9 de abril de 2025

O PERIGO DOS CHARLATÕES: QUANDO A MENTIRA SE DISFARÇA DE ESPIRITUALIDADE



Creio que ainda em 2022, fui alertado pela espiritualidade amiga sobre a nova onda de charlatães que surgiria. Eles substituiriam a psicofonia pela chamada “canalização”, trocariam espíritos por extraterrestres, guardiões e transformariam casas e centros espíritas em grupos sem qualquer compromisso com a verdade. 

A mentira correria solta.

Um exemplo marcante é o do Pedro Augusto um suposto médium que alega dar passividade a exus, pombas-giras, extraterrestres e, pasmem, até a Jesus e Deus! Seu misticismo fraudulento mistura tudo em um verdadeiro balaio. Às vezes, chego a pensar que, antes de ser um farsante, trata-se de um caso típico para a psiquiatria. Em todo caso, não é uma pessoa confiável. Teve a audácia de afirmar ser a reencarnação de Allan Kardec – mais uma vez, pasmem os senhores!

Mas ele não está sozinho. Há muitos outros dentro do meio espírita e espiritualista, verdadeiros “coachs” do ocultismo, à la Pablo Marçal. Muita mentira, pouquíssima verdade e um enorme interesse financeiro por trás. Desde os tempos de Kardec, essa gente já existia, e o próprio codificador, sempre que possível, desmascarava-os sem hesitação. E nos advertia: "Se há verdadeiros profetas, há também os falsos e ainda em maior número, que tomam os devaneios da própria imaginação por revelações, quando não se trata de mistificadores que o fazem por ambição."

Além do evidente charlatanismo, há um erro doutrinário grave na alegação de que um médium pode dar passividade a espíritos de ordens tão distintas, especialmente a Jesus e Deus. Segundo a codificação espírita, os espíritos se comunicam dentro dos limites de sua afinidade fluídica e moral com o médium. Espíritos inferiores só se manifestam por meio de médiuns cuja sintonia moral e fluídica lhes permite essa influência. Da mesma forma, espíritos elevados necessitam de médiuns moralmente preparados, com propósitos sérios e desinteressados.

Em O Livro dos Médiuns, Kardec ensina que "os Espíritos superiores não se prestam a dar espetáculos e se afastam dos que buscam desvirtuar sua missão com frivolidades ou interesses materiais." Ora, se isso vale para os espíritos elevados, quanto mais para Jesus, um Espírito puro, cuja presença não se manifesta por via mediúnica comum, mas sim por inspiração profunda àqueles que realmente se afinam com sua mensagem.

Sobre Jesus, O Evangelho Segundo o Espiritismo deixa claro que sua missão na Terra foi única, e ele não se manifestaria de maneira banal ou sem uma razão grandiosa. Qualquer alegação de sua presença constante em reuniões mediúnicas não condiz com o que ensina a Doutrina Espírita.

Já em relação a Deus, Kardec é categórico: "Deus não se comunica diretamente com os homens; Ele lhes envia seus espíritos para transmitir sua vontade." (O Livro dos Espíritos, questão 11). Portanto, qualquer um que afirme "receber" Deus em psicofonia ou incorporação não apenas ignora a doutrina espírita, mas demonstra ou fraude, ou delírio.

O perigo desses falsários é evidente: exploram a fé alheia, abusam de conceitos legítimos e distorcem ensinamentos espirituais para benefício próprio. Cabe a cada um de nós manter a vigilância e o discernimento, para que a verdade não seja soterrada pelo espetáculo da mentira.

Regih Silva




8 de abril de 2025

O QUE TEM AFASTADO PESSOAS DO ESPIRITISMO? UM CONVITE À REFLEXÃO E À AUTOCRÍTICA

 


Recentemente, uma publicação em uma rede social nos chamou atenção ao trazer um dado importante: segundo pesquisa do Datafolha realizada em São Paulo, cerca de 10% dos espíritas migraram para o meio evangélico em 2024. O número, por si só, é expressivo, mas mais importante do que os números são as perguntas que a página fez:

“O que tem afastado tantas pessoas do Espiritismo? Estaria faltando acolhimento em nossos centros? Temos oferecido pouco aprofundamento doutrinário? Estaríamos sendo julgadores e excessivamente rígidos? Ou será que estamos falhando na vivência real do Evangelho?”

Essas questões são válidas e merecem reflexão sincera e desapegada de vaidades institucionais. Afinal, o Espiritismo, que se apresenta como o Cristianismo redivivo, não pode se furtar ao compromisso de se autoanalisar com honestidade. E essa análise começa por reconhecer que nem todos os que frequentam casas espíritas, de fato, compreenderam o espírito da doutrina que ali se estuda.

