28 de abril de 2025

O PERIGO DA POLÍTICA LACRADORA: “FILMA, CORTA E DIVULGA — APENAS O MEU LADO”

 


Em meio a tantos avanços da tecnologia, com recursos que nos permitem comunicar em tempo real com qualquer pessoa do mundo, o que mais parece faltar — paradoxalmente — é o verdadeiro diálogo.

No cenário político, especialmente, tornou-se cada vez mais notório o crescimento de uma prática que, se olhada superficialmente, parece apenas fruto da era digital, mas que revela um problema moral muito mais profundo: a política da lacração.

Sim, essa nova moda consiste em usar os espaços públicos, especialmente nas comissões parlamentares, não para debater ideias ou construir pontes de entendimento, mas apenas para registrar trechos de discursos previamente ensaiados, recortá-los, e divulgá-los nas redes sociais para sua própria plateia, como se fossem provas incontestáveis de razão. O método é simples: filma, corta, divulga — apenas o próprio lado.

Pouco importa o que o outro tem a dizer. Pouco importa se há argumentos contrários ou verdades que precisam ser analisadas com ponderação. O que importa é o aplauso da própria bolha. A intenção já não é esclarecer, mas impressionar.

Para quem caminha nas sendas do Espiritismo e se propõe a compreender a realidade além da aparência, não é difícil perceber que este comportamento é reflexo de velhas posturas do ego humano: o orgulho e a vaidade travestidos de eloquência.

Sobre isso, Allan Kardec, sempre lúcido em suas observações, deixou-nos uma lição que parece escrita especialmente para os dias de hoje:

“Reservar-se o direito de atacar e não admitir resposta é um meio cômodo de ter razão; resta saber se é o de chegar à verdade.”

O codificador do Espiritismo, com sua clareza e equilíbrio, nos ensina que não existe descoberta da verdade onde não há diálogo honesto. A verdade não teme o debate. Ao contrário, ela se revela, lapida-se e se enobrece no campo sereno da argumentação, onde todas as partes são ouvidas e respeitadas.

A política da lacração, por sua vez, é o oposto desse caminho. Ela fecha os ouvidos à opinião alheia e se alimenta de um jogo teatral, cujo objetivo não é o bem comum, mas a autopromoção. E quando o debate vira monólogo, o povo se torna massa de manobra. É a inversão do que deveria ser um espaço sagrado de serviço à coletividade.

 Os Espíritos Superiores sempre destacam que a elevação moral e intelectual anda de mãos dadas com a humildade de ouvir, aprender e, se necessário, reformular conceitos. A rigidez cega e a necessidade constante de ter razão são portas fechadas para a evolução.

A Doutrina Espírita, pela sua essência, nos convida ao exercício da tolerância, do diálogo e da busca pela verdade, que jamais será conquistada através do grito, do corte seletivo de falas, nem de vídeos bem editados. A verdade é filha da reflexão, não da lacração.

Que saibamos, como bons aprendizes do Evangelho, buscar o entendimento sincero, a escuta atenta e o respeito à divergência. O mundo não precisa de mais gritos, mas de mais corações dispostos a construir.


Regih Silva

 

24 de abril de 2025

A DOR DA IGNORÂNCIA E A VOZ DA CONSCIÊNCIA

 



É com o coração apertado que observo, como tantos irmãos de caminhada, a morte ser tratada como um troféu ideológico — e não como o rito sagrado de transição que é. Dói ver líderes — invariavelmente alinhados a extremos que sufocam a empatia — celebrarem a partida de um espírito como se fosse uma “limpeza espiritual”. Não é a opinião que fere, mas o aplauso que ela encontra. O eco entre tantos corações sedentos de ódio, disfarçado de verdade, é o que mais entristece.

A morte do Papa Francisco, figura de fé e compaixão para milhões, não trouxe união. Pelo contrário: serviu de combustível para uma polarização já acentuada, transformando o que deveria ser lamento coletivo em palco de julgamento.

Desde o início do século XXI, o nosso planeta — e sim, ele é redondo — tem passado por um processo claro de transição espiritual. Estamos a caminhar para um mundo de regeneração, onde a justiça, o amor e a verdade ocuparão o lugar do orgulho, da intolerância e da vaidade. Há, sim, uma limpeza espiritual em curso. 
Mas acreditar que ela se manifestaria na partida de Francisco é não compreender os critérios do Alto. A sua conduta — marcada pela humildade, empatia e defesa dos mais vulneráveis — está longe de representar o que precisa ser expurgado do nosso mundo.

E aqui, infelizmente, vemos um fenomeno cada vez mais comum: aqueles que não fazem o menor esforço para vivenciar os valores de Francisco são os primeiros a acusá-lo de comunista. Tudo o que escapa ao padrão mesquinho dessa gente, que endeusa o ego e demoniza a compaixão, é rotulado de comunismo — mesmo sem saberem o que a palavra significa. Repetem chavões como mantras vazios, presos a uma visão de mundo que só reconhece como certo aquilo que espelha seus próprios medos e preconceitos. Não por acaso — porque no universo nada é por acaso — muitos desses espíritos, endurecidos pela arrogância, serão convidados a recomeçar em mundos como Quíron, onde a dor ensinará o que o amor ainda não conseguiu alcançar.

Lembro-me das palavras lúcidas de Umberto Eco, mais atuais do que nunca: “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis…”. Não se trata de calar vozes — mas de despertar consciências. Porque nem todo som é música, nem toda opinião é luz.

É nos tempos de trevas morais que somos chamados à luz firme da vigilância interior. Que não respondamos com raiva, mas com a serenidade de quem compreende que a ignorância ainda é uma forma de sofrimento. Que sejamos faróis silenciosos em meio à tempestade — acolhendo, instruindo, perdoando.

