

Só existe verdadeira liberdade na submissão ao dever fielmente cumprido.

Liberdade sem responsabilidade é tirania da sombra.
É egoísmo maquiado de direito.
É a alma rebelde disfarçada de cidadania.

A ausência de regras só interessa aos que pretendem usar as redes como instrumentos de manipulação e destruição. Esses não temem a censura, temem a luz. Porque sabem que o que fazem não resistirá ao crivo da Justiça.

A Terra, ainda mundo de provas, caminha para a regeneração. E não há regeneração sem elevação moral das leis, sem educação das consciências, sem a organização do bem. As redes sociais são os novos foros da alma coletiva. E o Evangelho deve estar presente nelas — não como doutrina imposta, mas como consciência despertada.

Jesus, o Governador Espiritual da Terra, age com doçura, mas também com justiça. Ele não silenciou diante dos vendilhões do templo. E hoje, talvez, voltasse o olhar aos vendilhões do ódio virtual.

É chegada a hora de acender a luz.
De colocar a verdade acima dos lucros.
De reafirmar que liberdade não é sinônimo de destruição.

Porque o Cristo já nos advertiu:

“Tudo o que foi dito às escondidas será revelado à luz do dia.” (Lucas 12:3)

E esse dia é hoje.


Regih Silva

4 de maio de 2025

"MENTIRAS QUE AGRADAM OU VERDADES QUE LIBERTAM? O CASO DOS REMÉDIOS E TRATAMENTOS NEGADOS PELO SUPREMO"



Há um certo grupo ideológico no seio da nossa sociedade que banaliza, sem o menor pudor, a célebre frase de Jesus: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” Uso aqui o termo "banaliza" não só pelo excesso repetitivo, mas sobretudo pela completa falta de compromisso com a verdade — o que, na prática, os move é apenas a aceitação confortável das fake news que alimentam as suas crenças.

Estes dias, dei de caras com mais um destes cidadãos, que não perdeu a oportunidade de, por motivos óbvios, lançar novas pedras contra o ministro Alexandre de Moraes. Num vídeo carregado de emoção, via-se uma menina, em lágrimas, suplicando por um medicamento raro que lhe teria sido negado pelo Estado, medicamento este essencial para a sua sobrevivência.

O autor do vídeo, movido mais por indignação seletiva do que por empatia verdadeira, acusava o ministro Alexandre de ser um homem sem coração, sugerindo que a recusa partira diretamente dele, e daí partia para uma enxurrada de críticas e protestos inflamados.

Mas, diferente dessa gente, que confunde narrativa com realidade, eu ainda me permito o saudável exercício de buscar a verdade antes de emitir qualquer juízo. E foi nessa busca que deparei-me com os fundamentos da decisão — fundamentos estes que agora partilho convosco:

  1. Reserva do possível: O Supremo Tribunal Federal (STF) entende que o Estado tem o dever constitucional de garantir o acesso à saúde (art. 196 da Constituição Federal). Contudo, tal obrigação é analisada à luz da “reserva do possível” — ou seja, a capacidade financeira e organizacional do Estado para cumprir tal obrigação, sem comprometer o atendimento coletivo e o equilíbrio fiscal.

  2. Política de saúde pública: O STF reconhece que cabe ao Poder Executivo, por meio de políticas públicas e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), definir quais tratamentos e medicamentos serão priorizados, com base em critérios de eficácia, segurança, custo-efetividade e interesse público.

  3. Registro na ANVISA: O fornecimento de medicamentos pelo poder público depende, como regra geral, do prévio registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), conforme previsto na Lei nº 6.360/1976. Isso garante que o medicamento atenda critérios mínimos de eficácia e segurança.

  4. Judicialização da saúde: O STF, em diversas decisões, tem destacado a necessidade de um equilíbrio entre o direito individual à saúde e a responsabilidade do Estado em assegurar o funcionamento sustentável do SUS, evitando que decisões judiciais pontuais comprometam o orçamento público de maneira desproporcional ou privilegiem alguns cidadãos em detrimento de outros.

Em resumo, o STF não age de maneira arbitrária ao decidir sobre o fornecimento de medicamentos. O Tribunal busca respeitar a Constituição, mas também preservar a coerência orçamentária e a igualdade no acesso aos recursos públicos.

Além disso, é importante esclarecer que, ao contrário do que muitos sugerem, o ministro Alexandre de Moraes não proferiu nenhuma decisão monocrática nos últimos dois anos que tenha negado o fornecimento de medicamentos ou tratamentos a pacientes.

Por fim, é sempre importante reforçar: ao Supremo cabe interpretar e aplicar a lei, enquanto ao Congresso Nacional cabe legislar, criando ou modificando normas. Portanto, em situações que envolvem lacunas legais, limitações de recursos ou falhas estruturais, a pressão social e política deveria recair sobre os representantes eleitos — que são os responsáveis por definir as regras e condições de acesso, inclusive no que diz respeito à incorporação de novos medicamentos e tratamentos.


Regih Silva

1 de maio de 2025

UMA REFEXÃO ESPÍRITA PARA O 1° DE MAIO


No calendário social, o Dia do Trabalho é uma data marcada por manifestações, discursos e reivindicações. Para os que estudam o Espiritismo, porém, é também uma oportunidade sagrada de reflexão sobre uma das leis divinas mais fundamentais: a Lei do Trabalho.