Muitos dos que se afastam talvez nunca tenham compreendido, de fato, a essência libertadora do Espiritismo. Estiveram presentes fisicamente, mas espiritualmente ainda estavam presos a estruturas religiosas antigas, marcadas pelo medo, pela culpa, pela punição e pela terceirização da responsabilidade.

Ao encontrarem em algumas seitas evangélicas uma linguagem mais simples, um ambiente mais emocional e uma fé calcada em promessas imediatistas, identificaram ali um terreno mais compatível com suas expectativas religiosas — muitas vezes ainda ancoradas no Antigo Testamento e na ideia de um Deus vingador e exclusivista. Não julgamos, apenas constatamos uma realidade evolutiva: cada consciência está em seu tempo.

Vale ressaltar que quando mencionamos “seitas evangélicas”, não nos referimos às diversas congregações evangélicas sérias, nem aos nossos irmãos evangélicos sinceros que verdadeiramente vivem os ensinamentos de Jesus. Pelo contrário, reconhecemos e respeitamos o esforço de muitos em viver o Evangelho com amor e dedicação. A crítica aqui se direciona a movimentos religiosos que se utilizam do nome de Cristo para difundir o medo, a intolerância, a barganha espiritual e a manipulação emocional.

O Espiritismo não se propõe a agradar conveniências. Ele nos chama à responsabilidade pessoal, afirmando, como disse Jesus: "A cada um segundo as suas obras" (Mateus 16:27). A doutrina espírita não oferece salvação fácil, tampouco perdão mágico. Ela convida à reforma íntima, ao autoencontro, à superação das próprias imperfeições.

Essa proposta é, para muitos, desconfortável. Requer estudo, esforço, vigilância e, sobretudo, humildade para reconhecer que o maior inimigo não está fora, mas dentro de nós. E isso exige maturidade espiritual.

Jesus, sabendo das limitações dos seus discípulos e do tempo necessário à compreensão das verdades espirituais, prometeu enviar um Consolador, segundo o Evangelho de João:

“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir.”
(João 16:12-13)

O Espiritismo é esse Consolador prometido. Veio explicar, ampliar, recordar e vivificar os ensinamentos de Jesus. Veio nos lembrar de que Deus é Amor e Justiça, e que somos todos filhos do mesmo Pai. Veio nos tirar das sombras da superstição e nos reconduzir à luz da fé raciocinada.

É preciso reconhecer que, se pessoas se afastam do Espiritismo por não se sentirem acolhidas, ou por não encontrarem respostas profundas, a responsabilidade é, em parte, nossa. Estamos, de fato, vivendo o Evangelho?

Nossas casas espíritas são ambientes de amor, escuta e caridade? Ou nos tornamos rígidos, teóricos e frios?

O conhecimento doutrinário é fundamental, mas se não vier acompanhado de vivência evangélica, ele se torna árido e estéril. É necessário evangelizar o coração, não apenas o intelecto.

Não se trata de atrair multidões, mas de tocar consciências. Não se trata de agradar, mas de transformar. E isso só é possível pelo exemplo.

Contudo, o Espiritismo é uma doutrina de luz, mas essa luz só ilumina quando acendemos o próprio interior. Não devemos temer as perdas numéricas, mas refletir sobre o que estamos oferecendo — e como estamos oferecendo. O verdadeiro espírita se reconhece pelo esforço que faz para domar suas más inclinações.

Se queremos que o Espiritismo permaneça como farol seguro, devemos torná-lo vivo em nossas atitudes. O Evangelho não se prega apenas com palavras, mas com gestos.

Que o Consolador prometido continue nos inspirando — e que nós sejamos dignos de levá-lo adiante com humildade, fé e caridade.

 

Regih Silva

7 de abril de 2025

A SÍNDROME DE ESTOCOLMO E O COMPLEXO DE CULPA À LUZ DO ESPIRITISMO



A Síndrome de Estocolmo, na psicologia, caracteriza-se pela relação de dependência emocional e identificação da vítima com seu agressor. No campo espiritual, podemos traçar um paralelo com o complexo de culpa que muitas almas desencarnadas carregam, mantendo-se presas ao sofrimento e à expiação, sem avançar para a reparação de seus atos.