A morte, por mais que doa, é sempre sagrada. Ainda mais quando se trata de alguém que entregou sua vida ao serviço espiritual. O julgamento definitivo não cabe a nós, mas a Deus — e Ele, sabemos bem, julga com amor, nunca com desprezo.

Que a nossa luta, então, não seja contra pessoas, mas contra as sombras que ainda habitam em nós.

Regih Silva

21 de abril de 2025

O VAZIO DO TRONO



A partida de um Pontífice não é uma surpresa para os olhos que já aprenderam a contemplar o inevitável. Espíritos em missão, como são quase sempre os ocupantes da Sé de Pedro, carregam o peso de séculos de tradições e expectativas, tentam — dentro de seus limites humanos — dialogar com as sombras de um mundo ainda profundamente materialista, muitas vezes enredados no emaranhado político do planeta, que, de tempos em tempos, decide transformar religião em bandeira e não em altar.

No entanto, o que mais preocupa não é a morte em si, mas sim o que ela deixa em aberto: o vazio do trono.

E, em tempos como os que vivemos, onde a polarização é o tempero amargo da convivência social, o risco que se desenha no horizonte espiritual é o de vermos a cúpula da Igreja mergulhar, ainda mais profundamente, no abismo do extremismo.

A morte de um líder equilibrado pode, inadvertidamente, abrir espaço para que os espíritos menos amadurecidos, encarnados e desencarnados, tentem influenciar as escolhas, empurrando a humanidade para o endurecimento das ideias, o fechamento dos corações e a negação do diálogo fraterno.

No mundo espiritual, companhias invisíveis já se movimentam. Não são apenas os cardeais que se reúnem em conclave: espíritos nobres e sombras perturbadas se aproximam, influenciando pensamentos, moldando intenções, em uma batalha sutil que decide mais do que um nome — decide a atmosfera moral de todo um ciclo para o planeta.

Resta saber, porém, se o trono que agora permanece temporariamente vazio, continuará simples, despido de adornos e de ostentações mundanas, ou se voltará a brilhar com o ouro que sempre fascinou as vaidades humanas e distanciou o altar do exemplo do Cristo, que preferiu a manjedoura aos palácios. Essa decisão não se limitará ao estilo de um sucessor, mas refletirá o espírito que inspira o tempo em que vivemos.
A Terra, como escola bendita, vive tempos de grandes transições. A sombra do extremismo, seja religioso, político ou ideológico, é o último suspiro de velhas estruturas que não aceitam morrer. Quando uma instituição como o Vaticano se vê na encruzilhada da escolha, é também o próprio mundo que está sendo testado: entre a rigidez que exclui e a misericórdia que acolhe.

O Espiritismo, com sua lente que atravessa o véu, nos ensina que nenhuma escolha se dá ao acaso. Os bastidores do mundo espiritual trabalham incessantemente para influenciar a humanidade, respeitando o livre-arbítrio, mas também inspirando as consciências que se mantêm abertas ao bem e à sabedoria.

Não há acaso nas grandes transições. E o próximo Papa, seja quem for, será um reflexo daquilo que a humanidade, em seu conjunto, ainda precisa aprender — ou reaprender.

O mundo pede líderes que saibam servir e não se impor. Que saibam escutar mais do que falar. 
Que saibam agir como pontes e não como muros.

Que o Cristo, ainda e sempre, seja o verdadeiro Pastor, mesmo quando os homens se perdem nas disputas pelo cajado.


Regih Silva 

19 de abril de 2025

A FARSA CONTINUA: A FALSA MÉDIUM ENGANA, O ESPIRITISMO ESCLARECE

 


Infelizmente, mais uma vez, a falsa médium retornou a atuar — agora, em minha terra. Veio ao Recife para oferecer mais um espetáculo com roupagem espiritualista, porém, como de costume, absolutamente desvinculado dos princípios sérios e consoladores do Espiritismo. Sua apresentação ocorreu na Concha Acústica da UFPE, no dia de hoje: 19/04/25.

A palestra? Nada de novo. Um amontoado de conceitos místicos, desordenados e sem qualquer compromisso com a codificação kardequiana. A coerência doutrinária, que deveria ser o alicerce de qualquer exposição espírita, simplesmente não existiu.

Como é de praxe em suas apresentações, não faltaram os "recadinhos espirituais". 

Para impressionar os corações desavisados, bastou a velha prática de recolher previamente, pelas redes sociais, informações sobre desencarnados. A multidão, infelizmente, sem o devido discernimento, saiu convencida de que presenciara um verdadeiro fenômeno mediúnico.

Lamentavelmente, muitos desconhecem as diversas denúncias e provas que expõem seu comportamento fraudulento. Outros, mesmo diante de fartos indícios, ainda optam por acreditar que ela é vítima de difamação.

Aos que permanecem crédulos, faço aqui mais um convite à reflexão: onde estão as provas que ela mesma se comprometeu publicamente a apresentar, após a veiculação da reportagem do UOL? Cinco meses se passaram e, até agora, silêncio absoluto.

Assumiu, como sempre, o papel de vítima — chegou a acusar e, pasmem, processar autores e canais que ousaram questioná-la — mas provas que atestassem a autenticidade de suas supostas faculdades mediúnicas, jamais apresentou.

Eu, pessoalmente, já a denunciei, bem como a outros que seguem pelo mesmo caminho, em nosso canal facespírita — os vídeos estão disponíveis para quem desejar conferir: 
Vídeo 1 e vídeo 2 E afirmo, sem receio: não temo processos. Caso venha a ser judicializado, solicitarei em juízo que ela e eu, em condições sérias e controladas, comprovemos nossas faculdades mediúnicas.

Que possamos sempre lembrar que o verdadeiro Espiritismo é pautado na razão, no estudo e na vivência moral. O médium sincero não teme exame, pois sua fé é edificada sobre a verdade e o compromisso com Jesus e os bons espíritos.