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, nos ensina que o trabalho não se restringe à atividade remunerada. Ele é, antes de tudo, “toda ocupação útil”. Desde o esforço da semente ao romper o solo, ao serviço silencioso da mãe que vela o filho, toda ação que contribui para o bem, para a edificação, para o progresso individual ou coletivo, é trabalho diante da Lei de Deus.

Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, traz uma mensagem tocante e profunda intitulada "Lei do Trabalho", na qual descreve poeticamente como toda a Criação colabora com o progresso:

“O verme aduba. A terra acalenta. O orvalho protege. O vento renova. A semente produz... Tudo age. Tudo obedece. Tudo evolui. Tudo responde. Tudo serve.”(Emmanuel, em “Ideal Espírita”, capítulo 63 “Lei do Trabalho”, psicografia de Francisco Cândido Xavier, FEB.)

Com essa sequência de imagens, Emmanuel nos recorda que tudo no universo está em movimento, em serviço, em obediência a um plano superior. Desde os seres mais simples até as construções humanas mais complexas, tudo está interligado pela Lei do Trabalho.

Esse ensinamento eleva o conceito de labor à condição de instrumento evolutivoTrabalhar é colaborar com Deus na obra da Criação. Cada tarefa, por mais humilde que pareça, é parte de um ciclo sagrado. Quando o Espírito compreende isso, deixa de buscar apenas o ganho imediato, e passa a valorizar o esforço, a dedicação e a utilidade de seu papel no mundo.

Allan Kardec, ainda em O Livro dos Espíritos, reforça essa ideia ao perguntar, na questão 643, se há pessoas que não encontram oportunidades para fazer o bem. A resposta dos Espíritos Superiores é clara:

“Não há quem não possa fazer o bem; somente o egoísta nunca encontra ocasião de praticá-lo. Porque vê tudo exclusivamente por si e para si, fecha os olhos às necessidades alheias.”(Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, questão 643, FEB)

Assim, trabalhar pelo bem — mesmo que não seja no campo profissional — é sempre possível. O trabalho verdadeiro não exige recursos materiais, mas sim disposição interior para servir.

Em outra de suas mensagens luminosas, Emmanuel nos apresenta a figura sublime de Jesus sob uma perspectiva profundamente simbólica: a do trabalhador divino. Comentando as palavras de João Batista em Lucas 3:17, ele afirma:

“O precursor designa-o por trabalhador atento que tem a pá nas mãos, que limpará o chão duro e inculto, que recolherá o trigo na ocasião adequada e que purificará os detritos com a chama da justiça e do amor que nunca se apaga.”(Emmanuel, no livro “Pão Nosso”, lição 90 – “O Trabalhador Divino”, psicografia de Francisco Cândido Xavier, FEB.)

Enquanto o mundo antigo aguardava um Messias glorioso, Emmanuel nos revela o Cristo como um servo vigilante e esperançoso, que carrega em suas mãos não pergaminhos ou cetros de poder, mas uma pá rústica, símbolo do serviço constante. Ele não descansa, mas trabalha, limpa, purifica e acolhe, mostrando-nos que o verdadeiro líder espiritual é aquele que serve primeiro.

Não podemos esquecer que Jesus, o Trabalhador Divino, também viveu na Terra como um homem comum, exercendo a profissão de carpinteiro. O próprio Evangelho nos revela que Ele passou anos trabalhando ao lado de José, seu pai adotivo, no ofício da carpintaria. Ele, o Filho de Deus, também trabalhou com as mãos, moldando madeira e criando utensílios. Este exemplo de humildade é uma lição para todos nós: não existe trabalho pequeno ou insignificante quando feito com amor, dedicação e com a consciência de que estamos contribuindo para a edificação do bem no mundo.
“Todos vós que viveis empenhados nos serviços terrestres, por uma era melhor, mantende aceso no coração o devotamento à causa do Evangelho do Cristo... Porque conosco vai à frente, abençoando-nos a humilde cooperação, aquele trabalhador divino que limpará a eira do mundo.”(Emmanuel, idem, “O Trabalhador Divino”)

Na ótica espírita, o trabalho tem também um papel regenerador. Ele nos disciplina as emoções, fortalece a vontade, educa o pensamento. Não por acaso, nas colônias espirituais, como descreve André Luiz em Nosso Lar, o trabalho é uma bênção redentora. Espíritos que desperdiçaram a existência na ociosidade sofrem, e recomeçam sua recuperação justamente pelo serviço útil ao próximo.

Assim, ao celebrarmos o 1º de Maio, façamos mais que recordar conquistas sociais. Celebremos a dignidade do trabalho como lei divina. Sejamos gratos ao labor que nos forma, transforma e nos aproxima de Deus.

Não importa a função que ocupamos: professor, operário, dona de casa, artista, servidor público ou voluntário silencioso... O valor está em como fazemos, com que sentimento servimos, com quanta luz colocamos naquilo que oferecemos ao mundo.

Que neste Dia do Trabalho, guiados pelas mensagens de Emmanuel e pela Doutrina Espírita, possamos renovar nosso compromisso com a utilidade, com o esforço digno e com o serviço ao bem, certos de que:

“Cada criatura deve ser útil, conforme as faculdades de que disponha.”(Emmanuel, em “Ideal Espírita”, cap. “Lei do Trabalho”)

E que o tempo, este tesouro que se renova a cada amanhecer, seja o solo fértil onde cultivemos a nossa transformação moral pelo esforço constante no bem — com Jesus, o trabalhador divino, à frente de nossa jornada.

Regih Silva