No livro O Céu e o Inferno, Allan Kardec esclarece que o verdadeiro caminho da redenção espiritual passa por três estágios fundamentais:

  1. Arrependimento - O reconhecimento sincero do erro cometido.

  2. Expiação - A vivência das consequências dos atos praticados, que leva à reflexão e ao aprendizado.

  3. Reparação - Ações concretas para corrigir o dano causado, promovendo o bem onde antes houve o mal.

Kardec destaca que "o arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa". Dessa forma, apenas sofrer não basta para obter o perdão divino; é necessário agir de maneira transformadora.

Infelizmente, tanto encarnados quanto desencarnados podem permanecer estacionados na expiação, acreditando que o sofrimento em si é suficiente para a purificação. Esse comportamento reflete o complexo de culpa, onde a alma se considera indigna de redenção e, ao invés de buscar a evolução, se afunda no vitimismo. Tal atitude é inútil perante a justiça divina, pois não contribui para a verdadeira reabilitação espiritual.

Na Síndrome de Estocolmo, temos o algoz de ontem acreditando que deve padecer dos equívocos que realizou, sendo vítima no agora. Ledo engano. O Espiritismo nos ensina que não há justiça na troca cega de papéis entre opressor e oprimido; a verdadeira redenção está na transformação interior e na prática do bem.

Podemos exemplificar isso com o caso de um senhor que, em uma existência passada, foi um senhor de escravos cruel e impiedoso. Ao reencarnar, por remorso inconsciente, pode atrair situações de sofrimento extremo, aceitando-se como explorado ou humilhado. No entanto, essa vivência, se não acompanhada de um real esforço de reparação, apenas prolonga o ciclo de dor. A verdadeira redenção viria se ele, compreendendo seus erros, se tornasse um defensor da dignidade humana, trabalhando em prol da igualdade e educação, por exemplo.

Para exemplificar, podemos pensar também em uma mulher que, por diversas circunstâncias, tenha cometido um aborto e, mais tarde, por questões físicas, não possa mais engravidar. Se ela reconhece seu erro e deseja se redimir, sua reparação pode vir pela adoção de uma criança ou pela dedicação à educação infantil, auxiliando outras vidas. Dessa forma, ela não apenas aceita a responsabilidade de seu ato, mas transforma sua existência em um canal de amor e aprendizado.



Pelo complexo de culpa, muitos espíritos têm sofrido e per
manecido presos nas zonas umbralinas, sem aceitar o caminho da reparação. A obra de André Luiz, psicografada por Chico Xavier, traz vários relatos dessa realidade. Em Nosso Lar, vemos o caso de muitos desencarnados que se fixam no Umbral, envoltos em sentimentos de culpa e autopenitência, recusando-se a buscar o amparo e a evolução. O próprio André Luiz, inicialmente, encontra-se nessa situação, sofrendo os tormentos de sua consciência e acreditando-se indigno do perdão. Somente ao reconhecer suas falhas e aceitar a oportunidade de aprendizado é que ele consegue se libertar e dar início à sua jornada de reabilitação.

A reencarnação, como expressão da justiça e misericórdia divinas, nos possibilita novas oportunidades de reparação. Deus não deseja o sofrimento eterno de suas criaturas, mas sim seu progresso. Assim, a verdadeira "salvação" não está no padecimento, mas na reconstrução do bem onde antes houve o erro.

O Espiritismo nos ensina que somos todos falíveis e passíveis de erro, mas também nos convida à reflexão e à responsabilidade por nossos atos. O complexo de culpa apenas nos aprisiona, enquanto a verdadeira libertação espiritual está na consciência tranquila e no amor ao próximo. Somente através da reparação podemos efetivamente apagar os traços de nossas faltas e nos elevar na escala evolutiva rumo à perfeição.

Regih Silva

2 de abril de 2025

CHICO XAVIER: O HOMEM QUE NOS ENSINOU A AMAR





Se Francisco Cândido Xavier estivesse entre nós, completaria mais um ano de vida neste 2 de abril. Mas a verdade é que Chico nunca nos deixou. Sua presença, ainda que invisível aos olhos, continua a iluminar corações e a inspirar aqueles que buscam a paz em um mundo turbulento.

Diante da polarização feroz que assola o Brasil e o mundo, onde o ódio parece ter se tornado um idioma universal, é inevitável perguntar: o que diria Chico Xavier? Como reagiria esse homem que viveu a caridade em sua forma mais pura, sem jamais levantar a voz para dividir, mas sempre para acolher?

Chico nos ensinou que a maior revolução é a do amor. Não um amor teórico, preso às páginas de livros, mas um amor em ação, feito de gestos simples e profundos. Ele não se prendia a rótulos ou a discursos inflamados. Preferia o silêncio da prece ao barulho da intolerância. Se estivesse aqui, provavelmente nos pediria que olhássemos menos para as diferenças e mais para o que nos une.