Regih Silva




17 de abril de 2025

A REENCARNAÇÃO E A BÍBLIA: A VERDADE QUE MUITOS NÃO QUEREM VER


Chegou ao nosso conhecimento uma pregação de um famoso frei, atualmente queridinho dos extremistas, em que ele afirmava que a reencarnação não está na Bíblia. Certamente, ele deve ter procurado a palavra "reencarnação" e, como era de se esperar, não a encontrou. De fato, o termo foi cunhado por Allan Kardec no século XIX. Mas será que a ausência da palavra implica na inexistência do conceito?

Se assim fosse, deveríamos negar também a palavra "Trindade", que igualmente não aparece na Bíblia e, no entanto, é amplamente aceita no Cristianismo. A verdade é que o sentido da reencarnação está presente nas Escrituras, mas muitos teólogos, padres, freis e pastores que estudaram os textos originais em hebraico e grego parecem ocultar ou negar essa realidade.

O Sentido Reencarnacionista nas Escrituras

Vejamos algumas passagens que trazem claramente a ideia da reencarnação:

  1. João Batista e Elias - Em Mateus 11:14, Jesus diz: "E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir". Aqui, Cristo está afirmando que João Batista é a reencarnação de Elias. O mesmo é reforçado em Mateus 17:12-13: "Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram". Os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista.

  2. A pergunta dos discípulos sobre o cego de nascença - Em João 9:2, os discípulos perguntam: "Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?" Se o homem nasceu cego, como poderia ter pecado antes de seu nascimento? A única explicação lógica é que os discípulos acreditavam na reencarnação, pois pensavam que ele poderia estar colhendo consequências de vidas anteriores.

  3. Jesus e Nicodemos - No diálogo com Nicodemos, registrado em João 3:3-7, Jesus declara: "Em verdade, em verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus". Nicodemos questiona: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre de sua mãe e nascer?" Jesus responde: "Em verdade, em verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo".

No Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 4, Allan Kardec esclarece que a expressão "nascer de novo" não se refere ao batismo, mas à reencarnação. Se fosse apenas um renascimento espiritual por meio da fé, Nicodemos não teria feito uma pergunta tão literal sobre voltar ao ventre materno. O próprio Jesus reforça a necessidade do renascimento, deixando claro que se trata de um novo retorno à vida terrena.

  1. A Restauração de Todas as Coisas - Em Atos 3:21, lemos que "Convém que o céu o contenha até os tempos da restauração de tudo". O conceito de restauração remete à ideia de evolução espiritual por meio de sucessivas experiências terrenas, o que é perfeitamente compatível com a reencarnação.

  2. O Conceito das Gerações no Antigo Testamento - Em diversas passagens do Antigo Testamento, encontramos referências ao retorno das almas em diferentes gerações. Por exemplo, em Êxodo 20:5, Deus afirma: "visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem". Essa afirmação pode ser interpretada como um reflexo da lei de causa e efeito ao longo das reencarnações, pois seria injusto Deus punir inocentes pelos pecados de seus ancestrais sem considerar a reencarnação.

  3. Jó e o Retorno à Vida - No livro de Jó 14:14, ele questiona: "Morrendo o homem, tornará a viver? Todos os dias do meu combate esperarei, até que venha a minha mudança". Esse "esperar pela mudança" pode ser entendido como a preparação para uma nova existência.

  4. Eclesiastes e o Retorno do Espírito - Em Eclesiastes 1:4, lemos: "Geração vai, e geração vem; mas a terra para sempre permanece". A repetição das gerações sugere que os espíritos retornam à matéria em diferentes ciclos de aprendizado.

O Salmo 23 e seu Verdadeiro Sentido

O Salmo 23 é um dos mais conhecidos da Bíblia, mas muitos o interpretam de forma equivocada. Em sua tradução original, encontramos um versículo que reforça a ideia reencarnacionista:

"Adonai é o meu pastor, não me faltará.
Em verdes pastagens me fará descansar.
Para a tranquilidade das águas me conduzirá.
Fará meu espírito voltar/retornar, e me guiará por caminhos justos, por causa do Seu Nome.
Ainda que eu caminhe pelo vale da morte, não temerei nenhum mal, pois Tu estarás comigo.
Teu bastão e teu cajado me confortarão.
Diante de mim prepararás uma mesa, na presença dos meus provocadores.
Tu ungirás minha cabeça com óleo; minha taça transbordará.
Certamente, bondade e benevolência me seguirão, todos os dias das minhas vidas.
E voltarei na casa de Adonai por longos anos."

Portanto, não nos deixemos enganar por argumentos simplistas. A ausência da palavra não anula a realidade do conceito. Quem busca com sinceridade encontrará na Bíblia, e principalmente nos ensinamentos do Cristo, a confirmação de que a reencarnação é uma lei divina a serviço do progresso da humanidade.

Eu, que um dia fui católico, me encontrei no espiritismo, pois ele me mostrou ser Deus de todo perfeito, lhes faço a seguinte pergunta:

Seja honesto, caro leitor(a): sem o sentido da reencarnação, como podemos considerar Deus perfeito e justo diante das aparentes desigualdades da vida? Por que alguns nascem saudáveis, enquanto outros já chegam ao mundo marcados por enfermidades graves? Por que há aqueles que vêm ao mundo com todos os seus membros perfeitos, enquanto outros nascem com deficiências?

E mais: por que algumas pessoas nascem em berços de ouro, enquanto outras enfrentam desde cedo a miséria extrema? Por que uns têm acesso à educação e oportunidades, enquanto outros lutam para sobreviver? Por que alguns vivem uma vida longa e tranquila, enquanto outros partem cedo, vítimas de tragédias inexplicáveis?

