No cenário político, especialmente, tornou-se
cada vez mais notório o crescimento de uma prática que, se olhada
superficialmente, parece apenas fruto da era digital, mas que revela um
problema moral muito mais profundo: a política da lacração.
Sim, essa nova moda consiste em usar os
espaços públicos, especialmente nas comissões parlamentares, não para debater
ideias ou construir pontes de entendimento, mas apenas para registrar trechos
de discursos previamente ensaiados, recortá-los, e divulgá-los nas redes
sociais para sua própria plateia, como se fossem provas incontestáveis de
razão. O método é simples: filma, corta, divulga — apenas o próprio lado.
Pouco importa o que o outro tem a dizer. Pouco
importa se há argumentos contrários ou verdades que precisam ser analisadas com
ponderação. O que importa é o aplauso da própria bolha. A intenção já não é
esclarecer, mas impressionar.
Para quem caminha nas sendas do Espiritismo e se propõe a compreender a realidade além da aparência, não é difícil perceber que este comportamento é reflexo de velhas posturas do ego humano: o orgulho e a vaidade travestidos de eloquência.
Sobre isso, Allan Kardec, sempre lúcido em suas observações, deixou-nos uma lição que parece escrita especialmente para os dias de hoje:
“Reservar-se o direito de atacar e não admitir
resposta é um meio cômodo de ter razão; resta saber se é o de chegar à
verdade.”
O codificador do Espiritismo, com sua clareza
e equilíbrio, nos ensina que não existe descoberta da verdade onde não há
diálogo honesto. A verdade não teme o debate. Ao contrário, ela se revela,
lapida-se e se enobrece no campo sereno da argumentação, onde todas as partes
são ouvidas e respeitadas.
A política da lacração, por sua vez, é o oposto desse caminho. Ela fecha os ouvidos à opinião alheia e se alimenta de um jogo teatral, cujo objetivo não é o bem comum, mas a autopromoção. E quando o debate vira monólogo, o povo se torna massa de manobra. É a inversão do que deveria ser um espaço sagrado de serviço à coletividade.
Os Espíritos Superiores sempre destacam que a elevação moral e intelectual anda de mãos dadas com a humildade de ouvir, aprender e, se necessário, reformular conceitos. A rigidez cega e a necessidade constante de ter razão são portas fechadas para a evolução.
A Doutrina Espírita, pela sua essência, nos
convida ao exercício da tolerância, do diálogo e da busca pela verdade, que
jamais será conquistada através do grito, do corte seletivo de falas, nem de
vídeos bem editados. A verdade é filha da reflexão, não da lacração.
Que saibamos, como bons aprendizes do
Evangelho, buscar o entendimento sincero, a escuta atenta e o respeito à
divergência. O mundo não precisa de mais gritos, mas de mais corações dispostos
a construir.
Regih Silva