Certa vez, ao ser questionado sobre sua postura diante das injustiças do mundo, Chico respondeu com humildade que a verdadeira transformação começa dentro de nós. Ele não incentivava o conformismo, mas sim a reforma íntima, a paciência ativa que move montanhas com a força do bem.

Seu compromisso com a verdade também era inabalável. Em uma época em que tanto se fala sobre a autenticidade dos fenômenos mediúnicos, estudos científicos foram conduzidos para verificar a veracidade de suas mensagens. Entre eles, um trabalho conduzido por pesquisadores norte-americanos e até uma análise mencionada por especialistas ligados à NASA apontaram a complexidade e coerência dos escritos de Chico, desafiando qualquer explicação convencional.

Mas Chico nunca precisou da validação da ciência para seguir sua missão. Sua maior prova estava na forma como viveu: com desapego, humildade e compaixão.

Nos últimos anos, alguns tentam associá-lo ao apoio à ditadura militar, baseando-se em sua participação no programa Pinga-Fogo, onde sugeriu que os brasileiros orassem pelos militares. Mas quem conhece a doutrina espírita sabe que a prece nunca foi um sinal de apoio incondicional, e sim um ato de compaixão cristã. O Espiritismo nos ensina que devemos orar até pelos nossos adversários, pois todos são espíritos em evolução.

Além disso, um resgate histórico importante revela outra faceta de Chico. Em 1935, antes mesmo da ditadura, ele psicografou mensagens publicadas pelo jornal O Globo, onde criticava o extremismo e o personalismo na política brasileira, defendendo a democracia como caminho para o progresso da nação. Esses registros mostram que sua essência sempre foi voltada à conciliação e à justiça, nunca ao autoritarismo.

Para compreender a postura de Chico Xavier diante do regime militar, é necessário olhar para o cenário da época com honestidade histórica. Caso uma ditadura do proletariado tivesse sido instaurada no Brasil em 1964, o país poderia ter vivenciado:

  • Censura total da imprensa, permitindo apenas meios de comunicação estatais ou alinhados ao regime.

  • Repressão a opositores, com perseguições e prisões de qualquer movimento político contrário.

  • Nacionalização da economia, onde empresas privadas, bancos e terras poderiam ser expropriados.

  • Repressão religiosa e cultural, proibindo religiões e manifestações consideradas "burguesas".

  • Militância obrigatória, impondo a ideologia socialista no ensino e em diversas instituições.

Diante dessa ameaça, Chico pode ter enxergado o regime militar como um "mal menor" naquele momento. Seu pensamento não se pautava em ideologias políticas, mas na busca pelo equilíbrio e pela paz social. No entanto, o que deveria ter sido um governo transitório se prolongou por 21 anos, trazendo graves consequências como censura, tortura, mortes e a perseguição de muitos inocentes.

E foi justamente para alertar sobre os riscos dos extremos que o espírito de Emmanuel, mentor de Chico, transmitiu diversas mensagens desde 1935, alertando contra qualquer regime autoritário, seja de direita ou de esquerda. Emmanuel sempre deixou claro que o caminho da evolução passa pela democracia e pela liberdade de consciência.

Outro ponto que precisa ser abordado é a forma como, anos após sua desencarnação, alguns supostos "amigos" de Chico ainda tentam interpretar suas palavras conforme suas próprias visões. De tempos em tempos, surgem declarações feitas em seu nome, distorcidas ou fora de contexto, como se ele tivesse tomado partido em questões políticas ou sociais específicas. No entanto, quem realmente acompanhou sua trajetória sabe que Chico jamais impôs suas opiniões e sempre buscou o entendimento entre as diferenças. Ele não pregava o medo, nem alimentava teorias alarmistas, mas sim a esperança e a fé na regeneração do mundo.

Em tempos de radicalismos e discursos inflamados, sua resposta seria clara: amar, compreender, perdoar. O extremismo jamais encontrou espaço em seu coração.

Se hoje, tantos anos após sua partida, ainda nos perguntamos qual seria sua posição diante dos desafios contemporâneos, talvez a resposta esteja na simplicidade de seus gestos. Chico Xavier não escolheria um lado, mas sim a paz. Não atacaria, mas acolheria. Não se exasperaria, mas oraria.

E talvez, se prestarmos atenção, possamos ouvir sua voz suave nos lembrando que, no fim das contas, só o amor constrói.


Regih Silva