Se tivermos apenas uma existência, como explicar esses contrastes sem ferir a noção de um Deus infinitamente bom e justo? Somente a reencarnação nos permite compreender que cada alma traz consigo um passado, e que as experiências da vida atual são frutos de suas escolhas e aprendizados em existências anteriores. Dessa forma, não há privilégios ou castigos arbitrários, mas sim uma lei divina de justiça e amor que nos permite evoluir, reparar erros e progredir espiritualmente.

Regih Silva


14 de abril de 2025

O PERIGO DO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO: LIÇÕES DE JESUS PARA OS TEMPOS ATUAIS



 



No cenário atual, onde tantas vozes se levantam em nome da fé, é preocupante notar que algumas delas propagam ódio e intolerância, distorcendo os princípios mais sublimes do Evangelho. Por esses dias, ao meditar em tal situação, escrevi em meu facebook a seguinte frase: "Os que torcem pela morte do Papa Francisco são os mesmos que crucificariam Jesus, caso Ele voltasse." salientando o perigo do fundamentalismo religioso, que, em nome da "pureza da fé", levar o afastamento dos ensinamentos de amor, misericórdia e compreensão trazidos por Cristo.
O Evangelho nos mostra diversas ocasiões em que Jesus advertiu aqueles que, em nome da religião, endureciam seus corações e perseguiam aqueles que não se alinhavam às suas visões dogmáticas. Entre os principais alvos dessas críticas estavam os fariseus e doutores da lei, que muitas vezes usavam a religião para oprimir e condenar ao invés de acolher e transformar. Jesus não hesitou em denunciá-los, chamando-os de hipócritas, pois se preocupavam com a aparência exterior da religiosidade, mas ignoravam a essência do amor e da justiça. Ele os comparou a sepulcros caiados: bonitos por fora, mas cheios de corrupção por dentro (Mateus 23:27-28). Isso nos alerta para o risco de um comportamento religioso que foca na forma e ignora a verdadeira caridade.
Quando Jesus curou no sábado e foi repreendido pelos religiosos da época, Ele demonstrou que a rigidez dogmática não pode se sobrepor ao bem do próximo. Muitos, em nome da tradição, colocam regras acima da compaixão, esquecendo-se de que a essência da fé está no amor ao próximo (Marcos 2:27). Ele também nos advertiu de que não basta proclamar a fé com palavras; é preciso vivê-la. Muitos dos que se julgam "defensores da religião" podem, na verdade, estar negando a essência do Cristo com suas ações (Mateus 7:21-23). Aqueles que torcem pela morte de alguém, seja um Papa, um líder religioso ou qualquer ser humano, mostram que sua fé ainda não se fundamentou no Evangelho do amor.

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, ensina que o progresso é uma lei divina e que a verdade se revela de forma contínua, à medida que a humanidade avança moral e intelectualmente. Entretanto, assim como em qualquer tradição religiosa, há aqueles que, mesmo dentro do Espiritismo, tendem a uma visão rígida e dogmática, esquecendo-se de que os Espíritos superiores ensinam a evolução pelo raciocínio, pela moral e pela fraternidade. Diferente das correntes religiosas fundamentalistas, o Espiritismo não prega a condenação, mas sim a educação e a reforma íntima como caminho para o aperfeiçoamento do ser. Como disse Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo: "Fora da caridade não há salvação." Ou seja, a verdadeira fé se mede pelo amor que se manifesta em atitudes, e não pela imposição de dogmas ou tradições inflexíveis.

O fundamentalista religioso acredita estar do lado da "verdadeira fé" e, por isso, não se reconhece como intolerante ou fanático. Ele se considera guardião dos valores sagrados e vê qualquer mudança como uma "ameaça" às tradições. Isso leva a um fenômeno chamado projeção psicológica, em que ele acusa os outros daquilo que ele próprio pratica. Assim, chama de "hereges" aqueles que pensam diferente e diz que está sendo perseguido quando, na realidade, ele mesmo é o perseguidor. Os fundamentalistas dizem seguir Jesus, mas só horam ou citam o Velho Testamento e suas práticas controversas para justificar seus radicalismos. Assim como os fariseus da época de Cristo, utilizam passagens isoladas da Escritura para legitimar preconceitos e endurecimento moral, ignorando o Evangelho do amor e da misericórdia trazido pelo Mestre (Mateus 9:10-13).

Os que desejam a morte do Papa Francisco pertencem majoritariamente a setores de extrema direita, que o acusam de ser um Papa comunista devido às suas posições progressistas dentro e fora da Igreja. Suas críticas surgem porque Francisco enfatiza a necessidade de acolhimento e inclusão, em oposição a uma visão exclusivista da fé. Ele defende os pobres e marginalizados, denuncia as injustiças sociais e critica a exploração econômica, o que é visto como uma afronta aos interesses daqueles que atrelam a religião ao poder político e econômico. Sua abordagem visa resgatar uma Igreja mais cristã e menos dogmática, centrada na compaixão e na justiça social.

Entre as principais decisões do Papa Francisco que reforçam esse ideal cristão, podemos destacar:

  • A defesa da ecologia e da preservação ambiental, como expresso na encíclica Laudato Si’, onde denuncia o impacto do capitalismo desenfreado na destruição do meio ambiente;
  • O incentivo ao acolhimento de imigrantes e refugiados, promovendo uma visão mais humanitária e solidária, em contraposição à política de fechamento de fronteiras defendida por muitos setores conservadores;
  • A valorização do diálogo inter-religioso, buscando construir pontes entre diferentes crenças ao invés de alimentar divisões e conflitos;
  • A revisão de certas posturas da Igreja Católica em relação a temas sociais, como a acolhida de pessoas LGBTQ+, reforçando que ninguém deve ser marginalizado por sua identidade ou orientação sexual;
  • A luta contra o clericalismo e a busca por uma Igreja menos burocrática e mais comprometida com a caridade, aproximando-se do exemplo de Jesus e afastando-se de estruturas rígidas que historicamente favoreceram abusos e privilégios.
Essas atitudes, longe de serem um sinal de alinhamento político, são reflexo de um cristianismo autêntico, que prioriza o amor e a justiça social. No entanto, para aqueles que desejam manter uma visão tradicionalista e autoritária da fé, Francisco se torna uma ameaça, assim como Jesus foi para os fariseus de sua época.

Ser cristão não é apenas pertencer a uma religião ou defender tradições, mas agir conforme os princípios do Cristo. Quando alguém deseja a morte de um semelhante, ainda que discorde dele, demonstra que está distante do verdadeiro espírito cristão. O Espiritismo, como doutrina progressista, nos ensina que a fé deve ser raciocinada e que a prática do bem está acima de qualquer sectarismo religioso. Allan Kardec deixou claro que o verdadeiro espírita se reconhece não pelo que diz acreditar, mas pelo esforço que faz em se tornar uma pessoa melhor a cada dia.

Como nos ensina afrase atribuída ao Chico Xavier: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim."

Que possamos, então, cultivar um cristianismo vivo e operante, onde o amor, a compreensão e a fraternidade sejam as verdadeiras marcas da fé. Que sigamos os passos de Jesus com humildade e coerência, construindo um mundo onde a religiosidade seja sinônimo de paz e renovação interior.


Regih Silva


11 de abril de 2025

ENTRE ALDO E CHICO: MEMÓRIAS DE UM DESPERTAR ESPIRITUAL

 


Saudades. Essa é a palavra que resume o que sinto do meu amigo, professor e mestre: Aldo Oliver. Se não fosse por ele, talvez eu ainda estivesse vinculado à liderança católica.

Foi com sua orientação que me encontrei no Espiritismo, e desde então venho me dedicando com profundo amor aos ensinos dos Espíritos Superiores. Dentre tantos, um nome se destaca com luz própria: Chico Xavier.

A primeira vez que ouvi falar sobre Chico Xavier foi, se não me falha a memória, em 1995. Um especial do Globo Repórter homenageava sua trajetória. Coincidentemente, a TV Globo exibia na mesma época o remake da novela "A Viagem", que abordava de forma sensível os temas da vida após a morte e da reencarnação.

Na época, eu tinha apenas 13 anos, mas aquele conteúdo ressoou profundamente comigo. Desde os 4 anos de idade, eu já tinha contato com Espíritos, além de trazer vivas recordações da minha última existência como padre católico. Era comum, durante as noites, em meu quarto, receber visitas espirituais de antigos companheiros de convento — inclusive do próprio Aldo.

Dentre todos os que conheci no caminho espírita, Chico Xavier permanece, para mim, o maior exemplo de cristandade contemporânea. Sua simplicidade, amor e fidelidade ao Evangelho de Jesus e à Codificação Espírita são inigualáveis.

Duas frases atribuídas a ele me marcaram profundamente, pois revelam muito da sua essência:

"Eu desceria à Terra para amar uma serpente."

"Chore menos, sue mais."

Essa última, inclusive, costumo chamar de Lei Chico Xavier — uma síntese de esforço, ação e fé.

Tive a oportunidade de estar com Chico em desdobramento espiritual por mais de três vezes. Na primeira delas, algo marcante aconteceu: ele se apresentou como Chico, mas à medida que conversávamos, começou a se transfigurar em Allan Kardec.

Emocionado, ouvi dele uma frase que carrego como missão:

"Penso que a maneira que você pode nos ser grato é divulgando o Espiritismo."

Naquele instante, compreendi a profundidade de meu compromisso com a divulgação séria, fiel e responsável da Doutrina Espírita. Se já me empenhava antes, imagina depois de um pedido como esse?

Esse propósito se concretizou, entre outras formas, através do grupo Facespírita, que nasceu com a proposta de estudar, refletir e divulgar o Espiritismo com Jesus, Kardec e Chico como nossos pilares fundamentais.

Inclusive, em nosso quinto aniversário, Chico nos enviou uma mensagem especial, endereçada aos membros do grupo. Um presente espiritual que guardamos com carinho e reverência.

Por isso, Facespírita não é apenas um nome. É um símbolo de fidelidade à Doutrina Espírita pura e simples, sem mistificações, sem desvios, sem personalismos. Fora desses três pilares — Jesus, Kardec e Chico — o que se encontra são apenas riscos e desvios do caminho seguro.

Portanto, escrever essas palavras é, para mim, um exercício de memória, gratidão e reafirmação de propósito. Tudo o que vivenciei e compreendi ao longo do tempo — graças à presença de amigos espirituais como Aldo Oliver e à luz imensa de Chico Xavier — me conduziu a este momento.

Seguimos juntos, estudando, refletindo e divulgando o Espiritismo, fiéis à sua essência e ao chamado de amor que nos une.

 Assim seguimos, com  diz o irmão menor: Com a luz divina no coração e o Espiritismo como farol.

Regih Silva

9 de abril de 2025

O PERIGO DOS CHARLATÕES: QUANDO A MENTIRA SE DISFARÇA DE ESPIRITUALIDADE



Creio que ainda em 2022, fui alertado pela espiritualidade amiga sobre a nova onda de charlatães que surgiria. Eles substituiriam a psicofonia pela chamada “canalização”, trocariam espíritos por extraterrestres, guardiões e transformariam casas e centros espíritas em grupos sem qualquer compromisso com a verdade. 

A mentira correria solta.

Um exemplo marcante é o do Pedro Augusto um suposto médium que alega dar passividade a exus, pombas-giras, extraterrestres e, pasmem, até a Jesus e Deus! Seu misticismo fraudulento mistura tudo em um verdadeiro balaio. Às vezes, chego a pensar que, antes de ser um farsante, trata-se de um caso típico para a psiquiatria. Em todo caso, não é uma pessoa confiável. Teve a audácia de afirmar ser a reencarnação de Allan Kardec – mais uma vez, pasmem os senhores!

Mas ele não está sozinho. Há muitos outros dentro do meio espírita e espiritualista, verdadeiros “coachs” do ocultismo, à la Pablo Marçal. Muita mentira, pouquíssima verdade e um enorme interesse financeiro por trás. Desde os tempos de Kardec, essa gente já existia, e o próprio codificador, sempre que possível, desmascarava-os sem hesitação. E nos advertia: "Se há verdadeiros profetas, há também os falsos e ainda em maior número, que tomam os devaneios da própria imaginação por revelações, quando não se trata de mistificadores que o fazem por ambição."

Além do evidente charlatanismo, há um erro doutrinário grave na alegação de que um médium pode dar passividade a espíritos de ordens tão distintas, especialmente a Jesus e Deus. Segundo a codificação espírita, os espíritos se comunicam dentro dos limites de sua afinidade fluídica e moral com o médium. Espíritos inferiores só se manifestam por meio de médiuns cuja sintonia moral e fluídica lhes permite essa influência. Da mesma forma, espíritos elevados necessitam de médiuns moralmente preparados, com propósitos sérios e desinteressados.

Em O Livro dos Médiuns, Kardec ensina que "os Espíritos superiores não se prestam a dar espetáculos e se afastam dos que buscam desvirtuar sua missão com frivolidades ou interesses materiais." Ora, se isso vale para os espíritos elevados, quanto mais para Jesus, um Espírito puro, cuja presença não se manifesta por via mediúnica comum, mas sim por inspiração profunda àqueles que realmente se afinam com sua mensagem.

Sobre Jesus, O Evangelho Segundo o Espiritismo deixa claro que sua missão na Terra foi única, e ele não se manifestaria de maneira banal ou sem uma razão grandiosa. Qualquer alegação de sua presença constante em reuniões mediúnicas não condiz com o que ensina a Doutrina Espírita.

Já em relação a Deus, Kardec é categórico: "Deus não se comunica diretamente com os homens; Ele lhes envia seus espíritos para transmitir sua vontade." (O Livro dos Espíritos, questão 11). Portanto, qualquer um que afirme "receber" Deus em psicofonia ou incorporação não apenas ignora a doutrina espírita, mas demonstra ou fraude, ou delírio.

O perigo desses falsários é evidente: exploram a fé alheia, abusam de conceitos legítimos e distorcem ensinamentos espirituais para benefício próprio. Cabe a cada um de nós manter a vigilância e o discernimento, para que a verdade não seja soterrada pelo espetáculo da mentira.

Regih Silva




8 de abril de 2025

O QUE TEM AFASTADO PESSOAS DO ESPIRITISMO? UM CONVITE À REFLEXÃO E À AUTOCRÍTICA

 


Recentemente, uma publicação em uma rede social nos chamou atenção ao trazer um dado importante: segundo pesquisa do Datafolha realizada em São Paulo, cerca de 10% dos espíritas migraram para o meio evangélico em 2024. O número, por si só, é expressivo, mas mais importante do que os números são as perguntas que a página fez:

“O que tem afastado tantas pessoas do Espiritismo? Estaria faltando acolhimento em nossos centros? Temos oferecido pouco aprofundamento doutrinário? Estaríamos sendo julgadores e excessivamente rígidos? Ou será que estamos falhando na vivência real do Evangelho?”

Essas questões são válidas e merecem reflexão sincera e desapegada de vaidades institucionais. Afinal, o Espiritismo, que se apresenta como o Cristianismo redivivo, não pode se furtar ao compromisso de se autoanalisar com honestidade. E essa análise começa por reconhecer que nem todos os que frequentam casas espíritas, de fato, compreenderam o espírito da doutrina que ali se estuda.

Muitos dos que se afastam talvez nunca tenham compreendido, de fato, a essência libertadora do Espiritismo. Estiveram presentes fisicamente, mas espiritualmente ainda estavam presos a estruturas religiosas antigas, marcadas pelo medo, pela culpa, pela punição e pela terceirização da responsabilidade.

Ao encontrarem em algumas seitas evangélicas uma linguagem mais simples, um ambiente mais emocional e uma fé calcada em promessas imediatistas, identificaram ali um terreno mais compatível com suas expectativas religiosas — muitas vezes ainda ancoradas no Antigo Testamento e na ideia de um Deus vingador e exclusivista. Não julgamos, apenas constatamos uma realidade evolutiva: cada consciência está em seu tempo.

Vale ressaltar que quando mencionamos “seitas evangélicas”, não nos referimos às diversas congregações evangélicas sérias, nem aos nossos irmãos evangélicos sinceros que verdadeiramente vivem os ensinamentos de Jesus. Pelo contrário, reconhecemos e respeitamos o esforço de muitos em viver o Evangelho com amor e dedicação. A crítica aqui se direciona a movimentos religiosos que se utilizam do nome de Cristo para difundir o medo, a intolerância, a barganha espiritual e a manipulação emocional.

O Espiritismo não se propõe a agradar conveniências. Ele nos chama à responsabilidade pessoal, afirmando, como disse Jesus: "A cada um segundo as suas obras" (Mateus 16:27). A doutrina espírita não oferece salvação fácil, tampouco perdão mágico. Ela convida à reforma íntima, ao autoencontro, à superação das próprias imperfeições.

Essa proposta é, para muitos, desconfortável. Requer estudo, esforço, vigilância e, sobretudo, humildade para reconhecer que o maior inimigo não está fora, mas dentro de nós. E isso exige maturidade espiritual.

Jesus, sabendo das limitações dos seus discípulos e do tempo necessário à compreensão das verdades espirituais, prometeu enviar um Consolador, segundo o Evangelho de João:

“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir.”
(João 16:12-13)

O Espiritismo é esse Consolador prometido. Veio explicar, ampliar, recordar e vivificar os ensinamentos de Jesus. Veio nos lembrar de que Deus é Amor e Justiça, e que somos todos filhos do mesmo Pai. Veio nos tirar das sombras da superstição e nos reconduzir à luz da fé raciocinada.

É preciso reconhecer que, se pessoas se afastam do Espiritismo por não se sentirem acolhidas, ou por não encontrarem respostas profundas, a responsabilidade é, em parte, nossa. Estamos, de fato, vivendo o Evangelho?

Nossas casas espíritas são ambientes de amor, escuta e caridade? Ou nos tornamos rígidos, teóricos e frios?

O conhecimento doutrinário é fundamental, mas se não vier acompanhado de vivência evangélica, ele se torna árido e estéril. É necessário evangelizar o coração, não apenas o intelecto.

Não se trata de atrair multidões, mas de tocar consciências. Não se trata de agradar, mas de transformar. E isso só é possível pelo exemplo.

Contudo, o Espiritismo é uma doutrina de luz, mas essa luz só ilumina quando acendemos o próprio interior. Não devemos temer as perdas numéricas, mas refletir sobre o que estamos oferecendo — e como estamos oferecendo. O verdadeiro espírita se reconhece pelo esforço que faz para domar suas más inclinações.

Se queremos que o Espiritismo permaneça como farol seguro, devemos torná-lo vivo em nossas atitudes. O Evangelho não se prega apenas com palavras, mas com gestos.

Que o Consolador prometido continue nos inspirando — e que nós sejamos dignos de levá-lo adiante com humildade, fé e caridade.

 

Regih Silva

7 de abril de 2025

A SÍNDROME DE ESTOCOLMO E O COMPLEXO DE CULPA À LUZ DO ESPIRITISMO



A Síndrome de Estocolmo, na psicologia, caracteriza-se pela relação de dependência emocional e identificação da vítima com seu agressor. No campo espiritual, podemos traçar um paralelo com o complexo de culpa que muitas almas desencarnadas carregam, mantendo-se presas ao sofrimento e à expiação, sem avançar para a reparação de seus atos.

No livro O Céu e o Inferno, Allan Kardec esclarece que o verdadeiro caminho da redenção espiritual passa por três estágios fundamentais:

  1. Arrependimento - O reconhecimento sincero do erro cometido.

  2. Expiação - A vivência das consequências dos atos praticados, que leva à reflexão e ao aprendizado.

  3. Reparação - Ações concretas para corrigir o dano causado, promovendo o bem onde antes houve o mal.

Kardec destaca que "o arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa". Dessa forma, apenas sofrer não basta para obter o perdão divino; é necessário agir de maneira transformadora.

Infelizmente, tanto encarnados quanto desencarnados podem permanecer estacionados na expiação, acreditando que o sofrimento em si é suficiente para a purificação. Esse comportamento reflete o complexo de culpa, onde a alma se considera indigna de redenção e, ao invés de buscar a evolução, se afunda no vitimismo. Tal atitude é inútil perante a justiça divina, pois não contribui para a verdadeira reabilitação espiritual.

Na Síndrome de Estocolmo, temos o algoz de ontem acreditando que deve padecer dos equívocos que realizou, sendo vítima no agora. Ledo engano. O Espiritismo nos ensina que não há justiça na troca cega de papéis entre opressor e oprimido; a verdadeira redenção está na transformação interior e na prática do bem.

Podemos exemplificar isso com o caso de um senhor que, em uma existência passada, foi um senhor de escravos cruel e impiedoso. Ao reencarnar, por remorso inconsciente, pode atrair situações de sofrimento extremo, aceitando-se como explorado ou humilhado. No entanto, essa vivência, se não acompanhada de um real esforço de reparação, apenas prolonga o ciclo de dor. A verdadeira redenção viria se ele, compreendendo seus erros, se tornasse um defensor da dignidade humana, trabalhando em prol da igualdade e educação, por exemplo.

Para exemplificar, podemos pensar também em uma mulher que, por diversas circunstâncias, tenha cometido um aborto e, mais tarde, por questões físicas, não possa mais engravidar. Se ela reconhece seu erro e deseja se redimir, sua reparação pode vir pela adoção de uma criança ou pela dedicação à educação infantil, auxiliando outras vidas. Dessa forma, ela não apenas aceita a responsabilidade de seu ato, mas transforma sua existência em um canal de amor e aprendizado.



Pelo complexo de culpa, muitos espíritos têm sofrido e per
manecido presos nas zonas umbralinas, sem aceitar o caminho da reparação. A obra de André Luiz, psicografada por Chico Xavier, traz vários relatos dessa realidade. Em Nosso Lar, vemos o caso de muitos desencarnados que se fixam no Umbral, envoltos em sentimentos de culpa e autopenitência, recusando-se a buscar o amparo e a evolução. O próprio André Luiz, inicialmente, encontra-se nessa situação, sofrendo os tormentos de sua consciência e acreditando-se indigno do perdão. Somente ao reconhecer suas falhas e aceitar a oportunidade de aprendizado é que ele consegue se libertar e dar início à sua jornada de reabilitação.

A reencarnação, como expressão da justiça e misericórdia divinas, nos possibilita novas oportunidades de reparação. Deus não deseja o sofrimento eterno de suas criaturas, mas sim seu progresso. Assim, a verdadeira "salvação" não está no padecimento, mas na reconstrução do bem onde antes houve o erro.

O Espiritismo nos ensina que somos todos falíveis e passíveis de erro, mas também nos convida à reflexão e à responsabilidade por nossos atos. O complexo de culpa apenas nos aprisiona, enquanto a verdadeira libertação espiritual está na consciência tranquila e no amor ao próximo. Somente através da reparação podemos efetivamente apagar os traços de nossas faltas e nos elevar na escala evolutiva rumo à perfeição.

Regih Silva

2 de abril de 2025

CHICO XAVIER: O HOMEM QUE NOS ENSINOU A AMAR





Se Francisco Cândido Xavier estivesse entre nós, completaria mais um ano de vida neste 2 de abril. Mas a verdade é que Chico nunca nos deixou. Sua presença, ainda que invisível aos olhos, continua a iluminar corações e a inspirar aqueles que buscam a paz em um mundo turbulento.

Diante da polarização feroz que assola o Brasil e o mundo, onde o ódio parece ter se tornado um idioma universal, é inevitável perguntar: o que diria Chico Xavier? Como reagiria esse homem que viveu a caridade em sua forma mais pura, sem jamais levantar a voz para dividir, mas sempre para acolher?

Chico nos ensinou que a maior revolução é a do amor. Não um amor teórico, preso às páginas de livros, mas um amor em ação, feito de gestos simples e profundos. Ele não se prendia a rótulos ou a discursos inflamados. Preferia o silêncio da prece ao barulho da intolerância. Se estivesse aqui, provavelmente nos pediria que olhássemos menos para as diferenças e mais para o que nos une.

Certa vez, ao ser questionado sobre sua postura diante das injustiças do mundo, Chico respondeu com humildade que a verdadeira transformação começa dentro de nós. Ele não incentivava o conformismo, mas sim a reforma íntima, a paciência ativa que move montanhas com a força do bem.

Seu compromisso com a verdade também era inabalável. Em uma época em que tanto se fala sobre a autenticidade dos fenômenos mediúnicos, estudos científicos foram conduzidos para verificar a veracidade de suas mensagens. Entre eles, um trabalho conduzido por pesquisadores norte-americanos e até uma análise mencionada por especialistas ligados à NASA apontaram a complexidade e coerência dos escritos de Chico, desafiando qualquer explicação convencional.

Mas Chico nunca precisou da validação da ciência para seguir sua missão. Sua maior prova estava na forma como viveu: com desapego, humildade e compaixão.

Nos últimos anos, alguns tentam associá-lo ao apoio à ditadura militar, baseando-se em sua participação no programa Pinga-Fogo, onde sugeriu que os brasileiros orassem pelos militares. Mas quem conhece a doutrina espírita sabe que a prece nunca foi um sinal de apoio incondicional, e sim um ato de compaixão cristã. O Espiritismo nos ensina que devemos orar até pelos nossos adversários, pois todos são espíritos em evolução.

Além disso, um resgate histórico importante revela outra faceta de Chico. Em 1935, antes mesmo da ditadura, ele psicografou mensagens publicadas pelo jornal O Globo, onde criticava o extremismo e o personalismo na política brasileira, defendendo a democracia como caminho para o progresso da nação. Esses registros mostram que sua essência sempre foi voltada à conciliação e à justiça, nunca ao autoritarismo.

Para compreender a postura de Chico Xavier diante do regime militar, é necessário olhar para o cenário da época com honestidade histórica. Caso uma ditadura do proletariado tivesse sido instaurada no Brasil em 1964, o país poderia ter vivenciado:

  • Censura total da imprensa, permitindo apenas meios de comunicação estatais ou alinhados ao regime.

  • Repressão a opositores, com perseguições e prisões de qualquer movimento político contrário.

  • Nacionalização da economia, onde empresas privadas, bancos e terras poderiam ser expropriados.

  • Repressão religiosa e cultural, proibindo religiões e manifestações consideradas "burguesas".

  • Militância obrigatória, impondo a ideologia socialista no ensino e em diversas instituições.

Diante dessa ameaça, Chico pode ter enxergado o regime militar como um "mal menor" naquele momento. Seu pensamento não se pautava em ideologias políticas, mas na busca pelo equilíbrio e pela paz social. No entanto, o que deveria ter sido um governo transitório se prolongou por 21 anos, trazendo graves consequências como censura, tortura, mortes e a perseguição de muitos inocentes.

E foi justamente para alertar sobre os riscos dos extremos que o espírito de Emmanuel, mentor de Chico, transmitiu diversas mensagens desde 1935, alertando contra qualquer regime autoritário, seja de direita ou de esquerda. Emmanuel sempre deixou claro que o caminho da evolução passa pela democracia e pela liberdade de consciência.

Outro ponto que precisa ser abordado é a forma como, anos após sua desencarnação, alguns supostos "amigos" de Chico ainda tentam interpretar suas palavras conforme suas próprias visões. De tempos em tempos, surgem declarações feitas em seu nome, distorcidas ou fora de contexto, como se ele tivesse tomado partido em questões políticas ou sociais específicas. No entanto, quem realmente acompanhou sua trajetória sabe que Chico jamais impôs suas opiniões e sempre buscou o entendimento entre as diferenças. Ele não pregava o medo, nem alimentava teorias alarmistas, mas sim a esperança e a fé na regeneração do mundo.

Em tempos de radicalismos e discursos inflamados, sua resposta seria clara: amar, compreender, perdoar. O extremismo jamais encontrou espaço em seu coração.

Se hoje, tantos anos após sua partida, ainda nos perguntamos qual seria sua posição diante dos desafios contemporâneos, talvez a resposta esteja na simplicidade de seus gestos. Chico Xavier não escolheria um lado, mas sim a paz. Não atacaria, mas acolheria. Não se exasperaria, mas oraria.

E talvez, se prestarmos atenção, possamos ouvir sua voz suave nos lembrando que, no fim das contas, só o amor constrói.


Regih Silva